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Quando os japoneses estão à rasca, seguem as instruções. Se fizéssemos o mesmo, porventura, seria mais fácil.
Estas sãos as previsões do Google para os Óscares. Será que o cinema é assim tão previsível?
Recordo-me de uma passagem do libreto do "Barbeiro de Sevilha" [Beaumarchais]: "Apresso-me a rir de tudo, com medo de ser obrigado a chorar."
Atraso na conta da água, leva a coisa para execução fiscal e obriga ao pagamento de custas e juros de mora. A conta da água pode ficar pelo triplo do valor.
E quando falta a água poderemos nós executar o Estado com custas e juros de mora?
Faço minha a indignação de Eça de Queiroz:
Ilus. e Ex.mo Senhor Carlos Pinto Coelho
digno director da Companhia das Águas e
digno membro do Partido Legitimista:
Dois factos igualmente graves e igualmente importantes, para mim, me levam a dirigir a V. Exa. estas humildes regras: o primeiro é a tomada de Cuenca e as últimas vitórias das forças Carlistas sobre as tropas Republicanas, em Espanha: o segundo é a falta de água na minha cozinha e no meu quarto de banho.
Abundam os Carlistas e escassearam as águas, eis uma coincidência histórica que deve comover duplamente uma alma sobre a qual pesa, como na de V. Exa., a responsabilidade da canalização e a do direito divino.
Se eu tiver fortuna de exacerbar até às lágrimas a justa comoção de V. Exa., que eu interponha o meu contador, Exmo. Senhor, que eu interponha nas relações de sensibilidade de V. Exa., com o Mundo externo; e que essas lágrimas benditas de industrial e de político caiam na minha bandeira!
E, pago este tributo aos nossos afectos, falemos um pouco, se V. Exa. o permite, dos nossos contratos. Em virtude do meu escrito, devidamente firmado por V. Exa., e por mim, temos nós – um para com o outro – um certo número de direitos e encargos. Eu obriguei-me, para com V. Exa., a pagar a despesa de uma encanação, e aluguer de um contador e o preço da água que consumisse.
V. Exa. fornecia, eu pagava. Faltamos, evidentemente, à fé deste contrato; eu, se não pagar, V. Exa., se não fornecer.
Se eu não pagar, faz isto: corta-me a canalização.
Quando V. Exa. não fornecer, o que hei-de fazer, Exmo. Senhor? É evidente que para que o nosso contrato não seja inteiramente leonino, eu preciso, no análogo àquele em que V. Exa. me cortaria a canalização, de cortar alguma coisa a V. Exa.
Oh! E hei-de cortar-lha!…
Eu não peço indemnizações pela perda que estou sofrendo, eu não peço contas, eu não peço explicações, eu chego a nem sequer pedir água. Não quero pôr a Companhia em dificuldades, não quero causar-lhe desgostos nem prejuízos…
Quero apenas esta pequena desafronta, bem simples e bem razoável, perante o direito e a justiça distribuída: – quero cortar uma coisa a V. Exa.!
Rogo-lhe, Exmo. Senhor, a especial fineza de me dizer, imediatamente, peremptoriamente, sem evasivas nem tergiversações, qual é a coisa que, no mais santo uso do meu pleno direito, eu posso cortar a V. Exa.
Tenho a honra de ser
De V. Exa. com muita consideração
e com algumas tesouras
Em nome de um suposto plano de Poupança Energética que visa responder ao aumento dos preços dos combustíveis que, segundo as contas do governo de Madrid permitirá poupar cerca de 15% na gasolina e 11% no gasóleo, o limite máximo de velocidade permitido nas auto-estradas espanholas vai passar dos actuais 120 para 110 Km. Ora, com o andar da carruagem qualquer dia só andaremos nas "careteras españolas" de carroça.
Parece que neste país há pessoas que não sabem o que é tortura. E como uma imagem vale mais do que mil palavras aqui vai.
Isto, meninos e meninas, graúdos e graúdas, é tortura!
"Quem és tu que queres julgar,
com vista que só alcança um palmo,
coisas que estão a mil milhas ?"
"Paraíso"
Dante Alighieri
Daqui onde estou, i.e., no meu universo confinado às linhas de horizonte, que marcam e acentuam a nossa realidade, sou tão somente o que quero ou (porventura) me deixam ser. Porque, mesmo que não tenha que ter medo das palavras ou até, ser for necessário, de pedir desculpas é importante reconhecer que deste quarto com vista para a rua estou longe de ver o mundo – é certo que ninguém humanamente o está, ou seja, de ver a totalidade! Criticar, apontar o dedo, como se fossemos donos da verdade, é demasiado fácil. De uma (pseudo) verdade que (naturalmente) confinada à área do quarto e aos “curtos horizontes” que a vista possibilita, chega-se facilmente à conclusão que é mais fácil apontar o dedo, pôr a cabeça debaixo da areia, do que enfrentar a realidade de caras. Porque, e mesmo que entenda que o recurso à violência deva ser sempre empregue em última instância, admito que o “real” tem justificações que são incontornáveis. Após ter lido o testemunho destes dois guardas prisionais reconheço, também, que é mais fácil atirar a primeira pedra do que “pegar os touros pelos cornos”. Se não for assim, ou seja, se estivermos exclusivamente confinados aos nossos quartos com vista para a rua, passaremos a vida a assobiar para o lado!
Townscape (1967) - Vista da Cidade
José Paulo Moreira da Fonseca (b 1922)
As vistas, por mais bonitas que sejam, são sempre curtas.
A propósito da notícia do Público, onde Marinho Pinto critica a "exibição doentia de poder e de autoridade", que considera "inadmissível num Estado de Direito" e "desconforme com os valores da Constituição", devido à divulgação das imagens do uso das Taser na cadeia de Paços de Ferreira, tenho a dizer que criticar é fácil. Mas como mudar um preso violento de uma cela que ele tornou imunda de propósito e insuportável para os outros? Gostava de saber como é que Marinho Pinto ia lá buscar um preso daqueles? Imaginem o caso de um preso altamente violento, um Aníbal the Canibal, é preciso de mudá-lo de cela.... como é que Marinho Pinto pensa que isso se pode fazer? Às vezes é preciso ir ao fundo das questões para ter o retrato completo dos acontecimentos e não sucumbir à comoção evidente provocada por imagens.
É preciso cuidado com o poder das imagens para criar realidades.
Eu percebo que aquelas imagens choquem, porque há uma aparência de tortura, mas é preciso procurar a verdade para lá das aparências. E o uso de tasers (choques eléctricos) para imobilizar presos é uma violência, mas também o é uma prisão. Não há nada mais violento que uma prisão... uma pessoa presa numa cela metade da vida, que violento. Ainda por cima naquele caso, numa cela imunda, ou na vizinhança de uma cela imunda. No entanto as prisões são mais do que necessárias.
Não estou a defender o uso da tasers, porque não percebo o real impacto daquelas armas imobilizadoras, mas estou apenas a servir de advogado do diabo, e a pedir para se não fazerem julgamentos muito rápidos da polícia e dos GISP porque há uma verdade para lá da aparência impressionante dessas imagens.
Rainbow Arabia's "This Life is Practice"
Logo a seguir ao 25 de Abril, uma dessas editoras da moda de então, a Futura, publicou um livro de um universitário norte-americano precisamente intitulado “Democracia”. Recordo a obra de Carl Cohen na medida em que ele, a páginas tantas, faz referência a um conceito particularmente interessante, justo e eficaz: o da “amplitude democrática”.
Ora, sabemos que o conceito puro de democracia é ineficaz, utópico, e até indesejável. Pois em nome desse ideal foram feitas as maiores barbaridades da história. É preciso recordar que foi em nome desse ideal que foi estruturado idealmente o comunismo. Todos sabemos no que isso deu! No entanto, partir do pressuposto “ocidentalizante”, i.e., teoricamente racionalista, de que, à cabeça, a democracia é impossível nos países árabes é frustrante.
A Índia é, para todos os efeitos, a democracia mais populosa do mundo e, no entanto, serão eles, nos nossos padrões, verdadeiramente democráticos? Que raio de democracia é esta em que, não raras vezes, a transição é feita matando-se como aconteceu com Indira Gandhi, em 1984, e, mais tarde, com o seu filho Rajiv Gandhi, em 1991? Será assim verdadeiramente impossível uma democracia “arábica”?
Acontece, todavia, que a questão é diversa. Em bom rigor, de per si, nem é política. Porque, de facto a democracia é uma “questão interior” – “A democracia”, escreve Lacroix, é “uma aventura – a aventura do pensamento no interior da sociedade humana”, pelo que tinha razão Alain quando afirmou que “uma democracia sem espírito não pode durar muito tempo”! E, por outro lado, tal como no cristianismo é fundada no amor: “A democracia é de essência evangélica e tem por motor o amor” [Bergson]. Ou seja, “o democrata reconhece-se no respeito escrupuloso pelo pensamento de outrem. E é precisamente este respeito que o anti-democrata recusa e teme!”