Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ao longo deste meu tempo de existência como observadora da realidade, isto é, como jornalista, e tendo eu estudado sociologia, não consigo deixar de pensar o quanto Marx estava errado quando disse que a Luta de Classes era o motor da História. A luta de classes é o travão da História. Não há nada mais bruto, básico, pouco inteligente, que as lutas de classes. De todos os lados, atenção! É uma coisa tão primária e selvagem. É perpectuar preconceitos, é reduzir a realidade às diferenças de conceitos de estética. É redutor porque é cego aos detalhes próprios de cada um. Cala o mérito, aniquila o bem e esconde o mal, tudo atrás de chavões. Condena à partida ideias que nem chegam a ser ouvidas porque caem facilmente nos estigmas dos preconceitos. As lutas de classes são o grande travão da evolução da humanidade, porque são fruto de sentimentos de vingança, de inveja ou de soberba. Porque põe os conceitos sociais, em suma o senso comum, acima da riqueza individual. But... there is no such thing as society. There are individual men and women, and there are families, dizia Margaret Thatcher. Eu acrescento, o que há são as ideias e os actos. É isso que destingue as pessoas. Agrupem-nas por isso. Não tenho nada contra classificações.
Reparem nisto:
Esta ideia de que ser de uma classe privilegiada é uma condição a abater e a travar, ou o contrário, se és de uma classe desprivilegiada és uma pessoa a desvalorizar, e a não ter em conta, é a condição desta teia de absurdos incompreensíveis onde o mundo se vê envolvido. Como é o caso do regime de Nicolás Maduro e das recentes convulsões que esse regime provocou na Venezuela.
Quem conta com a ignorância do outro não é sábio. Sabedoria é contar com a bondade.
Este ano ataquei nos saldos.
Meias, camisolas, camisas, calças, sapatos... e livros.
Há que vestir o corpo e a alma!
Car, vois-tu, chaque jour je t’aime davantage,
Aujourd’hui plus qu’hier et bien moins que demain.
Rosemonde Gérard
"Sei que só há uma liberdade: a do pensamento."
Saint-Exupéry
1| Já o escrevi aqui. Se calhar não leram. Coitados. A falta de tempo e o desinteresse ditam as regras. Sou teimoso. Vou repetir: este povo é merdoso. É estruturalmente inculto e, sobretudo, desrespeitador daqueles que à sua maneira, remando sempre contra a maré, habitantes da utopia, teimam em sonhar.
2| Há por aqui a tentação de ser viver em constantes duelos. Eu tenho que ser invariavelmente melhor do que outro. Somos incapazes de partilharmos ideias, e de ao criarmos sínteses, seremos capazes de construirmos um futuro equitativo. Assim, tudo seria melhor e eramos poupados à ingenuidade e à ingratidão. Leiam os comentários e vêem logo como tenho razão! Porém, reconheço: sou ingénuo, e cultivo a ingenuidade. Porque, felizmente tal como escreveu Paul Virilio, sei que é preciso encontrar outros ângulos para encaramos a realidade. Ou seja: é urgente que se tenha a capacidade de se “olhar de outra maneira para se ver melhor”.
3| Li no seu blog a reacção maravilhosamente bem escrita por João Tordo à emigração forçada para o Brasil de seu pai, Fernando, um dos mais influentes cantautores da nossa língua. Não sou comunista. Nunca o fui e no entanto reconheço neles o direito a reclamarem mundos melhores. Porque não o faria? Que direito tenho eu, tem um estado que se diz livre, a silenciar quem quer que seja só pelo simples facto de quer e desejar uma outra realidade? Porém, como o mal é geral e transversal, reconheço que num mundo ao contrário, numa espécie The Twilight Zone, a cantiga seria a mesma. É a impostura do silêncio a ditar as suas regras, e a liberdade é “para inglês ver”, tal como não se vende aos quilos!
Eu tenho as minhas posições sobre a co-adopção que já demonstrei aqui e acolá, e não obstante estou convencido que a oposição ao PSD é feita no Palácio Ratton!
Decorria o dia 28 de Maio do ano 2007 quando o BCP reúne os accionistas em Assembleia Geral no Porto, com o intuito de alterar os estatutos do banco para alterar o modelo de governo dualista adoptado em 2006. A finalidade era corrigir uma "falha" que deliberadamente tinha sido aprovada quer no BCP (então liderado por Paulo Teixeira Pinto), quer na EDP (liderada por António Mexia).
O mesmo autor e o mesmo executor de um modelo de governance especial, e um presidente da CMVM tolerante ou pouco atento aos detalhes.
Na EDP, como no BCP, o modelo dualista tinha uma 'nuance' que favorecia os presidentes executivos. É que ao contrário do que está definido no Código das Sociedades Comerciais, o Conselho Geral de Supervisão (orgão não executivo no modelo dualista) não tinha poderes para destituir o orgão executivo (Conselho de Administração Executivo). Pelos estatutos, elaborados pela mesma entidade para ambas as empresas, o órgão de gestão executivo só podia ser destituído pela Assembleia Geral. Esse é o pequeno detalhe que Carlos Tavares deixou passar quando aceitou que o BCP e a EDP tivessem um modelo dualista à la carte. E esse pequeno detalhe foi o gatilho que fez disparar a guerra de poder no BCP, na famosa AG de 28 de Maio. Jardim Gonçalves que tinha aceite ser presidente de um Conselho Geral e de Supervisão sem poder de facto (as boas práticas recomendam que o órgão não executivo, composto por uma maioria de independentes, tenha poderes para destituir o órgão executivo) tentava então emendar a mão, tarde demais.
O modelo de governo acabou por ser alterado no BCP, no tempo de Carlos Santos Ferreira, num BCP já de "maioria" angolana. Hoje o modelo em vigor no banco liderado por Nuno Amado é o monista.
Mas António Mexia não teve nenhum Jardim Gonçalves, e também não tinha nenhum accionista privado claramente predominante, até que a China Three Gorges comprou em privatização 21,35% da EDP. Obviamente que a primeira coisa que os chineses vão querer fazer é mudar os estatutos e não vão descansar enquanto não o fizerem. A China Three Gorges quer estar na EDP com poder para participar na escolha dos administradores executivos. The sunny days are over.
Reparem agora na curiosa sucessão de factos:
- António Mexia é dado como potencial presidente do BES na sucessão a Ricardo Salgado (no dia 18 de Janeiro) pelo Expresso.
- Conferência de imprensa de Resultados do BES, (dia 13 de Fevereiro) Ricardo Salgado elogia António Mexia mas não alimenta tese de sucessor. Não é nada contra o presidente da EDP é que Ricardo Salgado não quer ser sucedido. E muito menos antes do tempo e em fóruns informais. O que facilmente se percebe.
- António Mexia dá finalmente (a 15 de Fevereiro) uma entrevista ao Expresso (o mesmo jornal que um mês antes o apontou como potencial sucessor de Ricardo Salgado) em que diz que o único sítio onde se vê a trabalhar em Portugal é na EDP. Tentando por isso desmentir que prevê ir para o BES. Podia ter desmentido na semana a seguir, mas não, esperou um mês, esperou pela reacção de Ricardo Salgado. Isto pode ser coincidência, ou talvez não.
- O Diário Económico dá hoje uma notícia "Chineses querem reduzir Conselho Geral da EDP para cortar custos". Os custos, esse argumento sempre nobre. Já em Março de 2013 dava a notícia de que a CTG quer mudar o actual modelo dualista e impor o modelo de governo monista (um conselho de administração e uma comissão executiva). O ponto essencial (e isto não está no artigo de hoje) é que a finalidade de todas estas mudanças é acabar com o artigo dos estatutos que deixa a destituição da administração executiva (hoje liderada por António Mexia) entregue a uma maioria da Assembleia Geral, difícil de obter.
Expectante para ver as cenas dos próximos capítulos.
Se António Vitorino foi o improvável apresentador do livro de Maria João Avillez sobre Vítor Gaspar, a ausência de Paulo Portas foi o óbvio do acontecimento.
O ex-Ministro das Finanças conhecido pela sua desconcertante sinceridade, não deixou de elogiar Pedro Passos Coelho, que considerou ser “em Portugal, o líder reformador”. Elogiando a sua capacidade para não ceder aos seus amigos.
Não se poupou também a elogios a Maria Luís Albuquerque, actual Ministra das Finanças, de quem se diz "admirador", considerando-a "única".
A destacar há ainda a passagem de António Pires de Lima, actual Ministro da Economia, próximo de Paulo Portas.
"Quanto mais delicada e inesperada a pergunta, mais lenta e pausada a resposta. Felizmente para mim este aspecto não aparece no livro", diz o ex-Ministro, no seu típico humor, sobre as entrevistas de Maria João Avillez.
"Enquanto estávamos a trabalhar no livro, li uma frase numa carta de Isaíah Berlin (1969) "só me interesso por seres humanos e relações pessoais".
Citou ainda o livro A lebre com olhos de âmbar, de Edmund de Waal, para dizer que tem em comum com a jornalista "o gosto das coisas pequenas".
Valeu a pena ouvir mais uma vez Vítor Gaspar.