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No dia que escolhi para me despedir de ti o sol escondeu-se. Era daqueles dias em que o Verão, já cansado, faz uma pausa para recuperar forças.
Corria um vento fresco quase frio e o céu carregava uma cor acinzentada.
O dia todo imaginei o momento em que receberias uma mensagem cuidadosamente pensada nos últimos dias. Decidi mandar por escrito e pensei em enviar uma mensagem gravada, porque a voz é imprescindível. Li-a um sem número de vezes em voz alta. Corrigia-a várias vezes. Queria que fosse uma mensagem de despedida memorável, mas desprovida de tragédia. A gravação não correu bem. Apaguei. Ficou apenas a carta escrita. Já está. Despedi-me. Fechei a porta que teimava em fechar-se. Morte súbita. Bebi três tragos de whisky puro, que arde na gargante e adormece a alma, para me anestesiar.
Depois saí de casa para os meus afazeres. A distração tem um papel fundamental na digestão da tristeza.
Por ironia cruzei-me contigo. Eu de carro e tu a pé. Vinhas com os cigarros na mão, imaginei-te numa urgência a comprar cigarros depois de leres a mensagem. Vi que me viste, olhaste-me duas vezes de soslaio. Pela primeira vez fingi que não te vi. Os meus óculos escuros permitiram-me ver sem ser vista. Não me doeu. Estava anestesiada. A minha mensagem de despedida libertou-me, ainda que tenha deixado um rasto de tristeza que apesar de tudo é mais fácil de lidar. Acabará por passar.
Há coisas que estão predestinadas a ser temporárias. Nós eramos uma dessas coisas. Ambos sabíamos, só fingiamos que não era assim.