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Era previsível. Sem o suporte do La Caixa o BPI nunca poderia comprar o Novo Banco. O preço até onde poderia ir exigia um aumento de capital com forte suporte do seu maior accionista: o banco catalão com 44%. É que apesar de só ter 20% dos votos o esforço financeiro exigido ao La Caixa é de 44% 

A OPA, que foi lançada em Fevereiro pelo Caixabank, tinha em vista essa compra. Era finalmente o passo para o crescimento por aquisições. Ao longo da vida o BPI foi tentando crescer por aquisições, mas depois das privatizações do Fonsecas & Burnay e do Fomento e Exterior, nunca mais teve sucesso nas várias tentativas em que participou. Desta vez foi Isabel dos Santos que estragou a tentativa de aquisição do Novo Banco. Ao propor uma fusão com o BCP, em que os angolanos ficariam os maiores accionistas, divorciou-se de um acordo para a OPA, boicotou as saídas do BPI para crescer e condicionou as saídas para ultrapassar a questão do BCE ter passado a considerar o Banco Nacional de Angola como contraparte não-equiparável à banca europeia. É sempre preciso recordar que mesmo esta decisão do BCE pode ser alterada no futuro, uma vez que é avaliada todos os anos.

Com a fusão BPI/BCP comprometida e a OPA do La Caixa sem condição de sucesso verificada (desblindagem de votos), o BPI terá de se desdobrar em soluções inventivas para ultrapassar o peso  de Angola no ponderador de risco para efeitos de capital. Terá de vender dívida pública angolana, que é uma fonte de receita essencial, ou terá de vender acções do BFA e descer abaixo do domínio e assim deixar de consolidar integralmente o banco comercial angolano nas suas contas e isso é um forte revés nos resultados.

A fusão com o BCP parece cada vez mais distante. A OPA do La Caixa parece estar num impasse. Assim cada um dos dois accionistas terá de abdicar do braço-de-ferro. Os braços-de-ferro são sempre coisas pouco inteligentes porque levam a becos sem saída e todos perdem. O BPI está a caminhar para um beco sem saída. 

O BPI parece estar condenado a ser o mais pequeno dos grandes. É um karma. É uma malapata. Desta vez foi Isabel dos Santos que comprometeu o sonho do BPI.

publicado às 00:19

A beleza é aquilo que mais abate o fingimento

por Maria Teixeira Alves, em 06.04.15

A ver o Vale Abraão de Manoel de Oliveira e a pensar o quão genial é a Agustina. Porque só ela punha de forma tão irónica (e com o recurso à boutade) o impacto avassalador que a beleza tem na sociedade, no bem e no mal.
«O mal é só um tema de homilias, não se sabe se existe», diz ela. Depois de dizer que «A beleza é aquilo que mais abate o fingimento».

A beleza como musa inspiradora da admiração, por um lado e do medo e desconfiança, por outro. Raramente a beleza é musa inspiradora do amor, raramente. Mas isto digo eu. Agustina vê na beleza a fonte do poder, com tudo o que de épico e trágico isso implica. «Ema é uma fogueira», é dito. A beleza fascina e assusta, atrai o deslumbre e a vingança.

A sua beleza estonteante, se por um lado atrai todas as atenções e olhares e representa a força dominadora da sua existência, é ao mesmo tempo factor de marginalização social, pois representa uma ameaça tanto para os homens como para as mulheres: Ema torna-se uma mulher cada vez mais inadaptada. "Embora comece por ser seduzida pela vida mundana de Vale Abraão, nunca chega a inserir-se completamente, pois não entra no mesmo jogo das conversas de conveniência dos serões de uma sociedade que faz brilhantes dissertações sobre conceitos, que apenas cuida da imagem. Ema acaba por ser um estorvo, coloca questões que incomodam e, por isso, será sempre uma inadaptada Para sobreviver a essa sociedade que lhe é hostil, uma vez que todos a vêem como uma ameaça, Ema, consciente da sua exclusiva beleza, recorre à provocação e à evasão. Assume uma postura teatral, dissimula, para se tornar num objecto de admiração e de desejo e dominar a sua vida sexual e social" [é dito numa tese de mestrado em Estudos Francófonos, sobre o livro de Agustina].

Vale Abraão de Agustina é uma espécie de Madame Bovary transposta para o cenário do Douro.

"Ema bate-se contra a rede de pequenas e formidáveis misérias que se apertam em volta dela. Heroína provinciana das insatisfações típicas do ser humano"

 

Só como um romance filmado (e bem filmado), ao som de Bethoveen, Strauss e de Debussy, se pode perceber o filme de Manoel de Oliveira.

Ema é uma mulher insatisfeita, com desejos que ela própria tem dificuldade em definir. Dona de uma beleza estonteante, cedo começa a sentir por parte dos outros uma animosidade que, ao contrário de a surpreender, a faz sentir merecedora do desprezo. Os homens desprezam-na porque sentem na beleza dela algo de perigoso, têm medo do que não compreendem e desprezam-na. Ema procura ser amada, e vive num limbo entre querer um príncipe encantado que a tire da mediocridade, sustentando-a e tratando-a como um ser belo e digno de adoração e, o desejo que tem de ser independente e respeitada pelo que é e não pelo que esperam que ela seja.  O que ela pretendia era tornar-se inteligível e nunca conseguiu.

«O seu snobismo latente vinha ao de cima quando tinha de ouvir falar da Dona Augusta, o protótipo da papa-hóstias cuja bondade era uma história de cordel».

«Ema não iludia ninguém. Não tinha táctica. Tinha só o sentido do espectáculo.
Vestia-se e agia, como se tivesse de conquistar Holofernes no seu arraial, mas na realidade, não passava de um erotismo tabelado pela utopia do poder e da importância social.»

 «O que se aprende não tem a ver com o que se pensa, mas sim com os mal entendidos. Nunca percebi porque me chamam Bovarinha, e já li o livro duas vezes».

«A comédia leva a melhor sobre a vida»

 

 

publicado às 01:25

Manoel de Oliveira foi essencialmente reconhecido fora de Portugal. Chegou a receber a Legião de Honra francesa, país onde os seus filmes foram sempre adorados, ao contrário do que aconteceu em Portuga onde os seus filmes nunca foram especialmente apreciados. Foi nomeado e recebeu prémios, em Cannes, Berlim, Veneza, Chicago, São Francisco, tantos outros. Lembrei-me de uma célebre graça do Woody Allen, que disse sobre os seus filmes:«Os meus filmes não têm sucesso nos Estados Unidos, mas são um sucesso na Europa. As legendas devem ser fantásticas».

publicado às 22:51

Manoel de Oliveira em frases

por Maria Teixeira Alves, em 03.04.15

 

“A liberdade impõe, logo de começo, o respeito pelo próximo. Isto pode explicar um pouco os limites da própria vida. Quer dizer, é preferível morrer a perverter a dignidade”.
 
“A fome é o que nos garante a subsistência. Se não tivéssemos fome, não comíamos, não comendo, não sobrevivíamos. Se não tivéssemos o desejo, não teríamos a relação sexual e a relação sexual é que garante a continuidade da espécie. O desejo é uma coisa, a fome é outra. São os dois para a continuidade: um para a continuidade do indivíduo, o outro para a continuidade da espécie”

"Todos sabemos que vamos morrer. É a única certeza que temos. Não tenho medo da morte. A vida é que tem perigos - a inveja, o ódio, o mal. A morte é um descanso"

“O homem é um bocado como o gato, fica preso às casas porque nelas se passaram histórias, e a casa é o guardião de todas essas histórias, problemas, alegrias, etc…”

“A santidade está ligada ao sentido verdadeiro de liberdade, é o desprendimento total das coisas terrenas. Agora, se está preso pelo dinheiro, por uma paixão, pelo desejo de uma mulher, por isto, por aquilo, anda sempre agarrado a esta porcaria que é o campo terreno”.

“A função da crítica é fazer compreender ao espectador os filmes, entendê-los. Mas para fazer compreender é preciso que eles os entendam; se não os entendem, também não podem dá-los a entender. Essa é a verdadeira função do crítico: apreciar os filmes”.

“É a derrota. A vida é uma derrota. A gente vive na derrota. Nasce contra vontade, e não é senhor do seu destino”.

“É verdade, sou muito levado por intuições. Fui um péssimo aluno, não fui muito além nos estudos”.

“Em casa falta-me espaço, na vida falta-me tempo. E não posso dar remédio nem a uma coisa nem a outra”.

“O cinema é imaterial, o teatro é material: os actores têm carne e osso, estão lá, vivos, nos cenários. Mas o cinema, não – é um fantasma da realidade”.

“Hoje a liberdade é tida como um direito absoluto. Mas não há liberdade absoluta. A liberdade não é sequer um direito. A liberdade é um dever, um dever fortíssimo. A liberdade é o respeito pelo próximo”.

“Casai-vos e multiplicai-vos. Como é que se vai multiplicar homem com homem e mulher com mulher?”.

"Ser simples quer também dizer ser claro, e ser claro é trazer à superfície o que é mais profundo"

“A arte é especial. Há uma só lei: o tempo. O tempo é o grande juiz, é o grande juiz de tudo”.

 “A eternidade é parada”.

“Não há criadores, há recriadores. Criador é um só, todos nós fomos criados. Toda a arte é um reflexo, um espelho, da vida. E nem o teatro faz isso como o cinema. Vê-se um filme passado numa certa época e essa época está lá retratada”.

 

 

publicado às 12:31

Porque hoje é Sexta-feira Santa

por António Canavarro, em 03.04.15

mario tropa 3.JPG

 Um trabalho de Mário Tropa, pintor há muito radicado em Santarém.

publicado às 11:51

Tudo é literatura

por Maria Teixeira Alves, em 02.04.15

IMG_0538.JPG

 

Se há uma coisa que gostava em Manoel de Oliveira é do elogio que o cinema dele faz à literatura. A relação com a palavra literária é vital no universo de Manoel de Oliveira. Daí a forte relação com Agustina Bessa Luís, de quem gostava como amiga e escritora.

Chegou a dizer que gostava de realizar a última obra de Agustina, A Ronda da Noite. «Gostava de fazer esse em homenagem à Agustina Bessa-Luís, que é uma grande escritora». Morreu sem conseguir cumprir esse desejo.

Mas já lhe prestou muitas homenagens, já fez outros filmes baseados na obra dela. Essa sua ligação à Agustina, o que é? [pergunta-se o DN] «A Agustina é uma pessoa que me faz bastante falta. Faz muita falta à literatura portuguesa».

Mas faz mais falta à cultura portuguesa ou a si, como amiga? [pergunta-lhe o DN] «Faz mais falta à literatura portuguesa, à literatura universal. Porque um artista faz sempre parte desse conjunto, não está limitado a si próprio, está ligado ao mundo e à história. Isso é importante. Se fizesse esse... porque gosto muito de A Ronda da Noite, porque é um quadro que o pintor apresentou à corte e a corte figurava nele, n'A Ronda da Noite, e foi pessimamente recebido. Foi troçado. E ele ficou desgostosíssimo e depois voltou para casa. E no dia seguinte, ao pequeno-almoço, falava com os discípulos e dizia-lhes: "É terrível, não é? Porque o militar tem a sua glória na vitória, o comerciante tem a sua glória nos lucros, e o artista, onde é que tem a sua glória? Já a perdi. A sua glória, verdadeiramente, é morrer pobre." Ele fingiu-se de pobre, o Rembrandt, fez-se triste, precisava, e não lhe ligavam nenhuma. Mas depois fez-se um pobre alegre, brincalhão, e então toda a gente achava graça e ajudava-o!»

 

Perguntam vocês: porque raio se escolhe uma fotografia destas para ilustrar este tema?

Para mim tudo é literatura. O jornalismo só é bom se tiver uma boa dose de literatura. Claro que pode haver jornalismo sem literatura, mas para dar aquele salto para a genialidade tem de ser literatura. Quem viu no jornalismo nada mais do que marketing, pessoal ou colectivo, não levou os jornais a sério, nem elevou o jornalismo à categoria de alta qualidade. Falhou redondamente. Porque apenas a qualidade resiste ao tempo e às adversidades.

Com o cinema também acontece a mesma coisa. Precisa da literatura para atingir a genialidade. Woody Allen, nos seus melhores filmes, era literatura. François Truffaut era literatura. Entre outros. Por exemplo, porque é que o Birdman ganhou o óscar de melhor filme? Porque é literatura.

Tudo é literatura. A negação das evidências é literatura (daí a foto que ilustra este post).

As nossas vidas têm de ser lugares de beleza [Bento XVI]. Pois se nem todos podemos ser escritores sejamos literatura. Como diria um célebre actor If you cannot be a poet, be the poem.

 

 

publicado às 16:49

Escrito na pedra

por António Canavarro, em 02.04.15

mool.jpg

 “Os meus filmes têm histórias um pouco profundas, às vezes difíceis de compreender. Por isso, filmo-os da forma mais clara possível. É preciso que o cinema seja claro, porque tudo o resto (as paixões, a vida), não o é”. 

Manoel de Oliveira

publicado às 16:04

Morreu Manoel de Oliveira, aos 106 anos

por Maria Teixeira Alves, em 02.04.15

 «cuidado com as vitórias, porque podem redundar em derrotas»

«É a derrota. A vida é uma derrota. A gente vive na derrota. Nasce contra vontade, e não é senhor do seu destino».  

publicado às 13:34

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