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1| Tenho, com o avançar da idade, questionado a minha existência, sabendo que a única coisa certa é a morte. Com efeito, e tal dizia uma personagem de “O memorial do convento”, nascemos para morrer! Portanto, esta percepção do fim, tornou a questão da minha existência primordial. Não tanto numa visão retrospectiva, porque o passado já lá vai, mas numa perspectiva de presença e sobretudo de redefinição, dos caminhos a serem traçados para que tenhamos a melhor vida possível. Ou seja, estamos na situação de um condutor, que sem um mapa, ou qualquer tipo de orientação, vê-se perante uma bifurcação e o dilema que caminho tomar, sabendo que a sua vida se resolve com a solução deste dilema existencial, ou seja, o que é “preciso de fazer para saber viver”?
Com efeito, é parente a necessidade de escolha, e de orientação, que as filosofias existencialistas, embora com diferentes nuances, ganharam lastro. Por outro lado, e não obstante a individualidade “celular” de cada um, a verdadeira existência individual só ganha dimensão quando inserida num espaço mais amplo. Ou seja, da mesma forma que uma célula não faz o todo, pois um órgão é composto por inúmeras células, a nosso existir só tem sentido quando inserido num campo mais amplo, já que a nossa existência dilui-se também no todo. Por outras palavras: “pode muito bem acontecer que tornar-se objecto para o outro seja condição da minha existência real”. [Jean Lacroix, Crise da Civilização, Crise da Sociedade, Morais Editores, 1968, p.50]
O homem como dizia Aristóteles é um “animal político”. Esta proposição é válida na medida em que todos somos seres sociais. Porque, e mesmo que os nossos actos sejam, de per si, individuais, como comer, tomar banho ou decidir, estes ganham maior dimensão, passando a existir, quando expostos na realidade de que somos parte, quando actores “teatro da existência”: “Expor-nos a nós mesmo, entrar na encenação de si mesmos é sair de si próprio. (…) Expor-nos a nós mesmo numa cena que finalmente se desvela é o maior desejo dos homens” [Aldo Gargani; “O texto do tempo”, Edições 70, p.41]! Só com esta “encenação de si mesmo”, a humanidade salva-se, ou seja, “saindo do eu que era a falsificação da sua vida”. [idem]
Esta ideia é extremamente verdadeira. A história ao longo dos tempos prova que muitas pessoas, num determinado momento da sua vida, e perante as mais diversas bifurcações – mesmo com erros de percepção e arrependimentos – optaram por outras vias. Quantos de nós, quando confrontados com a realidade, não optamos por outros caminhos? A realidade não é uma coisa monolítica, tem outros ângulos, pelo que por vezes se olharmos o mundo de outra forma iremos ver melhor.
A razão só nos é útil se a combinarmos com as nossas capacidades sensitivas!
2| O homem é um animal político e a política é uma arte nobre. A política está também repleta dos mais diversos actores. Assim, e através das suas mais diversa práxis, ela é igualmente existencial. Desde logo porque como tem forma e conteúdo as decisões políticas surtem efeito na sociedade.
Na política, como na comunicação ou inclusive na arte, há emissores e receptores, pelo que os espectadores ou, se preferirem, a sociedade civil, deveriam ter direito às suas representações. Isto é, deveriam saber existir e existir em conformidade com o seu papel. E este é precisamente o problema da sociedade civil em Portugal e nos países em que a democracia não é (ainda) perfeita. Há demasiada letargia!
Tal advém de uma usurpação dos “palcos da vida”, já que os espaços ideias de acção e de sentido de pertença foram usurpados, levando há falsificação da verdade democrática. Dando a ideia absurda que só os partidos são os guardiões dos valores democráticos. Situação contra-procedente e com os efeitos que se fazem sentir na sociedade: o afastamento das pessoas dos ideias democráticos, levando ao abstencionismo, e no pior dos casos à emergência dos movimentos totalitários e/ou populistas.
Com efeito, os partidos políticos usurparam o nosso campo de acção, a coisa pública. Na Sociedade Civil, mas só por motivos de estratégia política, só escapam os sindicatos, que funcionam exclusivamente como braço das organizações políticas!
3| A política no entanto não é uma coisa estanque, tipo pronto-a-vestir. Vive das diferenças. Vive de ideias e de ideologias. Nem todos vêem a “res publica” sob o mesmo prisma. E felizmente que assim é. Para que serviria a democracia se fossemos todas ovelhas ou cegos e/ou na esperança que aparecesse alguém com um olho?
A democracia, na realidade, é uma competição que tem como troféu o Estado. Isso é verdade, porque a vida em sociedade é um jogo. Cada um age de forma a maximizar os seus ganhos. É uma verdade desportiva, económica, política, etc.
Politicamente, e já o provei “cientificamente” em alguns testes elaborados para o efeito, sinto-me bem no centro, como comungo dos ideais personalistas, que no nosso país fazem parte da “genética” social-democrata, o que não quer dizer que tenham existido desvios e, inclusive, surjam novas forças a reclamar o seu quinhão.
Sou personalista porque sublinha o papel da parte no todo. Que todos somos agentes da construção da realidade. Que a nossa existência só válida quando formos actores neste teatro a existência, e quando – agora numa perspectiva cristã – tivermos a capacidade de saber amar o outro!
No lado oposto está o intervencionismo, e a banalização do eu. Nesse lado oposto estão aqueles que se dizendo democratas, a democracia tem as suas horas e os seus dias. Em suma, para estes, ela esgota-se nas urnas!
São posições totalitárias que provocam urticária. São partidos que usurparam o nosso espaço de cidadania e agem conforme as suas agendas e a contingência dos seus interesses.
4| Um excelente exemplo de personalismo é o associativismo, já que é o espaço por excelência de partilha pela defesa do objecto que a associação promove. Porém, e porque vivemos em tempos de virtualidade, de “existência à distância” e, natural, individualismo, o associativismo está em crise. Ou seja, urge o ressurgimento das ligações sociais, e, consequentemente, da nossa (re)existência.
Do que me é dado a ver, e tenho que naturalmente de condenar, há uma tendência em Santarém, porventura em outros lados também, da usurpação destes espaços pelas forças política falhadas, e que nestes teatros dão existência aos seus ressabiamentos políticos, e, de a troco de nada, subverterem o que de bom foi feito em prol do associativismo!