Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Enquanto a Europa se digladia por manter os direitos do Estado Social, enquanto a Europa gasta energia a discutir se os países ricos devem pagar aos países pobres para saírem da crise, enquanto a Europa se esperneia em guerras políticas, em criticar o capitalismo, os bancos, os governos de direita, enquanto a Europa expurga a sua culpa de bem estar classe média em defesa casamentos gay e outras questões fracturantes. Enquanto a Europa expurga a sua culpa de bem-estar de pequeno burguesa numa defesa de "fracos e oprimidos", num contexto de eterna luta de classes, os Estados Unidos o que estão a fazer?
Num curto espaço de tempo passaram a ser o maior produtor mundial de gás natural. O preço do gás natural nos Estados Unidos é de 3,93 dólares (preço de quinta feira, segundo Miguel Monjardino no seu óptimo artigo no Expresso: Gás, EUA e a Competição) "Se olharmos para a Europa e para a Ásia vemos que este preço está entre os doze e os quinze dólares. Uma diferença tão grande não pode deixar de ter consequências económicas e estratégicas".
No seu artigo Miguel Monjardino explica que a queda do preço do gás natural está a levar cada vez mais norte-americanos a apostarem neste tipo de energia para aquecer as suas casas. O gás é agora responsável por trinta por centro da electricidade produzida nos EUA. As novas regras sobre os níveis de poluição que entrarão em vigor em 2015 aumentarão ainda mais a procura doméstica do gás. A revolução energética norte-americana também está a ter consequências ao nível industrial e atrair muito investimento directo estrangeiro. Em 2008, a maior parte das indústrias que faziam um uso intensivo da energia tinha abandonado os EUA e procuravam outros países para investir. A América era vista como um país onde a energia era escassa e cara. Hoje Washington passou a ser capital de um país rico em gás natural.
Estão em curso ou foram anunciados investimentos à volta dos cem mil milhões de dólares nas indústrias da petroquímica, aço, plásticos, vidro e extracção de gás e petróleo. Qualquer investimento internacional nestas áreas tem agora obrigatoriamente de ter em conta a competitividade das empresas que estão a trabalhar nos EUA.
A inovação no acesso e na extracção a novas fontes de gás natural e de petróleo também está a ter efeitos ao nível do emprego. Foram criados mais de um milhão e meio de novos empregos bem pagos. Este ano, as receitas dos impostos e das taxas para as cidades e estados que apostaram nestas novas fontes de energia deverão ultrapassar os cem mil milhões de dólares.
A nova abundância de gás natural e petróleo terá também consequências estratégicas. Um dos pilares da política internacional dos últimos quarenta anos foi a dependência energética dos EUA em relação ao exterior. Esta dependência não vai acabar nas próximas décadas mas passará a ser menor. A grande questão é saber se nos próximos anos Washington optará ou não por se transformar num grande exportador de gás natural.