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Já escrevi aqui o que penso sobre a adaptação ao cinema do livro de Shusaku Endo, "Silêncio". Hoje assisti, aqui, em Santarém, a uma brilhante palestra sobre este tema pela mão de um historiador e padre jesuíta.
Além de ter sido brilhante, e ter ajudado a contextualizar, historicamente a trama do filme, leva-me a reflectir, enquanto cristão, o problema da evangelização. Até que ponto o nosso Deus é melhor que os deuses dos outros? Ou, por outras palavras, não será que a fronteira entre o nosso Deus e o Deus dos outros é nula, já que a criação, enquanto fenómeno transversal à humanidade, é indivisível, e não admite esta parafernália de divindades?
Deus, como disse bem São Tomás de Aquino, é omnipresente, "está em todo o lado". Há caminhos para chegarmos até Ele. Portanto, pergunto, se a humanidade não seria moralmente mais feliz se em vez dos fundamentalismo se preocupasse com os seu fundamentos?
Gilles Deleuze e Félix Guattari “Em o que é a filosofia?” (Presença; 1992, p.2) defendem a tese da relação intima entre a filosofia e o conceito, já que a sua missão “consiste em criar conceitos”. O mesmo acontece com a arte, porque esta, e enquanto representação da vanguarda, seja na actualidade, seja no decurso da construção do “objecto de arte” aos longo dos tempos, teve esse objectivo. Caso contrário : não criando conceito, “escolas”, nunca existiria uma História da Arte, nem tampouco existiria a Arte. E a resposta à pergunta “o que é a Arte?”, seria um beco sem saída. Porém, mesmo sem grande respostas e/ou soluções para esta pergunta, a Arte existe!
Observemos a questão na preservativa clássica da estética, i.e., fundamentada em Aristóteles, no qual a resposta esgotaria-se enquanto “imitação da vida”. A arte aqui limitava-se a não ser mais do que um processo, cujo o enfoque era exclusivamente técnico. Interpretar o real, copiando-o ou interpretando-a perante a necessidade funcional como acontece, por exemplo, na arte religiosa ou nas funções práticas das peças de porcelana, de prata etc. No contexto da arte religiosa, havia uma evidente “necessidade comunicativa”, i.e., através de uma pintura ou um artefacto religioso, e em especial dos crucifixos , procura-se uma ligação com o transcendente. No entanto, como viria a acontecer mais tarde, no século XIX, a ideia de arte ganha uma nova dimensão. Ou seja, não tinha que ser exclusivamente funcional, como já não “bastava” copiar e / ou “simular” (religião) para existir. Porque, de facto, o discurso artístico alterou-se. Houve uma clara inversão: a “vida passou a imitar a Arte”! Porque, e na esteira Wilde, se tornou-se sinónimo de mentira, passou a ser enganadora e, principalmente, a estética “mudou de lugar”! Doravante, a estética já não se encontra no objecto em si mas no sujeito que a vê e a aufere. Tornou-se, de um lado, num bem de consumo, como passou a ser (finalmente) conceptual. A Arte ganhou uma nova, e mais “libertadora” natureza. Sendo que o “Ser” - ser arte, ser artista – passou, portanto, a depender de factores externos. Daí que muitos considerem que a própria estética – arte enquanto exercitação do real ou “domesticação” do belo, tenha sido enterrada.
Neste processo, como na vida social propriamente dita, tal como na dicotomia direita / esquerda, o elogio da estética é uma atitude conservadora e a arte conceptual tenha adquirido uma “nova natureza”. Houve, portanto, uma imensa revolução, uma vez que a técnica passou a ser instrumental, e tenha “enterrado” - nos seus moldes mais clássicos e de status – o academismo. Hoje para se ser artista não é exigível uma formação académica. E este processo foi vital para a definição ou resposta à nossa pergunta. Porque enquanto elemento “de e para” a transcendência” o academismo procurava “ovelhas”, isto é, discípulos e continuadores mas nunca criadores de “hipóteses para o belo”. É, neste sentido, que sou, quero ser e estarei “felizmente” condenado a ser: um “hipotético artista”. Porque, e fruto dos tempos actuais e (naturalmente) globais, a ideia de arte é cada vez mais sistémica e o artista só existe enquanto “elemento sensorial”, i.e., uma vez que tem que se expor para o ser. É, por um lado, uma existência condicionada, e por outro, torna-nos (sejam-mos músicos, escritores, etc) reféns da crítica! Uma crítica que, também ela fruto das mais diversas contingências, tenda a ser conformista. Porque os espaços de afirmação da novidade – novos artistas, novos processos etc. – são sempre limitados. Hoje existe, por quem expõe ou o que é exposto, um imenso medo para o risco e uma clara ditadura, fruto das regras ou modas ditadas pelo sistema. Assim – porventura sempre foi assim - a Arte “não tem facilitada a sua tarefa de representar a irregularidade” [Daniel Innerarity; 2009]. Portanto, urge uma redefinição da crítica. De uma crítica que permita novos passo na construção de novos caminhos para Arte, e (re)leituras do belo e, que, quiçá, possibilite a “ressurreição” da estética?
De uma nova estética, que liberte e se liberte dos seus diversos fantasmas!
Sobre a imagem escolhida:
Pintura sobre tela cartonada, sem título e pertencente a uma colecção privada, feita em 2016 e que esteve patente na minha primeira exposição individual, em Tomar: "#1".
Terei uma nova exposição, desta feita em Lisboa, na primavera.
Darei novas informações brevemente!
Não é novidade mas agora há provas documentais. O Governo aceitou que fosse António Domingues a desenhar a lei que melhor lhe servia. Os advogados contratados por António Domingues (que falharam redondamente na sua missão) mas que o Ministro das Finanças aceitou que fossem pagos à posteriori pela CGD é que desenharam a lei que retira os gestores do banco do estatuto do gestor público. Mas esqueceram-se da lei de 1983 que obriga à declaração de rendimentos do TC. Este é o caso mais flagrante de favorecimento de um Governo português a gestores de que há memória.
O Sócrates ainda tentava disfarçar.
Recentemente tenho aproveitado para fazer o que não fazia há anos. Ir ao cinema. Decidi que este ano iria ver a maioria dos filmes candidatos a um óscar, e de preferência um dos candidatos ao melhor filme do ano. Isto para concluir que a entrega anual das estatuetas é - creio que já o foi menos - um atentado à 7ª Arte. Diria mesmo que é pôr o "Rossio na Betesga".
No passado sábado vi "Silêncio" de Martin Scorsese, um projecto com mais de 25 anos de maturação em que o realizador italo-americano adapta o romance homónimo do japonês Shusaku Endo.
Neste filme, como escreve o crítico de cinema do Observador, Eurico de Barros, o realizador "instala-nos em cheio no centro da dor. Dor física, dor emocional, dor intelectual, dor espiritual". A que acrescento no meio de uns quantos equívocos históricos: se é certo que na história jesuíta no Japão tenha existido, em 1633, a apostasia do Padre Cristóvão Ferreira a personagem interpretada por Andrew Garfield não existiu e é um erro histórico que pode levar a enganos desnecessários. De facto na história da evangelização feita pelos portugueses no extremo-oriente existiu um célebre Padre João Rodrigues SJ, apelidado pelos japoneses de Tçuzu (o Intérprete). Este missionário jesuíta, de origem portuguesa, que também viveu na China (morreria em Macau), ficou conhecido por ter escrito o primeiro dicionário de japonês-português e a primeira gramática da língua japonesa. Ou seja, tudo leva a crer (na narrativa deste filme) que este também tenha apotasiado, o que naturalmente é falso.
Sou um fã das obras de Scorsese, e se é certo que o filme nos leve a reflectir sobre a nossa religião, e sobretudo a forma como fomos transmitindo a "Nossa" mensagem, não me encheu as medidas. Acrescento ainda - e é uma nota muito pessoal - que o meu pai, que viveu em Tóquio entre 1966 e 1968, e de onde sou natural, conheceu e privou com Shusaku Endo, e com quem correspondia até à sua morte em 1996. Em 1973, ele escreveu "Uma vida de Jesus", obra na qual procurou transmitir aos seus concidadãos a mensagem do cristianismo. Está traduzido em português (ASA, livro de bolso) e é maravilhoso.
Hoje, e num registo completamente diferente, vi o grande candidato a ganhar várias estatuetas: La La Land - Melodia de Amor, de e escrito por Damien Chazelle.
La La Land é uma adaptação da expressão "lalaland" e que significa: "to think that things that are completely impossible might happen, rather than understanding how things really are" e que, grosso modo, poderemos traduzir como " estar fora da realidade".
Bem sei que um do méritos desta arte é a magia, o faz de conta. Porém, e mesmo que o filme seja particularmente bem realizado, seja esteticamente bonito e tenha uma banda sonora agradável é extremamente pobre - para um amante de cinema como eu - pensar que este ano (a fazer fé nos Globos de Ouros ganhos) este divertimento possa ser considerado como o futuro melhor filme do ano. É esperar para ver.
Não se fala de outra coisa nos jornais. Trump, Trump, Trump. Os jornalistas portugueses dão cabo do Donald Trump em cada letra que escrevem (não estou a proferir qualquer opinião sobre o presidente dos EUA, note-se). Mas não consigo deixar de olhar para os portugueses como uma continua caricatura do Eça de Queiroz. Continuamos a ser uma caricatura do Eça.
Há uma personagem do Eça de Queiroz que era director de um jornal de Aljustrel com o nome de Ecos. Era o jornal Ecos, de Aljustrel. Há uns anos Vasco Pulido Valente usou a personagem de um conto do Eça para ilustrar o ego desproporcionado dos portugueses. Na coluna que em 1999 escrevia no DN "Faz de Conta" - VPV comentava as opiniões exacerbadas que se proferiam quando se debatia no parlamento português a intervenção da NATO na Jugoslávia. Produziam-se manifestos anti-guerra, tal como hoje se proferem gritos anti-Trump e anti-políticas do Trump. VPV fez na altura a comparação com história do Eça sobre o director dos Ecos de Aljustrel. Quando Bismarck invadiu a França, o bom homem, a espumar de fúria, ameaçou com veemência: «Deixem estar que amanhã já dou cabo dele nos Ecos.»
Como se os Ecos de Aljustrel chegassem a Berlim, ou mesmo a Paris.
Assim estamos nós, a dar cabo do Trump nos Ecos de Aljustrel.
Confesso que apesar de jornalista leio poucos editoriais (quase nenhuns na verdade) e opiniões (que ainda assim leio mais), excepto quando alguma coisa me chama a atenção logo no inicio, ou alguma rede social chama a atenção para o artigo.
Não tenho grande curiosidade de ler os editoriais porque sei como pensa quem os escreve e por isso a minha curiosidade é zero. Opinião, leio apenas as que me parecem mais interessantes.
No meio de tantos artigos de opinião nos meios de comunicação, perdi o Alberto Gonçalves no DN. Só me apercebi dele quando estoirou a noticia de que a mudança de direcção do DN levou a que fosse dispensado de escrever lá (agora percebo porquê).
Percebi pela polémica que era um opinion maker da ala direita, mas só hoje, quando entrei no Corta Fitas, li o Alberto Gonçalves. É de facto uma pedrada no charco. Corajoso e inteligente.
Num começo ligeiramente alusivo ao histórico discurso de Martin Luther King (sim hoje o pensamento de direita é que é vítima de censura e ostracismo), Alberto Gonçalves troça da opinião da moda, da ditadura do mainstream (haja alguém como eu na esfera da escrita). Parabéns Alberto Gonçalves.
Deixo aqui o artigo, porque merece ser reproduzido:
«O meu nome é Alberto Gonçalves e tenho um sonho.
Sonho escrever crónicas que possam ser apreciadas pelos cidadãos que acham a menina Mortágua e o dr. Louçã economistas de gabarito.
Sonho escrever crónicas que louvem a habilidade diplomática e o génio retórico do dr. Costa.
Sonho escrever crónicas que saltitem de júbilo pelo facto de partidos estalinistas ajudarem ao governo do país.
Sonho escrever crónicas que se orgulhem da influência do eng. Guterres nos destinos da Terra.
Sonho escrever crónicas que resgatem o enorme contributo do eng. Sócrates para o progresso pátrio.
Sonho escrever crónicas que apelem a consensos em volta dos poderes oficiais e oficiosos que só querem o nosso bem.
Sonho escrever crónicas que tomem partido pelas “causas” justas, daquelas que têm vítimas fixas e culpados fatais.
Sonho escrever crónicas tão despidas de interesses – mas não de interesse – quanto os isentos comentários televisivos dos “senadores” do PSD.
Sonho escrever crónicas que usem as palavras “descrispação” e “proactividade”.
Sonho escrever crónicas que repitam cada cliché disponível acerca do perigo que o sr. Trump representa.
Sonho escrever crónicas que se derretam de admiração pelas “selfies”, pelos “afectos” e pelos obituários, salvo seja, do prof. Marcelo.
Sonho escrever crónicas que denunciem as patifarias dos banqueiros, excepto dos que são perseguidos por Pedro Passos Coelho.
Sonho escrever crónicas que sublinhem o pacifismo do islão e o belicismo israelita e a culpa ocidental.
Sonho escrever crónicas que me candidatem a uma assessoria de imprensa ou a outro posto assim digno.
Sonho escrever crónicas que agradem às inúmeras personalidades de relevo que transformaram Portugal naquilo que é».
Mas não consigo: falta-me a espécie de talento que apenas raras dezenas (ou no máximo centenas) dos meus colegas de ofício possuem. Com boa vontade, o que sou capaz de fazer é o tipo de coisas que indivíduos desprovidos de patriotismo, consciência social e sentido de Estado poderão apreciar, aqui no Observador, a partir deste sábado. Os restantes não digam que não avisei».
Estava a ouvir a Quadratura do Círculo que chamou ao debate o último dos temas fracturantes que falta aprovar. Eu respeito a opinião da esquerda, agora não posso respeitar os argumentos.
Vou citar Jorge Coelho:
"Imagine a pessoa que você mais ama neste mundo a sofrer muito, a pedir que já não aguenta mais com dor e sofrimento, e não haver condição nenhuma de ser recuperado, e a pessoa com que vê a outra a sofrer, talvez por egoísmo, de ver se há alguma hipótese da pessoa sobreviver, não acompanhar este pedido da pessoa".
Mas depois apresenta um argumento contrário.
"Outra situação: Na sociedade egoísta em que vivemos pode haver razões que como hoje levam a haver muitas pessoas que são pura e simplesmente abandonadas em hospitais e em lares e ninguém da família as procura, quem é que nos diz que para resolver esse problema não é aplicada uma eventual lei desta natureza". Falava portanto da despenalização da morte assistida. Inicialmente não percebi e li neste exemplo um argumento a favor da eutanásia. Mas depois chamaram-me a atenção de que Jorge Coelho neste exemplo estaria a alertar para o risco de banalização da eutanásia. Pelo que altero o post que tinha escrito inicialmente.
Apresenta-se contra o referendo e na verdade acaba por ser a favor de adiar o problema. Porque não consegue decidir? Ou porque é contra a eutanásia?
1| A propósito ou quase sempre a propósito de questões ruptura - que é o que não falta por ai, e já fez correr muita tinta - contrapõe-se a questão do livre arbítrio que, e de forma muito genérica, é “o poder que cada indivíduo tem de escolher suas acções, que caminho quer seguir”. É, para muitas pessoas, sinónimo de liberdade. O que é, no entanto, e a meu ver, uma falácia. Já que supõe que a ideia e à prática da liberdade seja um conceito e uma prática universal. Supõe também que vivemos “à nossa imagem”, e nesse sentido a sociedade era o confronto de liberdades que se opõem. Era, portanto, a vitória da anarquia sobre a ordem.
Se é certo que o excesso de ordem, como acontece em regimes totalitários, seja inaceitável, o seu contrario seria o caos. A solução seria uma sociedade socialmente moderada que, na media das suas regras, possibilite a convivência entre os seus membros.
Recentemente, entre as medidas tomadas, e quase em catadupa, pela Administração Trump, há uma com a qual concordo em absoluto, e que repousa claramente na ideia do livre arbítrio. Estou a referir ao cancelamento dos apoios prestados a quem tenha abortado, e que foi uma bandeira do Presidente Obama. Embora não me choque que uma pessoa aborte – nomeadamente em situações muito particulares e, regra geral, já reguladas, como seja a violação ou a má formação do feto, a ideia que se aborte como se fosse anticonceptivo é perfeitamente chocante. As pessoas – e existem meios para o prevenir – tem que ser responsáveis pelos seus actos. É um pouco parecido com as brincadeiras – e muitas vezes é do que se trata – em que os acidentes mortais acontecem.
Um bom exemplo do livre arbítrio é a utilização de cintos de segurança ou de capacetes para condutores de motas. Como sabemos a sua utilização, é pelo o código da estrada, obrigatório. Porém, será que esta imposição legal é justa, já que a segurança de cada um deveria depender da nossa percepção de risco? Porque razão os pais não dão a uma criança um saco de plástico? Não existe, que eu saiba, uma lei que os impeça, no entanto estamos cientes dos risco de morte por asfixia que essa atitude comportaria.
Em suma, e em meu entender, o livre arbítrio depende unicamente da nossa visão da realidade, sendo a forma como somos capazes de a gerir. Se eu decidir andar sem cinto de segurança a decisão é exclusívamente minha. É reflexo da minha autonomia. Porém, como vivemos com outros, e diariamente somos expostos a todos os diversos risco esta autonomia "morre à nascença". Ou seja, é a percepção do real, por parte do legislador, que tornou a utilização dos meios de segurança - sejam eles quais forem - obrigatórios. Imaginemos que na minha autonomia faço finca-pé e decido que não quero usar cinto de segurança. Tenho um acidente grave, que necessita de internamento hospitalar porque razão os "cidadãos cumpridores" vão, com o seu impostos, pagar a minha reabilitação?
2| Esta introdução serve para reflectir sobre uma tema que está na ordem do dia. A eutanásia. Ou seja, a ideia de suicídio assistido para pessoas doentes em estado terminal.
Nunca passei por situação parecida. Ouvi, por exemplo, quando conduzia, na TSF, relatos impressionantes e, sobretudo, recordo “Mar adentro”, um enorme filme em que esta matéria é o leitmotiv do seu argumento. Nomeadamente, a relação complexa entre um doente em estado terminal e sua vontade de libertação, e o direito a morrer condignamente!
Muitas, e seguramente diversas, são as nossas visões sobre a morte, como também são diversas as formas como a medicina lida com o óbvio. Se podemos exigir a um advogado que nos resolva esta ou aquela situação, em rigor um médico não tem "essa" varinha de condão, não nos podendo oferecer a eternidade! Vive da sua circunstancia, onde o repto é fazer com que os seres humanos consigam ter a melhor qualidade de vida possível, inclusive a deles próprios! Recordo as palavras do filho de médico que lamentando-se, dizia: “Salvou tanta gente, que se esqueceu de se salvar a ele próprio!”
A redundância das palavras da “jet set” Lili Caneças é óbvia. Efectivamente estar vivo é o contrário de estar morto. Porém, o que está em jogo nesta questão é outra coisa. É a morte com dignidade.
Na relação com o paciente que lida com esta evidência, a medicina, desde os tempos gregos, tem três hipóteses, sendo que uma delas é o antónimo da outra. A eutanásia, a ortotanásia e a distanásia.
A ortotanásia, também conhecida por "eutanásia passiva", consiste em aliviar o sofrimento de um doente terminal através da suspensão de tratamentos que prolongam a vida mas que, perante os avanços da ciência médica (ainda) não resolvem a situação. É a situação em que o paciente ou um familiar em seu nome solicitam que os médicos “desliguem a máquina”. Trata-se de uma situação com consideráveis vantagens, até porque possibilita ao paciente a chamada “boa morte” - e se possível em casa, rodeado daqueles que lhe são mais próximos e queridos! Foi, aliás, o que aconteceu com a morte de João Paulo II. O Santo Padre quando, teve consciência que mais nada era possível, pediu para ir para os seus aposentos, dar tempo ao tempo e, então, morrer serenamente. É, na tradução literal do grego, a "morte correta". Conceito inversamente contrário da distanásia, cujo objectivo é o prolongamento artificial do processo de morte, sabendo de antemão que medicina não prevê possibilidades de melhoria ou de cura. Naturalmente que não concordo com este procedimento. Não leva a lado nenhum, e os seus encargos financeiros são, seja para a família, como para o Estado, desnecessários. Até porque impedem que alguns dos recursos técnico sejam utilizados em situações em que a cura seja uma realidade.
3| Não existe na Bíblia qualquer referência directa ao Livre-arbítrio, no entanto Deus oferece "ao ser humano o poder de escolher". Mais tarde, Santo Agostinho volta a este assunto, quando em 395 escreveu “De Libero Arbítrio.”
Nesta obra, elaborada na forma de diálogo entre ele e Evódi, Santo Agostinho apresenta algumas teses a respeito da liberdade humana, tal como aborda a origem do mal moral.
Aqui, ele diferenciou os conceitos de liberdade e de Livre-arbítrio: “se o livre arbítrio é a possibilidade de escolher entre o bem e o mal; e a liberdade é o bom uso do livre arbítrio. Isso significa que nem sempre o homem é livre quando põe em uso o livre arbítrio”. Ou seja, o que é importante é a forma como o homem utiliza esse livre arbítrio que está mais relacionado com a vontade.
No seio do espiritismo, segundo a qual “o livre arbítrio é uma das propriedades fundamentais do Espírito”, o ser humano tem a faculdade de escolha, de optar pelo caminho que que quiser seguir e/ ou evitar. Assim, e contrário das teorias deterministas, os actos praticados não são premeditados. Porque racionais, os seres humanos deverão ser responsabilizados pelas atitudes tomadas.
É neste contexto, uma vez existem outros cenários possíveis, que me afirmo, desde já, contrário à liberalização da eutanásia. Ao fazer, o médico torna-se cúmplice dum acto não médico. Já que o objecto da medicina é prolongar a vida dos pacientes. Se não houver, como vimos, uma solução então a ortotanásia parece ser, pese embora ainda não ser aceite legalmente em Portugal, a solução preferível.