Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Como é o dia-a-dia no ermo inóspito da Europa, na terra dos loucos (como alguém da blogoesfera lhe chamou)?
Dia agitado por causa da notícia da nova Secretária de Estado do Tesouro, que eu escrevi no Diário Económico. Muitos telefonemas e tentativas de perceber quem me revelou uma notícia tão exclusiva. Vários ensaios de explicações para que tal informação me tenha sido revelada só a mim, quase todas assentes na reconstrução das minhas ligações e relações, a surgirem nas mentes próximas.
À tarde: O Tribunal Constitucional chumbou o novo regime que criava o sistema de requalificação na função pública, e abria portas, pela primeira vez, ao despedimento de trabalhadores do Estado. Que como se sabe estão a mais, e, como se sabe também, impedem o equilíbrio das contas públicas pela via do corte da despesa, votando o equilíbrio à via dos impostos. Esta medida é considerada pelo Governo como fundamental para a chamada reforma do Estado. "A racionalização das receitas do Estado, a necessidade de requalificação e, depois, o cumprimento da estratégia estabelecida com a troika" são argumentos que os juízes não consideram válidos.
A votação foi feita apenas por sete juízes e não pelos 13 do colectivo, tendo o presidente do Tribunal Constitucional, Joaquim Sousa Ribeiro, citado a lei para justificar que o número reduzido se deveu a férias. Apenas um voto, o do conselheiro Cunha Barbosa, não foi favorável à declaração de inconstitucionalidade.
Esta decisão do TC pode impedir a realização da poupança de 894 milhões de euros prevista pelo Governo.
Vamos ser o país com a função pública mais inamovível do mundo nem que para isso nos esmaguemos em impostos.
À noite: jantar com amigos em que se ouvem argumentos como, o Miguel Relvas é o pior do país e ainda por cima agora dá-se com os Espírito Santos. O Pedro Passos Coelho é um mau primeiro ministro porque vive em Massamá e é casado com uma mulher que não é branca. "É muito mau", concluíam com convicção. E quem não concorda com isto é porque é complexado (e não pertence!). Resumindo é isto. É pouco, eu sei, mas é que o sai dali. Ou seja, a solução para o país, segundo, esta brilhante perspectiva, é um Duque ou Marquês ao poder, e tráfico de influência é mau a não ser que seja para os nossos, aí já passa a ser solidariedade.
Eu adoro os meus amigos, e provavelmente não têm culpa, mas este é o estado de muitas das suas mentes. Mas não pensem que isto é um fenómeno minoritário. A maioria das pessoas é deste calibre de pobreza.
O governo de Pedro Passos Coelho esforça-se, esforça-se por pôr ordem num país bloqueado pela esquerda e apodrecido por muitos de direita, limitados por preconceitos e ideias feitas. Mas têm de saber que estão a lider com mentes entorpecidas.
Vale a pena citar o que li num blog de um português que vive em Nova Iorque, a propósito de Agustina Bessa Luís. Apesar de, depois de tudo isto que diz e com o qual é díficil não concordar, acabar por, na conclusão do artigo, não fugir também ele (talvez por ser afinal português) aos preconceitos e ideias feitas (no caso contra a Direita, como se não fosse possível ser inteligente e ser de Direita) . Mas não tomemos a parte pelo todo, e salvemos apenas a parte.
Diz isto sobre os portugueses:
"Infelizmente, ainda não posso realizar uma análise filosófica exaustiva da obra de Agustina Bessa Luís, a maior romancista da língua portuguesa de todos os tempos, e é provável que nunca venha a realizar esse estudo, até porque não há em Portugal leitores inteligentes. Em Portugal reina a insanidade mental. Qualquer tentativa de escapar à loucura reinante é em vão: as palavras não encontram eco em mentes adormecidas e entorpecidas pelas forças da loucura. A primeira grande fatalidade de um ser inteligente é ter nascido em Portugal, o túmulo em vida de todas as individualidades que anseiam pelo seu alargamento e pela sua expansão. Agustina Bessa Luís nasceu fatalmente em Portugal, mas esta primeira fatalidade não é da sua responsabilidade. Se pudéssemos escolher a nossa nacionalidade de nascença, não escolheríamos nascer portugueses. Ser português é um estigma que se carrega para toda a vida. É uma tortura mental lidar todos os dias com criaturas burras e invejosas: os portugueses são especialistas em terrorismo íntimo e na arte de roubar a vida aos outros. Quem lida com portugueses deve saber que está a lidar com malvados".