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O discurso da Chanceler alemã não deixa margens para dúvidas. Merkel disse que a Europa de hoje é de "cada um por si", depois da Cimeira do G7 em Itália e da NATO na Bélgica.
"Os tempos em que podíamos contar completamente uns com os outros (aliados), acabaram em certa medida, percebi isso nos últimos dias, e é por isso que só me resta dizer que nós europeus temos de tomar as rédeas do nosso destino, mantendo claro a amizade com os Estados Unidos e com a Grão Bretanha e como bons vizinhos onde for possível com outros países e até mesmo com a Rússia. Mas temos de saber que temos de ser nós próprios a lutar pelo nosso futuro e destino enquanto europeus, e é isso que quero fazer em conjunto com vocês", disse Angela Merkel num discurso no comício perante 2.000 pessoas em Munique.
Parece-me cada vez mais que vamos ter novos blocos, sendo que a Europa vai voltar a ser dominada pelo eixo franco-alemão. Para Portugal esta nova ordem até veio ajudar, porque passaram a ser mais tolerantes com os países incumpridores porque precisam de promover a união dos países da União Europeia para evitar mais dissidentes. O Reino Unido por sua vez vai caminhar sozinho e aliado dos Estados Unidos.
Não há nada mais português de que o fado. Destino, saudade são algumas possíveis adjectivações. Mas a realidade – já passaram dois dias deste acontecimento histórico – é esta: realizar uma edição do festival da Eurovisão custa uma pipa de massa! Algo que nunca esteve numa folha de encargos da troika: Portugal a vencer este festival certamente só em sonhos!
Os manos Sobrais deram a volta ao texto, e que texto. Juntaram-lhe som, e que som. E a Europa rendeu-se! Todos: os cultos e a populaça (a do tele-voto) deram-lhes a merecida vitória. Porém, agora a cantiga é outra. É um fado. Mas também destes fados somos especialistas: somos bons a realizar eventos. Foi assim em 1998, foi assim em 2004 e foi assim no centenário de Fátima. Os milhões que se lixem, a geringonça há-de pensar num reforço da taxa da televisão!
O que têm em comum António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa? Ambos apostam numa política de proximidade com os "súbditos" (chamemos-lhes assim). Bom António Costa está mais apostado em agradar pessoalmente à direita e aos católicos e Marcelo Rebelo de Sousa está mais preocupado em agradar aos marginalizados e aos "fracos e oprimidos" (chamemos-lhes assim).
Não há uma grande diferença entre um primeiro-ministro que responde a uma crítica de um opinion maker da ala direita com um gesto "magnânimo" e desconcertante de aceitar o desafio de lhe tomar conta dos filhos no dia em que o Governo deu tolerância de ponto e as selfies que o Presidente da República tira com todos os que visita (e os beijos que distribui e as condecorações que atribui).
Ambos se preocupam em conquistar, sobretudo, quem está (em teoria) nos seus antípodas. O que é isso senão um gesto magnânimo (cristão?)? Mas é preciso não esquecer o mediatismo. Será mesmo magnânimo quando o nosso gesto é difundido ao público? Não será vaidade então?
Vivemos um tempo interessante em que há uma ânsia de novos "Messias" (que demonstrem que o amor e o altruísmo não morreram) e a facilidade com que tudo se difunde nas redes sociais e chega à população. O populismo tem aqui muito da sua raiz.
O presidente do Estados Unidos usar o Twitter para comunicar não é senão uma manifestação desses tempos em que vivemos.
O facto de tudo ser em directo leva a que se crie facilmente (demasiado fácil digo eu) deuses e capachos. O reverso da medalha deste tempo da política dos afectos é o maniqueísmo de se criarem estériotipos facilmente. A cisão entre o bom e o mau vilão nunca passou de uma visão redutora da humanidade. Cada pessoa tem tudo, tem os dois lados. Não existe isso de aquele é bom e o outro é mau.
A verdade é que há um paradoxo que resulta desta política dos afectos, é que tem origem no propósito de criar pontes, mas ao estar a servir para criar deuses está a criar muros.
Veja-se o caso do Papa Francisco, fala-se dele como o Papa que chega às pessoas, o Papa da tolerância, como se fosse um novo "Messias". Nessa visão está um crítica implícita à igreja e ao Papa (aos Papas) anterior (es). Ora não há nada de diferente nas homilias do Papa Francisco, face às homilias do Papa Bento XVI e às homilias do Papa João Paulo II. Há diferenças de estilo essencialmente, e os dogmas da igreja são os mesmos. Mas o que chega às pessoas são os afectos do Papa Francisco.
Queremos quem crie pontes, mas depois endeusamos tanto essas pessoas que criamos muros.
1| Gosto de música, sempre gostei. Gosto de música, mesmo não sabendo cantar, da mesma forma que gosto de pintar, e, no meu caso em particular, de me expor. A exposição ao outro, seja nas artes plásticas, na música ou na literatura é razão de existência, porque, como escreveu o filósofo personalista Jean Lacroix, “o que torna público é o olhar”, acrescentando: “Um museu é público porque nele os quadros podem ser visto por todos”. Dito de outra forma: as grandes obras da arte mundial, seja uma Mona Lisa, um trabalho de Picasso ou outro só tem essa adjectivação porque são vistos até à exaustão. Em suma: são uma realidade! E o “real”, como defendia Kierkegaard, só existe porque nos interessa. Assim, e como“experimentamos um sentimento”, “(…) qualquer sentimento é sentimento de realidade”.
2| A relação entre o privado e o público é complexa, e tem “insondáveis” nuances. E é uma discussão que tem barbas.
Hoje o que me leva a escrever também é um “sentimento”, e, principalmente, a esperança que este “sentimento se torne realidade”. Em suma, que Salvador Sobral, com este fantástico “Amar Pelos Dois”, levante, nem seja por uma só vez, bem alto os “sons de Portugal”!
3| Claramente que não tenho nada contra este idealismo realista do filósofo e teólogo oitocentista dinamarquês. Porém como sou português, e tenho os pés bem assentes na terra, estou mais próximo do cepticismo de São Tomé. Gosto de “ver para crer”.
Grande frase ouvida num filme: "Encantar serpentes nunca foi um talento meu". Subscrevo. Também nunca foi o meu. 🙂