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Como é que um país que tem noites mais longas que as nossas, muito menos sol e calor que nós são muito mais felizes que os portugueses? Esta questão é das mais importantes da actualidade e deve levar à introspecção e ao debate público. Chama-se hygge (pronuncia-se huga), e é considerado o segredo dinamarquês para a felicidade. Mas o que é isso de hygge? São coisas simples por exemplo, beber um chá quente em frente à lareira. Mas pode ser uma reunião de famílias e amigos, um jantar à luz das velas ou tempo para ler um bom livro. “Procuramos ser amáveis connosco e com os outros”, dizem os dinamarqueses.
Meik Wiking, dinamarquês, 38 anos, CEO do Happiness Reasearch Institute, disse à revista Visão que hygge "é a arte de criar uma atmosfera simpática, seja onde for. Envolve, geralmente, companhia, silêncio, lareira... Aqui há tempos tinha ido com amigos fazer escalada; no regresso, preparámos o momento, acendendo o lume e preparando uma bebida quente".
Atmosfera simpática. Centremos-nos nessa frase porque ela explica tudo.
Portugal, que tem uma situação geográfica única, à beira mar, com uma luz fabulosa, com verde no norte e prados de trigo no sul, que tem autênticos paraísos de férias a preços acessíveis, está entre os países com mais casos de depressão. Segundo uma notícia do Correio da Manhã há 578 mil portugueses que sofrem de depressão e 502 mil que enfrentam problemas de ansiedade. Noutra notícia, do Expresso, lê-se "Portugal é dos países onde a depressão assume maior gravidade”.
O que se passa é que Portugal é um país com uma atmosfera humana difícil. Ao contrário dos dinamarqueses, os portugueses só estão bem a criar atmosferas hostis uns aos outros. Ambientes de inveja, competição desenfreada sem escrúpulos (os portugueses fazem de tudo um derby, transportam o Benfica-Sporting para todas as circunstâncias), são pouco virados genuinamente para os outros, pouco altruístas. Talvez por insegurança, agarram-se a soberbas e vaidades, criam estigmas e rótulos que condicionam a liberdade de expansão de todas as potencialidades individuais; estragam o futuro uns dos outros sem qualquer hesitação; roubam méritos e usurpam vantagens sem olhar a meios, ajustam contas e vingam-se em pequenas coisas. Por isso os portugueses têm de ser tímidos por força das circunstâncias, pois qualquer brilhozinho atrai logo as invejas, ou admirações bacocas e efémeras, e põe as pessoas à mercê dos maiores ódios coletivos. Aqui arregimentam-se facilmente aliados contra bodes expiatórios.
De que nos serve o óptimo ambiente natural e o ambiente humano é tão agreste?
Este som fresco, que vem do nosso antípoda, é a prova que Lorde, o nome artístico da neozelandesa Ella Yelich-O'Connor, não é fruto do acaso. É uma menina que irá dar muito prazer em quem gosta de música!