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Hipocrisia e autofagia na questão da Rússia

por Maria Teixeira Alves, em 12.03.22

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A Rússia liderada por Putin entrou na Ucrânia no dia 24 de fevereiro e isso mudou o mundo para pior.

Não sou especialista em geopolítica e o que conheço de Putin resulta das notícias e sobretudo das entrevistas que deu a Oliver Stone e que revelam muito sobre o pensamento do presidente da Rússia. Era óbvio, pelo discurso de Putin e pelas ‘demárches‘ subtis movidas pelos EUA, que a guerra fria, que oficialmente acabou com a queda do muro de Berlim, esteve sempre latente e por isso viva.

Parece-me óbvio que não se pode olhar para a Rússia como um país europeu que se rege por valores ditos democratas do Ocidente.

A Rússia continuou a ser a potência nuclear que motivou a guerra fria e os EUA continuaram a ser o inimigo político dos russos que nas costas tentam sempre a supremacia militar.

A Ucrânia tem o azar de estar no meio. A situação geográfica e histórica da Ucrânia não a ajuda e claro que não se pode olhar para a Ucrânia como quem olha para a França ou para Espanha. Claro que a situação da Ucrânia a deixa numa situação difícil e por isso, acho eu, a neutralidade a libertaria. Ser neutral não é uma maldição. Não consta que a neutralidade Suíça tenha beliscado o país dos relógios, da banca de fortunas e de chocolates.

Dito isto, este conflito (ou invasão) teria sido evitável, na minha opinião. Para isso era preciso que todos os agentes desta história tivessem presente o papel e vicissitudes de cada um, isso levaria a que todos fossem respeitados.

Não se afronta Putin, nem se tenta converter a Rússia numa sociedade ocidental com valores "moderninhos". Há que ter isso presente.  

A saída de Trump da Casa Branca e de Merkel da Alemanha pode ter tido um papel na escalada deste conflito. O futuro o dirá. 

Putin não é nenhum louco e tem as suas razões e elas estão ligadas à defesa da Rússia, mas claro que esta intervenção militar é altamente condenável pelo impacto que tem em inocentes. O melhor que o Ocidente pode fazer é acolher os ucranianos que fogem da Guerra.

Também as sanções europeias e dos EUA contra os russos são condenáveis pelas mesma razões, por causa do impacto que têm em inocentes.

Posto isto, teria sido fácil evitar este conflito. Bastaria que a Ucrânia reconhecesse que nunca poderá entrar na NATO e que a NATO, liderada pelos EUA, se comprometessem em nunca integrar a Ucrânia na NATO. Um compromisso escrito tinha bastado para evitar isto. 

Agora, acho as sanções económicas à Rússia injustas e ineficazes porque Putin não saiu da Ucrânia por causa delas e só vieram criar um fosso entre dois blocos Rússia/China e EUA/UE.

Acho perigoso o precedente que se abriu para a liberdade de imprensa (vetar o acesso a jornais russos deixa a Comissão Europeia ao mesmo nível das ditaduras). Acho perigoso o precedente que se abriu para o congelamento da propriedade privada. Acho perigoso o precedente de congelar as reservas de um banco central. Acho injusto castigar a cultura e o desporto russos. E faz me pensar que não gosto desta Europa, preferia que estivesse a ser uma moderadora do conflito para tentar um acordo que salve a Ucrânia e não ameace a Rússia. 

As sanções provocam condições económicas devastadoras também para os europeus e resto do mundo ocidental.

O presidente da Ucrânia tem de se entender com a Rússia de Putin para seu próprio bem e para o bem do seu povo. Isso sim é que é coragem. Chegar à paz.

 

 

 

 

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