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Descobriram uma offshore, de seu nome Burgundy, que revela uma relação entre João Rendeiro, BCP e Sócrates.
Em 2008 fui convidada para escrever um livro sobre um fenómeno que eu tive a sorte de assistir: a guerra de poder do BCP que, tal como eu descrevi, começou por ser uma guerra entre dois e foi-se avolumando à medida da ambição das pessoas que começaram a ver naquele braço de ferro entre Paulo Teixeira Pinto e Jorge Jardim Gonçalves uma oportunidade para ganhar o poder de mandar no maior banco privado português. Afinal todos queriam mesmo era ser presidentes do BCP. A moral, a ética, a justiça, a lealdade a Paulo Teixeira Pinto, eram meros pretextos.
Mal ou bem, no tempo que foi dado na altura, escrevi um livro sobre a minha visão (e realço, a minha visão) sobre o que se tinha passado no BCP. Não importa que outros tenham, no rescaldo do sucesso do livro assumido o protagonismo ( a vaidade acaba sempre por revelar-se ridícula, mais cedo ou mais tarde). Aquele livro é sobre isso, sobre o quanto é impossível na natureza humana erradicar a vaidade. Vaidade dos que moveram uma guerra de poder, mas também vaidade dos que acabaram destronados. É quase impossível na natureza humana erradicar a vaidade, escrevi na altura, hoje acrescento, mas não é impossível disfarçá-la.
Quando escrevi o livro quis dar-lhe o título de Dominó (mas infelizmente o editor quis dar o titulo Terramoto BCP) precisamente porque de uma pequena guerra de poder entre um antecessor e um sucessor, se foi avolumando o desmoronar de todo um castelo de prestigio que tinha sido construído no BCP.
Aquele é um livro (não importa quem acha que é um livro de uma facção da guerra, porque não percebem que nem sempre não estar convosco significa estar contra vocês) sobre a sociedade portuguesa. É uma sátira ao rídiculo das guerras de poder de uma elite que dá tudo pelo estatuto. Aquele é um livro sobre a futilidade das elites portuguesas, é um livro sobre a vaidade que cega e legitima o absurdo. Tudo o que eu escrevi apontava para que, daquela fogueira de vaidade sobrasse só a destruição. Todos perderam. E aí está: os ex-administradores continuam nos tribunais, ou lutam publicamente para salvar as reformas (injustamente cortadas como todos os cortes de reformas e salários).
Pedro Maria Teixeira Duarte perdeu a Cimpor e gere uma empresa num sector moribundo. Joe Berardo, ridiculamente exaltado na altura, por mero oportunismo, hipotecou todos os bens e hoje é uma imparidade para os bancos. Manuel Fino, que traiu Jardim Gonçalves, perdeu todos os seus investimentos, altamente alavancados. Paulo Teixeira Pinto foi enterrar o prémio que ganhou no BCP num investimento desastroso, na editora Babel. João Rendeiro, Salvador Fezas Vital e Paulo Guichard destruíram as suas vidas e sobretudo a dos seus clientes, quando levaram o BPP à falência, e correm o sério risco de prisão por burla. Hoje sabe-se que João Rendeiro usou o dinheiro dos clientes para tentar comprar uma posição no BCP. A vaidade mata. Armando Vara ficou arrumado profissionalmente, porque a sua esperteza foi escutada pela Judiciária. Carlos Santos Ferreira viu cair a sua administração antes do fim do mandato.
Só se safaram os consultores da revolução. Aqueles que foram suficientemente inteligentes para não dar o corpo às balas, para não investirem demais numa ambição: os (muitos) advogados que cobraram boas comissões e ganharam imensa publicidade; e António Mexia (leal aliado de Paulo Teixeira Pinto). Fernando Ulrich também, porque teve sorte de a fusão com o BCP ter falhado. Os menos vaidosos, ou melhor, os vaidosos mais inteligentes, só esses escaparam ao terramoto que varreu o BCP.
Tenho pena de alguns ingénuos que foram apanhados pelo caminho.
O livro tem um tom de sátira Agustiniana porque a melhor maneira de lidar com a tragédia que nos escapa travar é a ligeireza do humor, assim Joe Berardo é o corvo que aparecia nas Assembleias Gerais e Fernando Ulrich tinha a voz da razão (até isso mudou) e fez a guerra tremer. Porque Fernando Ulrich quando falava, levava consigo aquela pose de quem "antes de ser já o era". Assim como a pescada!
O mundo mudou e Portugal jamais voltará a ser o que foi há cinco e seis anos atrás.