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Na edição de hoje do DN, o ex-presidente da República, Jorge Sampaio, elogia, na sua página de opinião no secular matutino os "heróis anónimos da democracia". Da minha parte, o resultado previsto na sondagem para a CM do Porto, com a vitória tangencial de Rui Moreira é um exemplo disto mesmo, ele é um verdadeiro herói, até porque os outros, os "profissionais da política", achavam que eram "favas contadas".
A este respeito recordo um episódio protagonizado pela candidata do PS à Câmara de Santarém, Idália Serrão, aquando do debate organizado pela Fundação Passos Canavarro. Ela virou-se para o candidato independente, Francisco Mendes, e ex-militante social-democrata, dizendo-lhe: "Sabes, Francisco: Eu nunca tive que entregar o meu cartão de militante para fazer política". Com a soberba e esta falta de respeito democrático pelo adversário, a coitada, a ver as suas ambições a andarem às arrecuas, esquecendo-se que, de há uns tempos para cá, a política local deixou de ser a coutada dos partidos deu um valente pontapé na democracia!
Há neste país tantos jogos de poder e intrigas que nem consigo já ver na televisão mais do que os inofensivos Os Portugueses Pelo Mundo e o Masterchef Austrália. Nem para a Quadratura do Círculo já tenho pachorra.
Neste país é tão fácil ser mal entendido. Anda meio mundo a desconfiar de meio mundo. O pior de tudo é que não é mania da perseguição, há muitas razões para desconfiança.
Portugal mais longe de voltar aos mercados. A culpa é da crise Portas e do Tribunal Constitucional. Não é uma falha de previsão de Vítor Gaspar, nem é culpa do IGCP (que tem uma belíssima equipe).
Já repararam na novela GES/Pedro Queiroz Pereira? Por trás, mais uma vez, Álvaro Sobrinho. Sobrinho está em todo o lado. É uma espécie de Professor Moriarty. Está sempre atrás de todas as patifarias ao presidente do BES.
Não gosto de cabalas e o presidente do BES está demasiadas vezes a ser julgado na praça pública (com a ajuda de alguns jornais) sem o estar a ser nas instâncias oficiais. Portanto estamos a falar de meras intrigas que sustentam uma cabala. A ideia de uma sucessão no Grupo da família Espírito Santo no horizonte aguça o engenho das intrigas. Defender Ricardo Salgado pode não ser políticamente correcto, mas é justo, o que é mais importante.
Chineses da Three Gorges afinal já não vão construir a fábrica de turbinas eólicas em Portugal que prometeram quando quiseram ganhar a privatização da EDP. Dizem que só adiaram, mas há quem fale de uma resposta ao fim de algumas rendas da EDP.
Haveria mais para dizer, mas não posso escrever.
Como é possível que José Rodrigues dos Santos tenha sido traduzido em francês e lido por 2 milhões de pessoas? Será por causa do seu fatal piscar de olhos?
Deve ser isso. Rodrigues dos Santos, com a sua assinatura ocular, está a dar uma lição de marketing!
Eu volto a bater na mesma tecla. Não me lembro de pior campanha eleitoral do que a actual. A falta de rigor, o péssimo marketing político demonstrado pode ser lido como um bom retrato da situação a que chegamos. Não é preciso muito: basta um pouco de massa cinzenta.
Em Portugal, como em outros estados europeus, a falta de pragmatismo e de visão crítica da realidade é notória, como explicará a situação difícil que a maioria dos europeus vive! Vejamos este exemplo, o local onde foram afixados estes cartazes do PSD: em contentores de lixo. Será que esta gente não conhece o alcance desta decisão? Por outro lado, é completamente descabido um partido colocar os seus cartazes em locais ou em bens públicos, i.e., pertencentes à comunidade em geral. Dá a ideia que os caixotes do lixo são propriedade deles! Se calhar até são! E nesse caso o PSD local (não consegui apurar a sua origem geográfica) é mesmo lixo, pelo que é conveniente que não se vote neles!
P.S. – Em última instância estarão eles a dizer, porque a política anda (se calhar sempre andou) nas ruas da amargura que os políticos são lixo? Quiçá esta é a mensagem política, e bem sublimar, que eles quiseram transmitir?
Eu estive mal. Não se deve insultar ninguém mesmo num quadro da dita "liberdade de opinião". Porém são matérias que nos podem levar numa grande viagem: até onde pode ir a nossa liberdade de opinião? Há tempos um conhecido comentador chamou o que chamou ao Presidente da República. Ele considerou ser uma injúria contra a sua pessoa, e de facto dizer-se que alguém, e logo o principal símbolo da república, é um "palhaço" tem que ter consequências. O comentador reconheceu que esteve mal, não disfarçando, no entanto, o seu desconforto com a acção política do Presidente Cavaco Silva. Porém tudo ficou em águas de bacalhau. Num país onde nada acontece o caso foi arquivado. Nos Estados Unidos, que são um povo de outra colheita, e à boleia da primeira emenda, a rede é bem mais larga: inclusivé, como aconteceu no Texas, desde que consiga provar que foi para marcar um posicionamento crítico, pode-se pegar fogo à bandeira nacional. Aqui teria caído o Carmo e a Trindade, lá nada aconteceu. Efectivamente o americano é mais livre que o português, e do que o europeu em geral. Porque, e falando do português em particular, ainda não conseguimos superar a barreira ética e paternalista que o salazarismo durante épocas impôs!
Uma outra nota. Quando falamos em ofensas – como chamar energúmeno a um presidente de câmara – temos que entender se elas são pessoais ou políticas? O tratamento de que foi alvo por parte de um crítico de arte o Presidente Rui Rio foi exclusivamente por causa da gestão ou ideia que ele tinha sobre a Casa da Música, nomeadamente aquando da exoneração de Pedro Burmester da sua administração. Foi uma história que fez correr muita tinta e, numa segunda instância, Augusto M Seabra, foi ilibado do crime de injúrias contra o edil. Foi uma boa decisão porque o termo forte utilizado não se aplicava à pessoa em si, o que é condenável, mas em respeito ao seu posicionamento programático relativo a essa sala de espectáculos, que deveria ser um espaço elitista (pois só pessoas de um certo patamar cultural gostam da musica erudita). Por outro lado, quando se assumem posicionamentos ou lugares públicos, porque se metem a jeito, as pessoas deixam de ser “profundamente” livres, e os seus actos escrutinados até à exaustão.
O meu pai foi dirigente partidário e é um homem com estômago de ferro. Perante aquilo que lhe diziam, e foram tantos (maioritariamente jornalistas), e se tivesse a envergadura de certas aves raras do nosso tecido político, passaria a vida em tribunais. Não. Ele sobreviveu porque soube engolir em seco, porque caso contrário estaria, como os demais, feito ao bife!
A ler: "A Liberdade de Expressão em Tribunais" de Francisco Teixeira da Mota. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2013
Este ano isto vai de mal a pior, não me lembro de uma campanha eleitoral tão ranhosa como esta. Por exemplo, como se vê nesta foto, até parece que o CDS-PP revisitou o universo fílmico de Emir Kusturica, e muito em particular o memorável "Gato preto, gato branco"!
Subscrevo a crítica que Luís Miguel Oliveira escreve no Público (Ípsilon) a propósito de Blue Jasmine. Woody Allen faz neste filme o retrato da crise actual económico-financeira-social, retratando o downgrade social forçado a que a crise conduziu muita gente (caso Madoff como ténue pano de fundo), mais uma vez o realizador dá tudo por tudo no retrato psicológico de uma personagem (salvaguardando as devidas distâncias, é uma espécie de Dostoiévski do cinema, na medida em que concentra numa personagem toda a complexidade do ser humano diante de problemas universais. Nietzsche referiu-se a Dostoiévski como "o único psicólogo com que tenho algo a aprender").
Cate Blanchett a piscar o olho aos Óscares, merecidamente.
Não posso dizer que este é um filme de Woody Allen que me enche as medidas, porque sou uma fã dos seus filmes cómicos, como o Play it Again Sam; Annie Hall; Poderosa Afrodite; Hollywood Ending. Sempre achei que o Woody Allen faz imensa falta aos filmes dele. Mas há claramente aqui uma pausa na carreira de "cineasta municipal". O que não é mau.
Mas leiam a crítica do crítico do Ípsilon:
Eu tive a sorte de ter conhecido e privado com a Mimi Fogt, nascida em Paris em 1923 e que morreria no Algarve, em 2005.
Mimi chegou a Portugal nos finais dos nos 60, depois de ter vivido largos anos no México, por causa da luz do nosso país, fundamental para a sua pintura, e de Eça de Queiroz. Nos tempos em que ela e o seu companheiro, Alberto Ramirez Capmany, viveram em Sintra, construíram uma casa na serra a que lhe deram o nome de Relíquia.
Em 2001, ela e o Alberto, doaram à Fundação Passos Canavarro, parte significativa dos seus trabalhos: retratos, paisagens e nus. São óleos, aguarelas e desenhos de superior qualidade.
Faço esta referência porque um dos seus amigos portugueses foi António Ramos Rosa, que ontem nos deixou e que num dos seus catálogos (1994) compreendeu bem a sua arte: “ […] Como é prodigiosa a pureza das nuvens brancas que tu pintas e o céu de um azul tão puro que entre elas se entrevê!
Tu amas os contrários a leveza e a densidade e assim constróis o teu espaço de um equilíbrio que dança. ”
As obras de Mimi Fogt podem vistas na Casa-Museu Passos Canavarro, em Santarém, todos os dias excepto segundas-feiras das 10 às 13 e das 15 às 18 horas.