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Acho um topete o actual Governo tirar dividendos da solução para aumentar o capital do Novo Banco que foi decidida e imposta pelo BCE. Nunca esteve em causa serem os contribuintes a pagar o reforço de capital do Novo Banco de 1,4 mil milhões. Nem indirectamente através da CGD. Aliás toda a legislação europeia sobre resgate a bancos vai precisamente no sentido de não chamar os contribuintes. O mérito do Governo de Costa/Centeno nesta matéria é zero! O bail-in do Novo Banco (que chama os investidores institucionais a perderem os títulos de dívida sénior do BES e Novo Banco) de quase 2 mil milhões de euros vai no sentido da lei de resgate de bancos/Resolução. Foi Bruxelas que decidiu que os Depositantes/clientes dos bancos serão chamados antes de qualquer contribuinte (via Estado) ser atingido pela recapitalização da banca. Assim como no Banif. O Banif estava precisamente a ser pressionado por Bruxelas para pôr fim à ajuda do Estado (contribuintes) e para passar a ser pago pelos outros stakeholders: accionistas, obrigacionistas, gestores, Fundo de Resolução, etc. Não há nenhum mérito do Governo em "salvar contribuintes" nem no Banif nem no Novo Banco. Isso é a regra da Europa. Na verdades todos os Governos que se apoderam de medidas que são ditadas por instituições europeias, que estão acima dos Governos dos Estados, não estão a ser sinceros. Os Governos têm um papel muito limitado na escolha do modelo de resolução dos bancos. Se há alguma margem de escolha ela é limitada, e está balizada pelas regras ditadas pelos reguladores europeus.
A grande pergunta é: quanto é que a Tranquilidade vai perder com o bail-in do Novo Banco?
Tal como temia, e escrevi aqui, e aqui, e aqui, o Novo Banco vai ser alvo de um bail-in. Pelo menos é essa a decisão do BCE, que delega depois no Banco de Portugal a árdua tarefa de o decretar e implementar. Vêm aí mais críticas políticas, mais jogos de culpas entre políticos. Carlos Costa vai ser novamente criticado. A Mariana Mortágua vai dizer que o melhor era a nacionalização, o Jerónimo de Sousa também.
Diz a TSF que "ao que confirmou, os 1,2 mil milhões vão resultar da transformação de dívida sénior, ou dívida não subordinada (obrigações que pressupõem prioridade no pagamento em caso de incumprimento), em capital".
O Novo Banco vai ser capitalizado através das obrigações séniores (não subordinadas) do banco ex-BES. E, ou muito me engano, ou os depósitos acima de 100 mil euros ficam na linha da frente para serem convertidos em capital do Novo Banco.
As novas regras são essas, não há líder político de nenhum Estado-membro que tenha poder para as mudar.
Obviamente que não vai ser um empréstimo do Fundo de Resolução que vai capitalizar o Novo Banco. O que seria para o sistema bancário que vai ter de encaixar perdas de uma venda abaixo dos 4,9 mil milhões, ainda ter de registar perdas maiores face a um capital lá injectado de 5,5 mil milhões? Só na cabecinha de pessoas que pensam pouco, pode surgir tal ideia e mais ainda ser difundida como notícia. Se assim fosse então é que a Resolução em vez de evitar o risco sistémico, propagava-o, uma vez que para salvar o Novo Banco havia dois ou três bancos que ficavam sem capital suficiente e a precisar de Resolução, e era uma espiral sem fim. O Novo Banco terá de se capitalizar com vendas de activos e com bail-in. Não há alternativa. A não ser que seja nacionalizado.O Estado não pode ajudar o NB, porque isso desvirtua a concorrência.
BPI: projecto de cisão em dois bancos foi registado na conservatoria.
O que importa no comunicado: "Por cartas de 14 e 26 de Outubro de 2015, a Unitel, indicou ao Banco BPI que a sua posição era a de não dar o seu consentimento à transmissão por cisão da participação do Banco BPI no BFA. Na última das cartas referidas a Unitel deu nota de que considerava existirem diversas alternativas que poderiam optimizar os interesses de ambas as partes e que estava disponível para as analisar e discutir".
Segundo ponto a reter no comunicado: "Na sequência desta posição, a Comissão Executiva do Conselho de Administração do Banco BPI promoveu um conjunto de actuações que envolveram conversações com a Unitel e com os dois maiores accionistas do Banco BPI (CaixaBank e Santoro Finance), com vista a definir ajustamentos aos termos da cisão que permitissem obter uma alteração desta posição da Unitel. Estas conversações decorreram de forma construtiva mas até ao momento não permitiram alcançar os ajustamentos aos termos da cisão".
E finalmente: "Informa-se ainda que por carta de 10 de Dezembro último, o Banco Nacional de Angola deu nota ao BPI, entre outros aspectos, de que, considerando a existência de um acordo parassocial entre o Banco BPI e a Unitel, nos termos do qual é proibida a transmissão das participações por cada um detidas no BFA sem o acordo entre eles relativamente a essa transmissão, apenas poderá analisar o pedido apresentado após acordo entre o Banco BPI e a Unitel".
Conclusão: não vai haver cisão e a Unitel vai forçar a venda do BFA por parte do BPI ou a fusão com o BCP.
O que Isabel dos Santos parece querer com muita força é a fusão do BPI com o BCP da Sonangol/Carlos Silva. Não desarma, custe o que custar.
Não é todos os dias que o problema se põe de forma tão clara. Este artigo do João Pires da Cruz, com o sugestivo título "quando a pseudo-ciência leva um BANIF sem necessidade nenhuma", vai ao essencial do que se passa no mundo com o sector bancário. Só não concordo com ele no que se refere a elogiar a gestão anterior. As regras mudaram é verdade, mas maus actos de gestão são maus actos de gestão em todos os tempos. Por outro lado também acredito que, por mais que as regras sejam irracionais, quem gere sabe quais são as regras do jogo e tem de fazer o melhor nesse contexto.
Mas vejamos o essencial do que é dito no artigo do Observador:
Na verdade, nem o BES, nem o BANIF faliram. Nenhum deles tinha, aliás, atingido capitais próprios negativos como atingiram, muito possivelmente, todas as outras empresas com que o caro leitor lida todos os dias. O que aconteceu é que existe uma lei bancária, emanada do comité de bancos centrais quase-global, que impõem que os capitais próprios dos bancos sejam, grosso modo, 8% (10%, no caso português depois da intervenção da troika, creio) do montante que emprestam. O BES, quando foi intervencionado tinha 5%. Porquê? Alegam os reguladores que os bancos, assim, promovem uma almofada de dinheiro para defender o sistema de colapsos.
(...)
Primeiro, não há uma única razão objectiva para o valor de 8%. Na verdade, ninguém sabe hoje porquê 8%, porque não 5%, ou 2%, ou 90%. Um dia definiu-se 8% porque uns quantos países já tinham definido internamente uma percentagem e resolveu-se fixar os 8%. Uma das exigências que o governo da república continua sem fazer ao Banco de Portugal é a explicação cabal, de sustentação científica clara, da razão pela qual o nível de fundos próprios tem o valor que tem. Afinal, se o contribuinte está lá a meter o dinheiro para cumprir esse nível é porque há uma justificação concreta, certo?
Segundo, os bancos são agentes económicos que não se relacionam com a envolvente de forma aleatória. Nenhum agente económico é. O caro leitor não vai com a mesma probabilidade ao hipermercado que vai ao barbeiro da sua rua. Tal como não vai com igual probabilidade a todos os bancos. É mais provável que vá à CGD, a seguir ao BCP, etc. O que significa que a almofada que os reguladores dizem formar-se, não protege em nada o sistema. Isto porque se cair um dos grandes a reacção será em cadeia, levando atrás todos os bancos independentemente da suposta almofada, que só funcionaria se os bancos fossem todos da mesma dimensão e se relacionassem “ao calhas”. Isto demonstra-se matematicamente e a realidade mostra-o à exaustão.
Terceiro, não bastando o facto de a imposição da almofada ser inútil para a protecção do sistema financeiro, consegue provar-se matematicamente que é errada. A ideia de que existe a necessidade dessa almofada deriva do mundo financeiro onde os diversos activos têm preços a flutuar de forma que existem sempre perdas esperadas e inesperadas, no sentido estatístico. Digamos que se perder dentro da média será esperado, se perder muito para lá da média, será inesperado. A almofada serve para cobrir a eventualidade dessas perdas inesperadas, já que as esperadas são cobertas pelos ganhos esperados.
Os reguladores bancários caíram na asneira quase infantil de fazer o mesmo com os activos dos bancos de retalho, isto é, os empréstimos que os bancos fazem a si e a mim. E a asneira é infantil porque ignora que um banco de retalho não diversifica os seus activos só pelo tipo, mas também pelo tempo. Em termos financeiros, a carteira do banco de retalho está sempre a ser renovada à medida que os créditos existentes vão andando.
Matematicamente, isto faz toda a diferença do mundo, quer naquilo que é a perda esperada da totalidade da carteira quer aquilo que é a perda inesperada.
(...)
Isto significa que, ao contrário dos outros negócios, se calhar a banca de retalho é mesmo aquele em que leis de imposição de almofadas fazem menos sentido.
(...)
Em termos económicos, o BES não faliu. Mas a decisão administrativa de o tornar falido custou-nos a todos nós muito dinheiro. A injecção de capital que a troika destinou a montar almofadas nos bancos chegava a 12 mil milhões de euros – cerca de um sétimo de todo o resgate. E para quê? Para satisfazer uma lei que está errada no seu objectivo.
Há anos que Fernando Ulrich, presidente do BPI vem alertando para o facto de as almofadas de capital, sobretudo em alturas em que há necessidade de dar crédito à economia, não fazem sentido. O presidente do BPI já em 2011 dizia: "o programa da troika para a banca não faz sentido",referindo-se ao facto de ser muito exigente em termos de rácios de capital. E por isso devia ser "repensado de alto a baixo"
Gosto muito do José Gomes Ferreira, e gosto do Jorge Tomé. Mas a entrevista dos dois não gostei nada. O Jorge Tomé respondeu arrastado... Por exemplo: o Jorge Tomé disse que o Banif teve lucro de seis milhões em Setembro e o Zé não lhe perguntou pelo impacto da venda do Banco Mais nesse lucro...
O Jorge Tomé disse que este ano pediu uma avaliação aos activos imobiliários para os vender e o Zé não perguntou porquê só este ano?
O Jorge Tomé disse que as contas estavam equilibradas mas esqueceu-se de falar do impacto no capital. Limpar as contas impacta no capital.
A DGComp achava que a ajuda pública era desproporcionada face aos activos do Banco, confessou o CEO do Banif e bem. Mas como é que o Zé não concluiu que quem determinou o fim do Banif foi Bruxelas, depois de Jorge Tomé ter designado ser vítima de um estigma por não ter pago a última tranche dos CoCos (por terem de contabilizar a perda de uma operação cruzada com o BES em 2014).
Mas Jorge Tomé ao mesmo tempo que descreveu que todas as decisões eram decididas pela DGComp criticou a dependência do Banco de Portugal de Bruxelas (citou o exemplo da Grécia).
Jorge Tomé lá explicou que as vendas de activos em continuidade valem mais (talvez tenha levado este princípio longe demais). Por isso é que demorou tempo demais a tentar vender os activos? O Jorge Tomé lá falou da separação dos activos não bancários para vender o Banif (o que só foi feito este ano) e o Zé não perguntou porquê só agora, ao fim de oito planos enviados à DGComp e recusados.
Jorge Tomé defendeu ainda que era "apenas" preciso 350 milhões para capitalizar o Banco. Mais capital do Estado? Apontou à Ministra das Finanças anterior por não ter capitalizado ainda mais o Banif.
Depois revelou ainda que subtilmente o valor oferecido pelo Santander Totta inicialmente: 400 milhões. Era o preço do banco limpo dos activos imobiliários (que estariam separados num bad bank), quem ficaria com esse bad bank? Não foi perguntado? Quanto custaria? 300 milhões, para uma carteira de 1,5 mil milhões.
Apontou à TVI a culpa da desvalorização dos 400 milhões para os 150 milhões pagos pelo Santander Totta.
Das respostas do CEO do Banif se extrai qual foi o problema da sua gestão: o arrastamento à procura de vender no melhor momento, porque sob pressão vende-se mal. Embora não o tenha confessado.
Título da notícia:
Centeno: Governo queria integrar Banif na Caixa, mas Bruxelas não deixou
Se não fosse Bruxelas este Ministro das Finanças, que era do Banco de Portugal até ao fim de Julho deste ano, ia pôr um buraco nas contas da CGD. Medida inteligente essa... Já não basta a Caixa estar com necessidades de capital ainda levava com os activos "bons" do Banif!
Nem queria acreditar quando li estas declarações da administração do Banif. É este o título do Expresso: Administração do Banif diz que não foi ouvida e que esta não é a sua solução.
Num comunicado enviado aos trabalhadores, a administração liderada por Jorge Tomé lamenta “profundamente a decisão de desagregar o Banif".
A solução da administração do Banif é a mesma desde 2012: arrastar o processo até que haja um milagre. O Jorge Tomé entrou no Banif em Março de 2012. O banco que recebeu tinha muitos activos tóxicos é certo. Mas desde 2012 até hoje o que conseguiu fazer para os limpar? Não teve tempo de vender a carteira de créditos a alguma dessas empresas de créditos dificeis? Não teve tempo de limpar do balanço os créditos com défice de colaterais? E recebeu de mão beijada 1.100 milhões de euros!!!
O Banif não conseguiu vender as subsidiárias do Brasil (apesar de ter reestruturado muita coisa lá); não conseguiu vender a Açoreana (e havia interessados nela); só conseguiu vender o banco em Malta quando já tinha uma resolução a cair-lhe em cima. For god sake!
O Banif andou anos a engonhar! Todas as perguntas que se fazia para lá obtinham como respostas que a consulta pública da investigação aprofundada ainda está a decorrer. Era desesperante.
E depois Jorge Tomé pôs as culpas nos outros: "O Governo não quis misturar processos do Novo Banco e Banif, não quis abrir concurso para vender o Banif porque não seria “a melhor solução” na altura. E o Banco em Malta alguém o proibiu de vender? E a Açoreana?
O Jorge Tomé convenceu os accionistas privados a irem a um aumento de capital, acenou com accionistas da Guiné Equatorial, depois com chineses, por fim com fundos americanos e bancos espanhóis, mas nunca conseguiu concretizar nada.
Eles mandaram OITO planos de reestruturação para a DGComp europeia. Todos chumbados. Não realizaram que não iam ser aprovados nunca?! Estavam a pensar continuar a jogar ao jogo do gato e do rato eternamente?
O único pecado do Governo foi não ter tido a coragem de intervencionar o banco mais cedo (iria ter inevitavelmente custos para os contribuintes) mesmo que tivesse que levar com os insultos e perda de popularidade. Talvez devessem ter ido contra o Banco de Portugal em 2012/2013 e aplicassem logo a Resolução ao Banif.
Está tudo a passar ao lado da responsabilidade do board do Banif, mas porquê? Por causa da simpatia pessoal do Jorge Tomé? Eu também gosto bastante do Jorge Tomé, é um encanto de pessoa. Provavelmente acreditou que o banco iria ser vendido e tudo acabaria bem. Aliás perdeu 190 mil euros em acções do banco. Na altura das notícias de que tinha investido eu pensei (julgo que cheguei a legendar a notícia no Facebook com um ´Ganda Maluco´) que era o cumulo da inconsciência. Jorge Tomé falhou no Banif.
O António Horta Osório deve achar do outro mundo alguém pegar numa banqueta e não lhe conseguir dar a volta (falo do Jorge Tomé) enquanto ele pegou no monstro do Lloyds e recuperou-o
Resolução ao Banif inclui os 900 milhões de perdas em depósitos. A notícia da TVI (que não era assim tão falsa afinal, era meia verdade) provocou uma descida do preço do Banif. É preciso ver quanto é que o Santander tinha oferecido antes. É preciso ver se 150 milhões não é um preço de saldo perante a ruptura de liquidez.
Nunca houve mais interessados no Banif se não o Santander.
É preciso ver que aumentos de capital foram colocados aos clientes do Banif (na rede), incluindo obrigações subordinadas, porque esses clientes são agora os lesados do Banif.
É ainda preciso contabilizar os efeitos da provável falência da Rentipar.