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Confesso que, assim que a notícia da recapitalização do Novo Banco com obrigações seniores do BES saiu, pensei imediatamente: Nunca mais um investidor institucional compra uma obrigação de um banco português. Foi um pensamento imediato, mas não menos legítimo. O pensamento de que o mercado monetário interbancário se iria fechar para os bancos portugueses por causa da decisão do Banco de Portugal (imputada só a ele ainda por cima, e não ao BCE) de aplicar uma versão suis generis da lei de Resolução que iria entrar em vigor em 2016 (a diferença, já a escrevi aqui, é que na lei europeia os obrigacionistas passam a accionistas obrigatoriamente, e aqui tratou-se de retirar do balanço as obrigações seniores e pô-las num bad bank que vai ser liquidado), não é desprovido de sentido, pois obedece às leis da lógica. Mas a lógica pode falhar quando não se tem todos os dados da equação. Foi o que aconteceu. 

Falhou-me os dados das emissões de obrigações de bancos. É que de, pelo menos, há três anos para cá que os bancos não vão ao mercado monetário interbancário - mercado de emissões de dívida - para se financiarem. Em primeiro lugar porque desde então que é caro emitir. É mais barato para os bancos financiarem-se através dos depósitos, ou através do BCE do que através da emissão de obrigações. Depois porque com as exigências da troika a desalavancagem dos bancos levou a balanços mais equilibrados. Os rácios de transformação de depósitos em crédito nos bancos em Portugal em geral são hoje abaixo dos 100%, isto é, há mais depósitos do que crédito. Porque os depósitos subiram e o crédito caiu bastante.  Como as taxas de juro estão baixas os depósitos tornaram-se a forma mais barata de os bancos se financiarem. O BCE, com o seu quantitative easing tem ajudo ao financiamento dos bancos e isso repercute-se no preço baixo do dinheiro. Pode dizer-se o BCE é curto prazo. É. Mas como os bancos estão sempre lá, é curto prazo que na prática é longo. 

As emissões de dívida sénior de bancos tem sido muito esporádica, para não dizer inexistente, dizem fontes dos bancos com quem falei. Mesmo as emissões de dívida que vencem em breve não serão refinanciadas com outra emissão, os bancos não precisam de liquidez.

Não há por assim dizer um mercado de obrigações seniores activo que tenha sofrido abruptamente com a decisão do Banco de Portugal (por muito que seja criticável) de retirar algumas séries de obrigações seniores do BES do balanço do Novo Banco, o que ajudou a reforçar os capitais. Por muito que a Pimco e a BlackRock tenham perdido e estejam com toda a razão furiosas com Portugal. A verdade, segundo os especialistas, é que se o bancos quisessem emitir, mesmo antes da decisão relativa ao Novo Banco já ia ser muito caro, por outros factores de conjuntura económica e política, e não compensaria. Por isso os bancos não se aventuravam por esse mercado.

A curto prazo o trauma, chamemos-lhe assim, do investimento em obrigações seniores só atinge o mercado secundário de obrigações porque as desvaloriza e nessa medida faz disparar as yields (taxa de juro). 

É mais preocupante para os bancos as alterações regulatórias do BCE que ainda não estabilizaram (agora fala-se da possibilidade de estipular um tecto para os bancos investirem em obrigações soberanas - que são usadas como colateral para financiamento no BCE, e ainda admite-se que se obrigue a considerar o risco dos países nessas emissões), do que propriamente esta decisão do Banco de Portugal. Voilá!

publicado às 16:43




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