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Em 1997, quando eu era uma romântica vintage, fui a Cuba. Foi uma experiência humana única na altura. Nunca tinha estado num país onde, desde 1959, o seu povo não podia sair do país, nem aspirar a ter bens (como carro, ou casa) não podia aspirar a subir na vida, não podia planear viajar. A Cuba de Fidel punha os cubanos a viverem o dia-a-dia sem aspirações.
Na altura achei fascinante a experiência de conhecer um povo aparentemente feliz só por ser independente do capitalismo. As frases pintadas nas paredes eram programáticas, "aquí no queremos amos". Mas essa felicidade do povo era aparente, porque na prática os cubanos pediam-nos em casamento para poderem sair do país e ficavam dentro de água, nas praias que estavam proibidos de frequentar, o dia inteiro, só para venderem aos turistas um jantar de lagosta em sua casa por 10 dólares. Eram os restaurantes privados possíveis. Tudo era do Estado. "Pobre pero del Estado".
Lembro-me de reparar que as cubanas assistiam a novelas mexicanas (proibidas pelo Fidel porque criavam sonhos) em que o enredo era composto por grandes milionários e mulheres que casavam ricas e ficavam donas de fazendas. As cubanas suspiravam, não tanto pelas histórias de amor, mas pela possibilidade de ficar rica de um dia para o outro. Era uma coisa que só em sonhos podiam aspirar.
Serve isto para dizer que hoje, quando vejo filmes ou séries, sejam eles dos anos 80, 90, 2000 ou de 2019, sinto-me a ver uma ficção, um filme datado, uma realidade anacrónica. Tudo desconfinado, sem máscara, aeroportos cheios, grandes convívios, restaurantes cheios, conversas animadas a menos de 2 metros de distância, beijos, abraços. Parece uma realidade do século passado, algo que ficou lá atrás e que só em sonhos podemos aspirar.
Finalmente compreendi os cubanos da Cuba dos anos 90, quando aspiravam à liberdade de terem sonhos. Sinto a mesma nostalgia que as cubanas do regime do Fidel. Nostalgia de um tempo que nos parece longíquo e que não sabemos se volta a ser o que um dia já foi.