Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O título, confesso, é retirado do livro da Agustina, "Pessoas Felizes", mas adoptei-o (é fácil adoptar ideias da Agustina).
Serve isto de pretexto para um post algo confessionista sobre o poder da inocência na dinâmica das relações humanas.
Inocência que fiz sempre questão de perservar.
Um dia disseram-me que havia uma menina de 15 anos dentro de mim e que emergia facilmente. Achei que havia algo de sábio nessa observação. Às vezes as coisas mais importantes saem da cabeça das pessoas mais triviais.
A inocência é a porta para tudo o que é importante, sem inocência tudo é calculista e perverso. Eu penso que o ter conseguido manter uma certa dose de inocência me tornou mais importante do que todo o meu conhecimento e estética. Ter um bom boneco (sei que tenho) não chega e ter uma perspicácia fora do comum também não. Já a inocência permanente pôs-me no mapa (há quem lhe chame bondade). Para o bem e para o mal. A inocência atrai o melhor e o pior dos outros.
A inocência e a sua importância na humanidade devia ser alvo de um qualquer tratado sobre a natureza humana.
Agustina escreveu um dia que a inocência é a mais excepcional e a mais temível das estruturas humanas, penso que a lucidez de Agustina não desilude também aqui.
Eu sempre procurei conservar um lado inocente, o que me dá uma distância saudável face a tudo o que é calculista e material e nessa medida dá-me uma certa liberdade, mesmo que o fascinio que essa inocência exerce possa acabar por redundar numa prisão.
A importância da inocência no amor, por exemplo, é algo subestimado nas análises sobre a humanidade.
Eu acredito que devo à minha inocência e à minha sinceridade, e à consequente postura direta e destemida, tudo o que conquistei.
Pedras no caminho? Se tiver que deixar pessoas pelo caminho, mesmo que com enorme dor e desgosto, deixo, porque sou fiel a essa inocência e a essa sinceridade que me põe noutra dimensão.
Já deixei pelo caminho muitas pessoas importantes. Já rasguei a alma imensas vezes para me manter fiel a mim mesma, fiel a essa sinceridade e à inocência do amor puro. Se tiver de arrastar comigo a tortura da perda, que seja. Desde que me mantenha fiel a uma sinceridade que a sociedade tende a considerar inocente.