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Há uma expressão na nossa língua que retrata bem os tempos que vivemos, e que fruto das circunstância me assusta verdadeiramente: o futuro do nosso mundo, e, na qualidade de pai, o futuro dos nossos filhos: Quem não tem cão, caça com o gato!
Nos próximos dias – foi inaugurada ontem – decorre a primeira edição do Santarém Fan Event - for LEGO Lovers e que terminará a 25 de Abril. É um exposição de criações feitas em legos, onde há de tudo, até uma justíssima homenagem ao homem que partindo de Santarém, ajudou à deposição do regime anterior, Salgueiro Maia. Há também monumentos de todos os cantos do mundo, incluindo a fachada do Palácio das Lezírias, actual edifício da Câmara Municipal de Santarém. E, quiçá, ainda veremos um dia por cá, tal como acontecerá brevemente,no Meo Arena, uma réplica do Titanic, o célebre barco que se afundou há 104 anos!
Estas construções, na sua maioria são obras de pessoas que, durante horas-a-fio, as construíram, e a quem tiro o chapéu. Porém, não é aqui que reside a questão central da minha preocupação. É a sociedade “ready made” em que vivemos. É a sociedade – recordando um clássico do rock português – do “mastiga e deita fora”!
A economia, de há anos a esta parte, está pensada em modos diferentes. Hoje quando compramos um qualquer electrodoméstico ou um lego sabemos, desde logo, que são descartáveis. As máquinas são pensadas com tempos de vida útil bastante curtos, que nem merecem ser reparados. Um arranjo de uma máquina – e sem garantia – é demasiado caro, ou seja, são fabricadas de forma a serem trocadas por outras. Ora esta ideia é, noutros moldes bem diferentes, é levada à letra pela Lego, ou seja, que inunda o mercado com uma quantidade de criações diversas que impedem os jovens – como no nosso tempo de as repensar, de construírem algo de diferente. De serem imaginativos!
Na minha juventude a lego vendia peças, e cabia-nos a tarefa de, com elas, criar alguma coisa. Éramos imaginativos. Também é verdade que não tínhamos outras solicitações. Não haviam Ipads, computadores e a televisão resumia-se a quatro canais. Tal como os jovens africanos e outros – regra geral pobres – que para se divertirem a jogar futebol, tinham que criar, com trapos, as suas bolas, estamos felizes a criar os nossos universos, a sermos imaginativos. Caso quiséssemos divertir éramos obrigados a imaginar, a encontrar soluções.
Em suma, caçávamos com gatos.
Hoje, e para mal geral, vivemos formatados. Vivemos à mercê do que o mercado nos impinge. O que é grave e não augura nada de bom!