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Pedro Mexia no Mundo dos Vivos
"Alceste, meu próximo
(...) O misantropo gosta de poucas pessoas, pessoas que conhece e uma de cada vez. Gosta da humanidade, mas não da Humanidade [multidão]. Claro que também há falsos misantropos. Os niilistas, por exemplo, parecem detestar toda a gente, mas gostam mesmo é da boémia (...). O niilismo é um ressentimento sofisticado, e o verdadeiro misantropo não é ressentido, é um puritano. Pode ser pessimista antropológico, mas ainda assim cultiva, no fundo, alguma ilusão sobre a espécie, que justificam que se desiluda, ou que viva em permanente desilusão. (...).
Escrevendo sobre o misantropo (1666) de Moliére, peça que traduziu, Vasco Graça Moura diz: «[Alceste, o protagonista] opõe-se à sociedade do seu tempo pela sua exigência de rigor, franqueza e sinceridade totais nos comportamentos, rejeitando qualquer espécie de convenção hipócrita nas relações entre as pessoas. Essa exigência ética fá-lo soçobrar num pessimismo irremediável e numa crescente recusa de contactos com o género humano, a ponto de pôr em causa as sua próprias amizades».
(...) O misantropo detesta a pieguice, a frase feita, a bondade usada na lapela (...), os consensos fabricados, a feira de vaidades mundanas (...). O que Alceste de Moliére não suportava era a civilidade como mentira, o culto das aparências, a lisonja como estratégia, a bonomia como farsa, a empatia como embuste. Os misantropos só gostam verdadeiramente de alguma coisa ou de alguém se for uma distinção, uma afinidade electiva, caso contrário gostamos de tudo e de todos e isso não vale nada."
Senti-me compreendida!