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Maria Luís Albuquerque, Secretária de Estado do Tesouro e Finanças, disse hoje para uma plateia de Revisores Oficiais de Contas que:
"O não cumprimento das exigências do programa de ajustamento conduziria a uma interrupção súbita do financiamento externo - da 'troika', mas também via Banco Central Europeu, do financiamento em mercado, e do investimento directo estrangeiro. O fim do financiamento resultaria no colapso do Estado. As contas públicas ficariam instantaneamente equilibradas, pela pura impossibilidade de gastar mais do que se tem, mas à custa do não pagamento de pensões e salários e do provável colapso da estrutura da administração pública. Teríamos um retrocesso de décadas no bem-estar das pessoas, com uma estrutura social com muito menos apoio, nomeadamente ao nível familiar, que aquela que nos caracterizou no passado.
Não haverá mais nenhum programa de financiamento para Portugal. De qualquer forma um novo pacote de ajuda só iria impor condições ainda mais duras de cumprir. Melhores dias virão para Portugal."
É assustador!
Estive a ver no site da RTP o vídeo relativo à meia maratona de Lisboa, invariavelmente ganha por africanos. Porém ao olhar para este "engarrafamento" humano concluo que de futuro a Ponte Vasco da Gama irá ter cada vez menos carros e mais gente que, como desportistas à força, procura chegar aos seus postos de trabalho!
Toda a gente fala da inveja como uma coisa que só existe nos outros. Prometo que vou tentar evitar cair nessa tentação neste post. Mas não me passou despercebido o efeito do caso Borges na sociedade portuguesa. É que de repente soltaram-se as raivas reprimidas dos portugueses, os complexos de inferioridade intelectual, as soberbas disfarçadas de humildade.
As reacções às declarações do fim de semana de António Borges ("que a medida de descida da TSU é extremamente inteligente, acho que é. Que os empresários que se apresentaram contra a medida são completamente ignorantes, não passariam do primeiro ano do meu curso na faculdade, isso não tenham dúvidas”) são o espelho deste país, de pessoas com muito sangue na guelra e pouca sapiência.
Acabo de ler um artigo num blog que, em tom de ironia, escreve a propósito deste assunto, que "O principal problema deste governo, e principalmente do PSD, é que está repleto de "adiantados mentais". Os "adiantados mentais", ao contrário dos "atrasados mentais", são pessoas que estão muito à frente do seu povo, em inteligência, cultura e saber. Os "adiantados mentais" são seres que estão num patamar superior, num pedestal de sapiência e lucidez a que obviamente os outros portugueses, por mais que se esforcem, não conseguem chegar". Assim que acabei de ler este parágrafo caí na tentação de pensar, "devia-se tirar a ironia ao artigo, a avaliar por este post confirma-se, na comparação, que de facto há adiantados mentais". Apesar de simpatizar com o autor deste blog, definitivamente não escreve para "adiantados mentais". Se de facto é verdade que a vaidade e a soberba não abonam a favor da inteligência, também é verdade que os preconceitos, as ideias feitas, os clichés, o senso comum estão nos antípodas dela.
A inteligência existe e há pessoas mais inteligentes que outras, por muito que isso custe a muitos. E quem é inteligente não se chateia nada com isso de haver pessoas mais inteligentes na nossa vizinhança, pelo contrário dão graças as Deus que assim seja, porque doutra forma não existiria a sensação de infinito que se sente quando se conhece pessoas fascinantemente mais inteligentes que nós.
Agora sobre o caso concreto Borges:
Eu não sou a favor da medida que o PSD queria aprovar, pela violência social dela nesta altura, não quer dizer que seja contra a descida da TSU para as empresas. Se numa outra fase do ciclo económico, em que haja luz ao fundo do túnel, exista margem para vir a tomá-la e sem sobrecarregar os trabalhadores com ela, acho muito bem. Mas o facto de eu discordar de António Borges não me põe irritada com a sua opinião, até porque percebo António Borges. António Borges não tem nada a perder, já não está para agradar, nem para ser soft. Apetece-lhe dizer o que pensa, porque sabe que nunca ninguém o faz, por pudor. Pudor que a ele já não lhe serve. Todos saberão porquê, eu ainda sou das que ainda precisa do pudor, por isso não vou mais longe.
Concordando ou não com ele, eu gosto de António Borges, e percebo que uma pessoa que aja com a convicção da sua inteligência seja esmagado neste país. Este caso foi só um gatilho para detonar uma bomba que há muito calava no peito de muitos gestores deste país, que viam em Borges, como consultor do Governo, um entrave aos seus interesses.