Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A Doutrina Perfeita
Muitas vezes as pessoas dirigem-se a mim, dizendo: «você, que é independente». Não sou assim; continuamente devo ceder a pequenas fórmulas sofisticadas que corrompem, que dão um sentido inverso à nossa orientação, que fazem com que a transparência do coração se turve. Continuamente a nossa insegurança, o egoísmo, o espírito legalista, a mesquinhez, a vaidade, toda a espécie de circunstâncias que tomam o partido da vida como desfrute à sensação se sobrepõem à luz interior. Só a fé é independente. Só ela está para além do bem e do mal.
Estar para além do bem e do mal aplica-se a Cristo. «Perdoa ao teu inimigo, oferece a outra face» - disse Ele. Não é um conselho para humilhados, não é um preceito para mártires. Nisso aparece Cristo mal interpretado, a ponto de o cristianismo ter sido considerado uma religião de escravos. Mas esquecemos que Cristo, como Homem, teve a experiência-limite, uma visão do inconsciente absoluto, o que quer dizer que a sua consciência foi saturada, para além do bem e do mal. Esse homem que perdoa ao seu inimigo não o faz por contrariedade do seu instinto, por reparação dos seus pecados; mas porque não pode proceder de outra maneira.
A sua natureza simplificou-se; nada o pode abalar, porque ele desesperou para sempre da sua controvérsia e, possivelmente, da sua humanidade. A agonia do Homem é isto - a sua conversão à luz interior. Qualquer doutrina que professe a luta, seja doutrina social ou religiosa, impõe-se facilmente às massas, porque a luta bloqueia a evolução profunda do homem, a qual é motivo da sua angústia. Um sábio, grande figura bíblica, disse: «A causa do temor não é outra coisa senão a renúncia aos auxílios que procedem da reflexão». Ligados todos por uma igual cadeia de trevas, os homens julgam superar os factos por meio duma acção violenta. Dispersam os seus fantasmas prodigiosos durante algum tempo, mas logo são surpreendidos por inesperados terrores. A melhoria das suas condições de trabalho, o direito ao lazer e à cultura, a protecção à saúde e à velhice, tudo isso foi uma necessidade imposta pelos factos, mas só actua como lei se for manifestado pela reflexão. A doutrina perfeita nem ofende a multidão nem se arroja a seus pés. Não é feita de belas palavras nem dum folclore de atitudes. A natureza combate pelos justos. Essa natureza é a fé.
Agustina Bessa-Luís, in 'Contemplação Carinhosa da Angústia'
Raphael Bordallo Pinheiro dizia que somos um Povo à espera. Sempre à espera.
O Poeta Pede a Seu Amor que lhe Escreva
Meu entranhado amor, morte que é vida,
tua palavra escrita em vão espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.
Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.
Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d'alma.
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'
"Há uma trincheira de onde eu não saio. Não nego que haja lobbys, ou interferência entre os governos e os negócios. Mas como princípio de actuação governativa, a minha leitura é que este governo, na sua cúpula, é aquele que mais distante está desta política de promiscuidade que se viu nos últimos 10 anos. Este governo, esta ministra das finanças, este primeiro Ministro, é aquele, da minha experiência dos últimos 14 anos, que menos interferência tem no cruzamento de favores, intenções e objectivos com as empresas. Isso para mim é saudável".
Eu também não saio da mesma trincheira
P.S. Vou anexar um novo comentário, desta vez de António Costa, na Quadratura do Circulo, que considero ser um bom comentário.
"Alinhamentos estratégicos não podem ser confundidos com promiscuidade de interesses (...). O dominio da imprensa económica pelos grupos , para determinar a sua linha editorial, como forma de construção de uma doutrina. Hoje a grande promiscuidade existe entre a comunicação social e o poder financeiro". O António Lobo Xavier até disse que "até aqui tiro-lhe o chapéu". Eu também tiro.