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António Costa entre a alquimia e a utopia

por Maria Teixeira Alves, em 26.05.18

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O secretário-geral do PS, que é também primeiro-ministro do país, fez um discurso triunfalista no 22º Congresso do PS. Um discurso marcadamente ideológico de 42 minutos a fazer lembrar outros líderes duradoiros da história. Claramente está para ficar. 

António Costa tem orgulho em ter aprovado o casamento gay e adopção, a liberalização do aborto, e prepara-se agora para aprovar a eutanásia (mais uma medida na cultura da morte).

Do seu discurso saliento alguns paradoxos: António Costa quer familias gay e abortos e ao mesmo tempo quer familias a procriar para inverter o saldo demográfico.  

Isto é, em nome das liberdades individuais defendeu o casamento gay e a adopção de crianças, e a liberalização do aborto. Mas alertou para o grave problema demográfico que faz com que “em 2060 não seremos 10 milhões, mas sim 7 milhões”. Ora alguma vez Costa pensou no efeito pedagógico das leis que defende? 

Se uma coisa está na lei, no limite é o mesmo que dizer que é a regra, ou seja é o comportamento a seguir. Mas se todos o fizerem lá se vai a demografia. 

Mais à frente no discurso defendeu a família. António Costa disse que é preciso “criar condições de estabilidade do emprego, do acesso à habitação para que as pessoas possam constituir família e terem bons serviços de apoio social que lhes permitam ter filhos”. 

Costa garantiu querer criar condições para aumentar a natalidade. No entanto as políticas que vão promover a natalidade são apenas ideias, e as políticas que o PS aprovou em primeiro lugar são as que vão pedagógicamente em sentido contrário, em nome das "liberdades individuais", que são soberanas.

Penso que a crise das familias não é apenas fruto da falta de dinheiro, é também fruto da crescente e gradual destruição da instituição, é fruto de uma mudança de mentalidades no sentido do individualismo e da misantropia.

Depois não posso deixar de realçar o paradoxo deste país e desta ideologia. Pois a única medida fraturante aprovada, que gerava natalidade (reprodução medicamente assistida) é barrada com a estupida regra de dar o direito às crianças de conhecer os pais-doadores. O que inviabiliza a medida imediatamente. Para já no falar do custo de tal medida.

 

Mais à frente no seu discurso no Congresso Costa adianta que é preciso criar condições para as pessoas formarem família (referindo-se, imagino eu, ao conceito de família de direita: pai, mãe e filhos), mas diz que isso não chega para inverter o saldo demográfico e por isso defende políticas ativas de migração para que os portugueses não partam (o que é curioso num assumido europeísta) e criar também condições para atrair imigrantes, para ter um saldo demográfico mais equilibrado. Até aí tudo muito bem. De facto é preciso criar condições para recebermos estrangeiros que queiram viver em Portugal. Mas lá está, a seguir cai noutro paradoxo. Ao dizer que essa política ativa de imigração se faz “combatendo um discurso xenófobo e racista” está a situar o tipo de imigração que defende.

Mas afinal Costa quer a imigração para aumentar a natalidade num contexto de empregos sólidos e adequadamente remunerados, como defendeu ao longo de todo o discurso, ou quer a imigração como bandeira de solidaridade social e quer imigrantes sem trabalho e que em vez de melhorar a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde do país e o desenvolvimento económico o vai degradar?

Reparem na diferença do que disse Costa para o que disse uma vez António Horta Osório. O banqueiro disse "é preciso criar políticas de imigração inteligentes" e citou os casos de Singapura, Canadá e Austrália, que promoveram a recepção de imigrantes nas áreas em que mais precisavam. A população dobrou em 20 anos e a economia cresceu. "Se não fizermos isso estaremos dependentes do rácio reformados versus pessoas ativas", disse referindo-se à relação entre população ativa e o crescimento da população.

António Horta Osório não falou em combate à xenofobia, falou em abrir a porta a políticas de imigração inteligentes, seletivas e confinada a áreas em que o país precisa, para fomentar o crescimento económico. O que António Costa propõe ou parece defender em termos de imigração só em sonhos cria crescimento económico.

Costa não quer apenas essa política para Portugal defendeu também uma Europa solidária com os refugiados e que saiba “partilhar esse encargo entre todos”. Como é que se compatibiliza isso com mais e melhor emprego, e mais remunerado? Não sabemos.

Analisemos o outro argumento. É óbviamente desejável manter os portugueses em Portugal, porque é um sinal que o país cria oportunidades de realização profissional. Mas um país que tem quatro ou cinco bancos e meia dúzia de empresas, onde os salários mínimos sobem, para gáudio do líder socialista, mas os salários médios estagnam ou descem face à inflação, que condições é que existem para os portugueses se manterem em Portugal? Quando os ordenados não chegam sequer para alugar uma casa, ou comprar.

Admitiu também que é preciso manter as novas gerações em Portugal e para isso é preciso que as empresas paguem melhores salários. Maiores salários e mais salários para as mulheres para combater a desiguladade. Mas também quer aumentar a produtividade das empresas. Mas como? Não disse. Outra alquimia de Costa é o querer a revolução digital [que serve para melhorar o desenvolvimento do país, mas que irá fazer desaparecer muitos empregos] e querer ao mesmo tempo quer manter os atuais empregos e mais bem remunerados. 

“Honramos-nos  de ter criado o Rendimento Social de Inserção",disse. Vangloriou-se de ter aumentado as pensões, o salário mínimo. Depois anunciou a política de modernização das infraestruturas e o investimento nas Ferrovias. “Queremos fazer na ferrovia o esforço que no passado fizemos na Rodovia e nas infraestrutura de telecomunicações”. António Costa disse mesmo que “temos o maior programa de investimento na ferrovia dos últimos 100 anos”.

Disse também que "não basta que a lei diga que somos todos iguais, temos de ter as mesmas oportunidades” e adiantou ser um desígnio “que o Estado assegure condições de igualdade de acesso a todos os bens públicos essenciais”. 

“Temos de continuar a trabalhar para defender o Serviço Nacional de Saúde”, foi uma das mensagens deixadas por Costa. Ora a realidade é que os portugueses pagam para o Serviço Nacional de Saúde e depois pagam os seguros privados se querem ter bons médicos e rapidez de atendimento, e com isso resta-lhes ainda menos dinheiro disponível para formar família e inverter a demografia. Mas para o socialismo o que importa é a igualdade. 

Todos estes gastos do Estado e ainda assim Costa garante que “enfrentámos a dívida com uma gestão rigorosa das finanças públicas dando ao país o menor défice da nossa democracia, e começando a reduzir a dívida e juros e mobilizando o dinheiro na edução, saúde, transportes públicos e serviços públicos”.

O líder do PS conclui que se há algo que se podia orgulhar é que “com o seu governo” tinha acabado o mito que só a direita é que consegue gerir a economia e as finanças públicas, numa retórica abertamente triunfalista.Mas Costa camufla o aumento da carga fiscal em tudo o que compramos (por exemplo na gasolina, mas não só, nas roupas, na comida, nos impostos imobiliários, etc) e que acaba com o poder de compra das classes médias. Mas para Costa “o PS é o partido que melhor governa a economia e as finanças públicas”. 

E lá diz o slogan: "foi possível virar a página da austeridade sem sair do euro”.

A ideia mais coerente que lhe saiu foi quando citou o socialista francês Mitterand: “O socialismo continua a ser a ideia mais jovem do mundo”. 

 

 

publicado às 02:51




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