Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Há um hábito em Portugal, quando não se gosta de alguém difama-se (arma da cobardia), e se não se tem nada a dizer de concreto, diz-se logo "tem mau feitio". Há quem invente e espalhe famas mais bizarras e mais graves, ou apenas um: "é maluco (a)"; "é estranho (a)". "não é muito normal"; "tem um feitio complicado", "é insuportável", etc.
Normalmente as pessoas que têm famas muito bem espalhadas raramente correspondem ao que se dela se diz. Criam-se mitos, uns por ignorância, outros deliberadamente por motivos menores. Quando alguém incomoda, porque é melhor, mais inteligente, mais bonito, mais brilhante, trata-se logo de lhe arranjar um rótulo que o diminua. O mundo não aguenta o dom dos outros e em Portugal esta verdade é elevada ao expoente máximo.
A quantidade de ódios sem motivo e sem aderência a factos que por aí pululam é o reflexo de uma sociedade insegura, que nunca se atreve a verificar por si e a pensar por si, e alinha em movimentos colectivos.
Eu, que sempre fui vista como uma pessoa com mau feitio, apesar de não o ter, bem pelo contrário, sempre encarei esse rótulo que me impunham como um pretexto. À falta de melhor...
Sei por isso que 90% das coisas que se diz sobre uma pessoa, e é espalhado para se assumir como verdade, é na verdade mentira. Deve ser por isso que tenho uma apetência especial para gostar de pessoas muito rotuladas. Tenho a certeza que alguma qualidade devem ter e que a maioria do que se diz é mais revelador de quem criou o rótulo do que quem é vítima dele.
Mas isto não é sobre mim, conheço de cor a boa desculpa, que pega quando é dita muitas vezes, muitas vezes ditas por pessoas que têm o defeito que apontam aos outros. Há sempre quem tenha a fama e outros que se escondem na fama dos outros.
Reparo isso agora no ex-primeiro ministro ou na ex-ministra das finanças. Levantam-se vozes, antes insuspeitas, a criticar, não sei bem o quê (normalmente não há motivos concretos nestes movimentos de massas), e com argumentos dos mais inacreditáveis, de tão falsos. Donde vem essa opinião tão uniforme sobre as pessoas?
Desculpem-me mas nutro logo uma simpatia especial por pessoas que são vítimas de movimentos de opinião colectivos. Não consigo evitar.