
Na edição de hoje do “Observador” lê-se que Marlene Wind, politóloga e directora do Centro de Política Europeia da Universidade de Copenhaga, levou à beira de um ataque de nervos. A referida senhora acusou o foragido catalão de separatismo, perguntando: “A sua visão é romper a Europa em milhares de Estados? Quantos quer? É essa a sua visão? Porque, se é, fico muito preocupada”.
As acusações que senhora Wind fez a Puigdemont - que segundo ela quer “dividir a Europa em 200 estados etnicamente puros com uma única identidade” - merece não uma crítica mas uma análise de história política, pois há gente que se esqueceu do nosso passado continental:
1| A Europa, e em particular a União Europeia, é composta por estados-nação, uma realidade política, que, pese embora ter alguns séculos, é recente. No passado, a Europa teve diversas mutações, sendo que sempre foi composta por nações: vejam-se os casos da vizinha Espanha, da Itália, do Reino Unido, etc. Sempre foi assim. Ou seja, se em alguns dos estados que compõe a UE existe, de alguma forma, um sentimento nacional, existem outros em que tal não acontece, e a Espanha é um bom exemplo. Cheguei a conhecer um corso que pugnava pela independência da Córsega da França, era o seu sonho! Conheci também um basco que naturalmente defendia uma nação basca e que todas as nações europeias deveriam constituir uma imensa comunidade, i.e., defendendo um modelo federal que incluía todos os povos e as nações da velha Europa.
3| A situação portuguesa é (como, por exemplo, a irlandesa e a dinamarquesa) particular, já que somos dos poucos países europeus de facto, i.e., que desde a formação da sua nacionalidade mantém a mesma “integridade geográfica e nacional” – um território e uma língua comum -, pelo que desconheço as razões da fúria da senhora Wind. Será que a balcanização da Europa é contrária a um ideal europeu, i.e. que pugne pela perpetuação da paz entre os povos e nações europeias?
4| O referendo para independência da Catalunha, foi a todos os níveis uma afronta ao centralismo de Madrid, como também foi natural a solidariedade de outros estados europeus com o governo espanhol, pois este cenário não é bem visto na nossa Europa. Nem sei tampouco – mas isto é história virtual – como é que a Europa reagiria se só hoje procurasse-mos a independência de Espanha, sobretudo quando os Filipes tinham toda a legitimidade sobre nós?
5| A actual União Europeia é a meu ver demasiado conservadora. Não que isso seja em si um defeito, porém é melhor conservar algo que funcione do que uma máquina eurocrática fechada no seu umbigo. Não me parece que lhe faça – que nos faça – bem.
Antes pelo contrário!