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1- Que a medida de Resolução aplicada ao BES foi decidida pelo BCE, quando diz: «Causa-me alguma perplexidade porque é que o BCE foi tão violento com o Banco Espírito Santo e anda com os bancos gregos ao colo, como já terá andado com bancos doutros países. Porque foi tão duro com o BES? Já sei que há um argumento válido que é o facto de os bancos gregos terem capital, mas não terem liquidez e o papel do BCE é dar liquidez, e o BES tinha um problema de capital. De qualquer forma causa-me alguma perplexidade que um banco tão importante no país maravilha dos programa das troika, troika essa do qual fazia parte o BCE e não viu nada do que se passava no BES, tenha tido este tratamento. Os bancos apresentaram 14 planos de capitalização e financiamento à troika, tivemos reuniões trimestralmente e tivemos de responder a perguntas sem fim sobre os tais planos de médio prazo que incluíam uma espécie de testes de stress, tanto trabalho de tanta gente não serviu para nada. O banco que não precisava de capital público estoirou e a troika não percebeu nada».
«A medida de Resolução, que eu penso que foi imposta pelo Governo, mas não posso confirmar, protegeu os contribuintes e os credores seniores do BES, e atirou as responsabilidades pelas percas que poderão vir a haver para cima dos accionistas e detentores de dívida subordinada do BES, o que acho normal, mas também para cima dos accionistas dos bancos concorrentes do BES, eu entendo que não tinha de ser assim, em tão larga escala.
Não concordo com a solução tal como foi desenhada, nem que se diga que se está assim a proteger os outros bancos de risco sistémico. Considero totalmente irresponsável que se atire para cima dos outros bancos, dos seus accionistas e no limite dos seus depositantes, um risco que não é quantificável e que não se consegue delimitar com precisão, se o Novo Banco for muito bem vendido e não houver percas, nós estaremos a falar de uma história com muito sucesso, se não, estaremos perante um grande problema. Aí sim teremos um risco sistémico.
Eu parto do princípio que quando a Resolução foi decidida o Governo e o Banco de Portugal estabeleceram um limite máximo de percas que seriam suportadas pelos bancos concorrentes sem pôr em causa a estabilidade do sistema financeiro, e eu gostava de saber qual é esse valor, e quem suportará as percas que forem superior a esse valor.
Porque se não estabeleceram limite nenhum, e se os bancos concorrentes terão de suportar todas as eventuais percas tenho de concluir que as autoridades decidiram jogar à roleta com o sistema financeiro português».
Paulo Portas respondeu depois a isto: "[Fernando Ulrich] terá dito qualquer coisa como o Governo jogou à roleta com o sistema financeiro. Quando ouvi dizer isto, perguntei a mim próprio: e não terá andado o sistema financeiro a jogar à roleta com o contribuinte português?". A pergunta foi lançada aos deputados seguida com um conselho: "temos de ter alguma humildade".
Uma deputada pergunta-lhe (a Fernando Ulrich): - Porque é que pensa que a Resolução foi uma imposição do Governo? «Porque as alternativas que existiam à Resolução eram todas alternativas que implicariam algum tipo de intervenção do Governo. [Como a nacionalização ou a utilização da linha de recapitalização pública]. Não consigo conceber que essa decisão possa ser sem o Governo saber».
2- Quando responde aos deputados sobre as conversas que teve com o Banco de Portugal sobre as dificuldades do BES e GES: «Senhor Deputado eu não posso violar o sigilo bancário e espero continuar nesta profissão mais tempo». Disse isto para explicar porque não revelava as conversas com o Governador do BdP. Mas no fundo pode entender-se que está a responder não à fusão BCP/BPI. Pois quando diz que espera continuar nesta profissão por muito mais tempo está a perpetuar-se com presidente de um banco e parece que se houver fusão o BCP engole o BPI e quem fica à frente é quase de certeza o Nuno Amado.
Mas disse também: «O BCP tem uma boa equipe, sabe o que está a fazer», a propósito de conversas que teve com investidores institucionais, em que lhe falavam do BCP e da capacidade de pagar os 3 mil milhões de Coco´s e em que o banqueiro do BPI preferia alertar para a fragilidade do BES e GES. O que pode ser um sinal de que há um campo propício para um entendimento com o BCP.
Sobre Angola, pareceu estar muito focado em elogiar o mercado angolano e os reguladores daquele país.
«Sei quem são os clientes do BFA», numa clara defesa das autoridades angolanas perante o caso BESA e desacreditando o argumento, usado de certa forma pelo presidente do BES, de que a opacidade informática e legislativa seria a causa do desconhecimento dos destinatários dos créditos malparados que pesavam cerca de 70% da carteira de crédito do BES Angola.
Sobre a solução implementada por Angola sobre o BES Angola: «Percebo que um empréstimo da casa-mãe ao BESA fosse tratado como se fosse dívida subordinada [e por isso com uma perda de 80%], porque um empréstimo do accionista maioritário durante tanto tempo é normal que tenha sido equiparado a dívida subordinada».
A garantia prestada pelo Governo angolano ao BESA é hoje vista por Fernando Ulrich como uma forma de ganhar tempo, para não estoirarem mais cedo o BES e o BESA logo no fim de 2013.
Apesar da defesa que fez nitidamente de Angola [O BPI tem um accionista angolano e o BFA tem de encontrar uma solução em Angola para diluir o peso da ponderação de risco no capital do BPI], Fernando Ulrich disse que percebe perfeitamente que Angola não esteja na lista de 17 países considerados equiparados em termos de supervisão à União Europeia (essa decisão da UE, não é para a vida, é revista todos os anos). Excluiu que essa mudança tenha a ver com o BESA. É bastante honesto intelectualmente, o presidente do BPI, o que é claramente um ponto a seu favor.
Sobre a atitude de Ricardo Salgado perante os 14 milhões do José Guilherme:
«Não sou um cidadão perfeito, mas fui formatado desde pequenino a não fazer infracções com dinheiro, faço outras, mas com dinheiro não». Esta é uma crítica e um elogio. Um elogio a Pedro Passos Coelho e à sua sinceridade quando diz não ser perfeito. E uma crítica a Ricardo Salgado, porque tinha obrigação de ser "formatado" da mesma maneira que Fernando Ulrich, chamemos-lhe assim (à educação), mas não foi, pelos vistos e a avaliar pelo recebimentos dos 14 milhões vindos de um cliente. O banqueiro chegou mesmo a dizer que se o fizesse era despedido.
Tendo em conta as circunstâncias qual era a alternativa à Resolução?
Responde:
«O BCE podia ter dado tempo e não ter retirado o estatuto de contraparte ao BES com exigência de pagar na segunda-feira seguinte os 10 mil milhões que o banco lhe devia. O normal é dar prazo para um banco apresentar um plano para garantir que cumprem os rácios. Podia-se ter feito a utilização parcial da linha de recapitalização pública. Podia-se ter feito como no Chipre, em que os grandes depositantes do banco e pelos obrigacionistas sénior (tinha de se criar uma lei para isto). [Havia de ser bonito]. Do ponto de vista do desenho das soluções, havia várias maneiras. A solução podia ter uma componente de Resolução tal como foi feita, mas não tudo, esta não podia ser a única solução, e quanto mais o tempo passa e informação tenho mais discordo que essa era a única solução inevitável. Ao Governo e regulador português não poupou tanto como aos angolanos, talvez porque seja estrangeiro em Angola e a cortesia não o permita ser tão crítico, ou talvez porque simplesmente prefira mesmo a actuação do regulador e governo angolano e não tenha tanta admiração pelos seus conterrâneos.
«Esta solução é a que melhor protege os contribuintes, obviamente que sim. Mas não é uma solução única e perfeita».
Sobre o chamado paradigma europeu:
Fernando Ulrich, disse sobre as regras de Resolução «que vão existir a nível europeu, que vão ser aplicadas gradualmente e não de imediato a 100%. Em segundo lugar, como são a nivel europeu a dispersão dos potenciais encargos em caso de problemas é muito maior, não há comparação, não há nenhum país que tenha aplicado uma medida desta a um dos principais bancos. Por outro lado, o tal paradigma europeu também comtempla a possibilidade de os grandes credores do banco e grandes depositantes também participarem no esforço de salvação do banco».
«A história deste caso é que os técnicos de supervisão [europeus] foram fantásticos a analisar ao microscópio e não viram o elefante a passar».
Sobre aquela opacidade informática invocada por Ricardo Salgado para a relação com o BESA, Fernando Ulrich desmentiu que houvesse alguma limitação a que o presidente do banco em Portugal não soubesse tudo o que se passava na subsidiária angolana. À semelhança do que acontece com o BPI/BFA.
Sobre o aumento de capital do BES, que diz, nunca deveria ter havido, dá um leve chega para lá a Carlos Tavares, da CMVM. Aliás mais tarde, a propósito das prospostas deste para criar leis que impeçam o self placemente, ironiza com isso de criar leis e diz se cada um fizer o seu trabalho não são precisas mais leis.
Fernando Ulrich diz que não é por causa dos avisos no prospecto que é defensável o aumento de capital do BES.
Sobre as denúncias da situação perigosa em que se encontrava o BES, Fernando Ulrich, explicou, que o caso BESA devia ter sido motivo de preocupação desde 2009. «Já no Fundo do ES Liquidez, a partir do fim de 2011, aquilo é a demonstração pública da vulnerabilidade e dificuldade de financiamento do GES. Quem tem uma dívida tão grande para refinanciar e vai usar o banco que controla, para pôr nos clientes de retalho essa dívida e a curto prazo, para no fundo financiar capital de empresas do grupo, é porque não se consegue financiar em mais lado nenhum e nesse caso estamos a falar de 2012. Foi no fim de 2012 que tomei consciência da fragilidade financeira do GES». Em Maio de 2013 falou com Vítor Gaspar que em 48 horas lhe enviou uma pessoa do Banco de Portugal para ouvir os alertas.
Tal como revelado no livro O Fim da Era Espírito Santo: Fernando Ulrich foi o primeiro a alertar para o caso GES/BES.
Em Julho de 2013 o fundo ES Liquidez tinha mais de mil milhões de euros de papel comercial do grupo. Depois de imposto pela CMVM a redução da exposição, lá ficaram os clientes com esse presente envenenado. Ora onde haveriam de pôr essa dívida? Não tinham mais a quem recorrer senão aos clientes.