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Pedro Cabrita Reis é o entrevistado desta semana do Jornal Económico. Partilho aqui algumas das suas frases mais interessantes, na minha opinião.
"Aquilo que mais me horroriza é o bom senso – aquela papa indefinida em que a maioria silenciosa da alma e da política e da inteligência se atola e na qual se esconde para se defender. Ao artista compete-lhe estilhaçar o bom senso, sob todas as formas ao seu alcance!"
O MAAT "é um desses muitos espaços que, infelizmente, a meu ver, existem em demasia. São espaços de celebração egomaníaca dos seus arquitetos-autores e não da celebração da arte, que é para isso que os museus deveriam servir. A tal ponto que sabemos que não é um nem dois, mas sim muitos arquitetos que insistem em querer abrir os museus com eles vazios para expor-se a si e à sua própria arquitetura aos olhares do público. Há outras maneiras de mostrar a arquitetura. Um museu deve abrir com arte. Provavelmente, estarei a ser um pouco antiquado ou reacionário, mas estou firmemente convicto, e dificilmente me convencerão do contrário, que a função do museu é ser invisível enquanto arquitetura e servir, sob todas as formas possíveis e imaginárias, a revelação e a exposição da arte".
"Apesar do Trump dizer que hoje em dia a economia americana está mais sólida – e é um facto –, são os chineses que mandam na economia americana porque são eles os detentores da dívida externa. E a economia chinesa ainda está mais sólida do que a americana. Apesar disso tudo, a bolha de 2008, do Lehman Brothers e outros, foi apenas um sintoma de uma crise que já se avolumava desde o princípio dos anos 80, desde que os yuppies começaram a mandar na economia. Ou seja, vivemos em crise há 30 anos! Dessa crise permanente inferem-se muitas coisas e uma delas é que a arte é um valor de refúgio, e cada vez mais".
"Não quero, de forma alguma, criar ruturas. Uma vez a cada cem anos aparece um Marcel Duchamp, põe um urinol na parede e ficamos todos satisfeitos. Porreiro, já nos livrámos do problema dos urinóis, agora vamos continuar a pintar uns quadros. Sou um artista clássico. Gosto muito de Marcel Duchamp, mas não tenho interesse em fazer de Marcel Duchamp. Há muitos jovens que, infelizmente, não tiveram ainda a oportunidade – não têm tempo de vida ou de acumulação de experiências suficientes – para perceber que a busca da novidade, por si, não leva a lado nenhum. O que é preciso buscar, de facto, é um lugar interior a partir do qual se possa projetar um pensamento, um desejo, um olhar. Os artistas clássicos reconstroem, enquanto os artistas que ambicionam ser contemporâneos propõem-se destruir porque acham que vão inventar uma coisa nova".