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O Banco Montepio é hoje uma equação impossível. Como limpar o balanço, crescer o negócio sem capital?
Se a flexibilidade do BCE para o capital regulatório, no fim da crise, acabar, como é que o Banco Montepio vai reconstruir as almofadas de capital regulatório? É uma quadratura do círculo.
A Associação Mutualista tem 600 mil associados que têm aplicações em produtos de poupança, cujo o ativo que os alimenta é o banco. Logo o Banco Montepio não pode ser vendido. A maioria do capital do banco tem sempre de ser da Mutualista.
Mas se for preciso um aumento de capital a Mutualista não tem dinheiro para subscrever. Como é que se resolve este enigma?
Como se capitaliza o Banco Montepio e se prepara o banco para o que vem aí?
Se o banco for resolvido não são apenas os credores do Banco que perdem tudo, são também os mutualistas, que são os acionista do banco, são os reformados que têm os produtos de poupança regulados pela Segurança Social e que ficam sem nada.
Agora se percebe o erro que foi a oposição política (do Bloco mas não só, a direita também alinhou, incluindo Rui Rio) à entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do banco. Um erro colossal, que vai custar caro e que ninguém nunca vai admitir.
Todos os que impediram, com todas as forças, a entrada da Santa Casa da Misericórdia com 200 milhões no Banco Montepio ponham a mão na consciência, porque ali podia estar a salvação da instituição. Se a Santa Casa fosse acionista e injetasse dinheiro no Banco Montepio, o banco teria sempre alguém que capitalizasse a instituição financeira. O banco teria dinheiro para limpar o balanço e podia crescer a atividade e até dar lucros que justificassem o investimento da Santa Casa.
Mas há ideias boas que são condenadas por preconceitos ideológicos. Portugal é sempre muito mais eficaz a criar bloqueios do que a criar soluções. E assim nunca saímos da cepa torta e qualquer mudança é sempre para pior.
Não nos fiquemos por aqui. A situação do banco representar 80% dos ativos da Mutualista também é uma factura a passar aos governos (aos ministérios da segurança social) que o permitiram. Assim como os DTA (ativos por impostos diferidos) que o Ministério das Finanças permitiu para recapitalizar contabilisticamente a Mutualista, ainda seja parca a possibilidade de existência de lucros futuros que justifiquem esses créditos fiscais. Tudo coisas que não devem ficar esquecidas se o futuro do Banco Montepio não correr bem (e esperemos que não aconteça o pior).
Nessa altura, onde vão estar os críticos que atiraram pedras aos governos que foram contemporâneos dos casos BES e Banif?
O tempo ainda nos revelará como a oposição à entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no capital do Banco Montepio foi um erro crasso. Mas na altura vai tudo assobiar para o lado e acusar quem mais for mais conveniente e estiver mais à mão.
Em 1997, quando eu era uma romântica vintage, fui a Cuba. Foi uma experiência humana única na altura. Nunca tinha estado num país onde, desde 1959, o seu povo não podia sair do país, nem aspirar a ter bens (como carro, ou casa) não podia aspirar a subir na vida, não podia planear viajar. A Cuba de Fidel punha os cubanos a viverem o dia-a-dia sem aspirações.
Na altura achei fascinante a experiência de conhecer um povo aparentemente feliz só por ser independente do capitalismo. As frases pintadas nas paredes eram programáticas, "aquí no queremos amos". Mas essa felicidade do povo era aparente, porque na prática os cubanos pediam-nos em casamento para poderem sair do país e ficavam dentro de água, nas praias que estavam proibidos de frequentar, o dia inteiro, só para venderem aos turistas um jantar de lagosta em sua casa por 10 dólares. Eram os restaurantes privados possíveis. Tudo era do Estado. "Pobre pero del Estado".
Lembro-me de reparar que as cubanas assistiam a novelas mexicanas (proibidas pelo Fidel porque criavam sonhos) em que o enredo era composto por grandes milionários e mulheres que casavam ricas e ficavam donas de fazendas. As cubanas suspiravam, não tanto pelas histórias de amor, mas pela possibilidade de ficar rica de um dia para o outro. Era uma coisa que só em sonhos podiam aspirar.
Serve isto para dizer que hoje, quando vejo filmes ou séries, sejam eles dos anos 80, 90, 2000 ou de 2019, sinto-me a ver uma ficção, um filme datado, uma realidade anacrónica. Tudo desconfinado, sem máscara, aeroportos cheios, grandes convívios, restaurantes cheios, conversas animadas a menos de 2 metros de distância, beijos, abraços. Parece uma realidade do século passado, algo que ficou lá atrás e que só em sonhos podemos aspirar.
Finalmente compreendi os cubanos da Cuba dos anos 90, quando aspiravam à liberdade de terem sonhos. Sinto a mesma nostalgia que as cubanas do regime do Fidel. Nostalgia de um tempo que nos parece longíquo e que não sabemos se volta a ser o que um dia já foi.