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Tenho estado ausente. Estou de mudanças, pelo que estou longe de estar actualizado com o que se passa por aí. Até ontem, quando comprei, pela primeira vez, a versão em papel do Diário de Notícias, desconhecia por completo "o caso Robles".
Não vou perder tempo com a situação, porém como acabo de saber da sua intenção de renunciar ao cargo de vereador na autarquia da capital, eu acho que faz bem, já que me faz lembrar a velha máxima de Júlio César: "À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta".
Ricardo Robles do Bloco de Esquerda, vereador da Câmara de Lisboa, é um empresário do imobiliário (notícia revelada pelo jornal onde trabalho). Mas é o mesmo Robles que em discurso exaltado diz que "orgulhamos-nos do 25 de Abril e do que se passou a seguir ao 25 de Abril, naqueles 11 meses, orgulhamos-nos das ocupações, orgulhamos-nos das nacionalizações, orgulhamos-nos das cooperativas de habitação, orgulhamos-nos da reforma agrária".
Ora este seguidor do PREC, devia dar os seus bens para a "cooperativa". Será que o Estado pode ocupar o seu património, a começar pelo prédio que era da Segurança Social e recuperou multiplicando por seis vezes o seu investimento (dele, da irmã, dos pais e do periquito, não interessa)?
É que estes meninos que defendem o PREC deviam ser os primeiros a viver como franciscanos e a ceder o património ao Estado, para "cooperativas de habitação", não?
Eu como defensora da propriedade privada, do lucro e do capitalismo, defendo até o direito ao Robles ter comprado um prédio velho em hasta pública (desde que a hasta tenha sido mesmo pública), tenha investido na recuperação e o venda por 5 ou 6 milhões se conseguir. Eu defendo esse direito dele. Ele pelos vistos não o defende.
A coerência é cada vez mais um luxo, que só as pessoas verdadeiramente de bem se podem orgulhar.
P.S. O pior que aconteceu a Portugal foi o PREC, que derreteu todo o capital acumulado ao longo de gerações. Devemos ao PREC o endividamento privado do país, o facto de as grandes empresas serem hoje quase todas detidas por estrangeiros, devemos a incultura e impreparação das nossas elites e devemos até a queda aparatosa do BES e do GES. Um país que não tem commodities, e que deixou de ter capital acumulado ao longo das gerações (e basta olhar para os nossos palácios e casas apalaçadas para sabermos que o país já foi rico) é um país condenado à pobreza e ao endividamento. Ninguém ganhou com isso. O Estado não se tornou mais rico. A maioria das empresas públicas foram colossos de prejuízos.
Marcelo foi infantil, superficial, soberbo e absurdo. Foi superficial quando trouxe o tema do vinho da Madeira para a conversa, como que a querer situar o seu interlocutor na importância de Portugal na história dos Estados Unidos. Foi infantil quando trouxe o tema Ronaldo para a conversa, como quem traz na lapela uma medalha de honra. Foi soberbo quando reagiu à piada de Trump (que esteve bem em entrar no tom jocoso, uma vez que Marcelo não levou temas sérios para a conferência de imprensa) querendo insinuar que a política portuguesa é que é a sério ao contrário da norte-americana, e foi absurdo (e isto foi mesmo o pior) quando fez questão de dizer em conferência de imprensa que tinha estado com Putin e que este lhe mandara cumprimentos (como se o presidente russo precisasse de Marcelo para enviar cumprimentos a Trump), claramente a pôr-se em bicos de pés entre dois gigantes mundiais.
Via-se claramente que Marcelo se esforçou para se tornar importante aos olhos Trump, o que é uma reação típica de quem não é.
Resta a Marcelo a interpretação favorável que se fez cá no burgo. Marcelo em Portugal foi aplaudido e elevado em ombros pela sua prestação na conferência de imprensa com Trump (o que é um sinal de como Portugal vive numa espécie de Caverna de Platão, que toma as sombras pela realidade).
Vejam a conferência de imprensa do Primeiro-Ministro holandês Mark Rutte com Trump que se seguiu e comparem a postura e maturidade do chefe de Governo da Holanda com a do nosso chefe de Estado.
P.S. Só o penteado de Trump (o que é que o senhor fez ao cabelo?) no encontro com Mark Rutte retira seriedade ao momento.