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Estive hoje a ouvir o debate quinzenal no Parlamento, foi o primeiro debate quinzenal de Costa com o novo líder da bancada do PS, Fernando Negrão, fiquei desconcertada com os elogios rasgados de António Costa a Fernando Negrão e vice-versa. A partir daí tudo me pareceu encenação.
"Queria começar por agradecer as palavras que dirigiu à nova banca do PSD na semana passada" apresentou-se assim Fernando Negrão.
António Costa, que fez os agradecimentos da praxe a Pedro Passos Coelho e a Hugo Soares, dirigiu-se então a Negrão: "Os últimos são os primeiros (...) queria saudar a forma como vê este debate, não como um duelo quinzenal, mas como fazendo parte do exercício democrático (...) e é com gosto que vejo estes debates retomarem a normalidade". Retomarem a normalidade?! Isso significa que se tinha perdido a normalidade? Quando?
Fernando Negrão teve depois um momento muitíssimo nobre quando deu um cumprimento especial a Pedro Passos Coelho e dizer-lhe que "a História saberá fazer-lhe justiça". Aplaudido pelos centristas e pelos social-democratas.
Depois começou a sua intervenção a dizer "Senhor primeiro-ministro será possível nas grandes questões de interesse nacional nós dialogarmos e chegarmos a acordo" e mostrou a "disponibilidade da banca", o que é uma introdução, que diga-se de passagem, na augura grande oposição no debate, mesmo que depois tenha dito entre elogios ao primeiro-ministro socialista que ia "fazer oposição firme". Veja-se o que disse Fernando Negrão: "Senhor primeiro-ministro obviamente também quero cumprimentar todo o Governo, mas queria dizer-lhe que esta é uma bancada da oposição e sendo uma bancada de oposição irá exercer essa oposição com firmeza", soou a desculpe caro amigo, mas vou ter de o confrontar aqui em público.
As perguntas que o novo líder da bancada do PSD escolheu para se estrear no debate foram sobre a entrada da Santa Casa no capital do Montepio. O tema não é mau, mas as perguntas foram bastante fracas e facilmente rebatidas e de forma inteligente pelo "adversário político" formal, António Costa (mas que pelos elogios à entrada na prática mais parecia mais um aliado).
"Contamos com um maior contributo do PSD para uma cultura democrática, que demonstre que a condição de se ser adversário em política não é idêntica à condição de se ser inimigo", disse também Carlos César.
Entre tanta troca de galhardetes faço minhas as palavras de Sebastião R. Bugalho no Twitter: @reis_bugalho
É bom que o PSD (ou este novo PSD) entenda que todos estes elogios do PS e do Governo têm visado uma coisa: diminuir quem estava antes.
P.S.Fernando Negrão disse a certa altura que "Espanta-me um governo de esquerda tomar esta decisão de entrada da Santa Casa no Montepio)". Eu, correndo o risco de estar posição divergente com a direita, digo que a mim espanta-me que a direita se oponha tanto a este negócio de compra de uma participação no Montepio. Pois se tiver racionais económicos porque não? Não vejo uma grande diferença moral entre ficar acionista da Caixa Económica Montepio Geral e ser monopolista nos jogos de sorte e azar, sinceramente. Nesse aspeto dou razão a António Costa.
A mim o que mais me preocupa na entrada da Santa Casa no banco Montepio é se os propósitos são políticos e se a estratégia está a ser desenhada num compadrio de "amiguismo" em vez dos racionais económicos. Se o negócio é combinado e se as avaliações servem apenas para justificar a operação desenhada nos corredores da política e da cumplicidade destes com alguns gestores. Isso já acho mais preocupante. Agora que a Caixa Económica precisa de acionistas que ponham dinheiro no banco em futuros reforços de capital lá isso precisa.