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O essencial foi o simbolismo deste gesto. As relações entre catolicismo e cultura não são hoje cordiais, não o são há décadas. A cultura ocidental, goste-se ou não, sempre se tinha alimentado de imagens e conceitos cristãos. Mas caímos no alheamento ou na hostilidade. Nem o catolicismo preza especialmente os intelectuais e os artistas, que considera uma causa perdida, nem os artistas mostram a mínima benevolência face à Igreja, sobretudo desde que o jacobinismo intolerante voltou a estar na moda.Por isso, a vontade que Bento XVI manifestou em encontrar-se com figuras da cultura portuguesa demonstra uma disponibilidade assinalável. Não creio que a Igreja pretenda que as artes e o pensamento sejam ortodoxos ou catequéticos. Seria errado se pensasse assim. A arte e o pensamento incomodam, como deve incomodar o catolicismo, quando vivido como exigência e não como convenção. Este encontro, que retoma a magna reunião que ocorreu em Novembro, na Capela Sistina, convocou também agnósticos e crentes de outras religiões, pessoas com a evangélica "boa vontade", sem a qual nada se consegue. O que mais importa não é o renascimento de uma "arte cristã", conceito de utilidade duvidosa, mas sim a abertura dos criadores a uma ideia de beleza que é sempre, de algum modo, uma ideia religiosa.
Não foi por acaso que no seu discurso Bento XVI falou em "beleza" e em "verdade". Até os ateus mais convictos confessam com frequência que a beleza estética os transporta para uma dimensão enigmática e eterna. A arte inspirada pelo cristianismo sempre soube isso, de Bach a Bresson. Como escreveu um ensaísta contemporâneo: a criação supõe alguma coisa que está por detrás dela, uma alusão, uma suspeita, um fundamento, uma presença que não é fictícia ou presumida mas é uma "presença real". É também a essa forma oculta de beleza que chamamos "verdade".
Na mensagem lida pelo Papa, é sublinhado um aspecto central do tempo presente: o presente traz consigo séculos de história, dos quais não se pode fazer tábua rasa, como alguns pretendem; mas o momento actual deve ser também uma abertura para os tempos novos e futuros, ao contrário do que alguns temem. Não é o fetichismo do presente que nos deve ocupar, ou soprar de acordo com o vento; o que é fundamental é a continuidade histórica, a fidelidade às raízes, o sentido de comunidade, a construção de um destino pessoal e colectivo.
Quando Bento XVI disse "fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza" indicou que a cultura não se confunde com um adereço ou uma causa: é acima de tudo um diálogo e uma transformação. A criação humana é um espelho turvo, magnífico e inquieto de uma outra criação, aquela que escrevemos com maiúscula.
Já na sua homilia no Terreiro do Paço, perante uma assistência de perto de 200 mil pessoas, o Santo Padre tinha recordado o papel histórico de Portugal na difusão da fé cristã e reforçou a importância de Jesus Cristo no centro da vida dos católicos, realçando que tal ganha especial importância no actual contexto nacional. Mais tarde, sendo subtil, mas também bastante directo, afirmou que não há forças que destruam a igreja católica. Todos aplaudiram.
No CCB, perante uma plateia de convidados ligados à vida cultural e social do país, Bento XVI foi mais explícito, quando abordou a "crise da verdade".
Bento XVI defendeu que o conflito entre “presente e tradição”, na sociedade actual, levou a uma “crise da verdade”. Falando perante representantes do mundo cultural português o Papa referiu que “a missão ao serviço da verdade” é “irrenunciável” para a Igreja. Para que fique claro. É à luz desta verdade, e não abdicando dela que depois Bento XVI reconheceu ainda que a Igreja tem de aprender “a estar no mundo, levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade”. Este diálogo deve acontecer “sem ambiguidades” e respeitando “as partes nele envolvidas” (alguns jornais substituiram isto por "outras verdades"), algo que o Papa considerou “uma prioridade para o mundo de hoje, à qual a Igreja não se substrai”.
“Um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente anunciados”. Esta frase dirigida ao mundo cultural tem um propósito. A defesa de que a verdade está em Cristo (cuja palavra está revelada nos evangelhos) é o cerne de todo o discurso do Santo Padre. Bento XVI apelou aos autores da arte e cultura que não temam ser católicos, e que o expressem.
Na plateia, como artistas convidados, estavam o ancião cineasta Manoel de Oliveira (porta-voz), Rui Vilar, Glória de Matos, Pedro Mexia, Joana Carneiro, Guilherme de Oliveira Martins, Graça Costa Cabral, João Lobo Antunes, entre outros. (Faltou Agustina Bessa Luís, digo eu, mas a sua condição física pode explicar essa ausência).
A cerimónia contou com uma saudação de D. Manuel Clemente, presidente da comissão episcopal responsável pela área da cultura.
Manoel de Oliveira defendeu que a religião e a arte estão "viradas para o Homem e para a essência divina" e referiu que o “cristianismo foi pródigo em expressões artísticas”. A arte como tentativa de resposta ao sentido da vida, foi o mais importante do discurso do mais importante cineasta português.
Bento XVI manifestou “admiração e afecto” pelo centenário cineasta. Nestes discursos, disse o Papa, transpareceram “ânsia e disposições da alma portuguesa no meio das turbulências da sociedade actual”. “Esta é uma hora que reclama o melhor das nossas forças, audácia profética, capacidade renovada de "novos mundos ao mundo ir mostrando", como diria o vosso Poeta nacional”, afirmou, citando uma passagem de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões.
Como aconteceu no primeiro dia de visita, Bento XVI evocou a epopeia dos Descobrimentos e a marca cristã na “tradição cultural portuguesa”.
Disse que os descobridores e missionários eram movidos por “um sentido de responsabilidade global” que nasce da “milenária influência do cristianismo”. O ideal cristão da universalidade e da fraternidade inspiravam esta aventura comum, embora a influência do iluminismo e do laicismo se tivesse feito sentir também”. Esta tradição originou “aquilo a que podemos chamar uma "sabedoria” que não deve ser esquecida.
O Papa que fala seis línguas, é pianista e tem preferências por Mozart e Bach, que é membro de várias academias científicas da Europa, como a francesa Académie des sciences morales et politiques, e recebeu oito doutorados honoríficos de diferentes universidades, entre elas da Universidade de Navarra, disse no CCB que a fé é a única que satisfaz a inteligência e pacífica os corações. Autor de livros onde se debruça sobre um dos desafios culturais mais importantes actualmente que é a relação entre fé e razão, Bento XVI é o exemplo vivo dessa harmonia entre razão e fé, "dimensões do espírito humano, que se realizam plenamente quando se encontram e dialogam" segundo as suas palavras.
"Ao mesmo tempo, contudo, deve-se admitir que a tendência a considerar verdadeiro só o que se pode experimentar constitui um limite para a razão humana e produz uma terrível esquizofrenia, evidente para todos, pela qual convivem racionalismo e materialismo, hipertecnologia e instintos desenfreados", já disse Bento XVI.
A inteligência que não percebe o papel infinito do amor (e Deus é amor) e do bem nas sociedades humanas, tal como Cristo o demonstrou, não chega a ter terceira dimensão, fica-se pela aparência, ou como diria Boris Vian, fica-se pela "espuma dos dias".
Bento XVI terminou o seu discurso no CCB dizendo "fazei coisas belas, mas essencialmente fazei das vossas vidas lugares de beleza".
Beleza, estética e ética, uma triologia defendida no CCB.
Nos dias que correm, ter coragem é: sem negar a modernidade, sem deixar de ser contemporâneo, sendo mediático, sendo inteligente, sendo apologista da cultura, SER CATÓLICO e nunca deixar de defender que Deus é Amor.
Parabéns Marcelo Rebelo de Sousa.
Dar a cara pela defesa da igreja católica é um acto de coragem.
Não é novidade que a natureza humana é propensa a criar bodes expiatórios. Os noves bodes são a Standard & Poor´s, a Moody´s e a Fitch. Alguém se lembrou de repente que eram todas norte-americanas, coisa que nunca incomodou a velha Europa. Hoje fala-se da criação de uma agência de rating europeia como se daí surgisse uma salvação. O avaliador é que é o culpado e não os avaliados.
A Europa vê-se hoje a braços com um enorme problema: os desvarios financeiros dos países pobres e indisciplinados da UE. Porque é que isso é um problema? Porque mesmo os países que tiveram superávite público, como é o caso da Alemanha e do Reino Unido, investiram milhões em dívida pública de países como a Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha. Os bancos estão carregados de exposição à Grécia. Se deixam cair esses países, para matar a mosca acabam a partir a lâmpada.
Portugal é um país que tem uma dívida externa (entre pública de 77%, e privada) de 110%. Há anos que os estrangeiros pagam 10% para nós produzirmos. E esse é o grande problema do nosso país: somos absolutamente dependentes do estrangeiro, dos mercados internacionais de dívida e dos bancos estrangeiros.
Diz-se que Portugal não é a Grécia. Não é, mas não é muito melhor. Veja-se o caso de Itália, tem um défice relativamente bom, 5,3%, mas tem uma dívida pública que ronda os 115% do PIB. No entanto há uma grande diferença em relação a Portugal, é que esta dívida pública está praticamente colocada nos italianos. Não estão, por isso, à mercê das subidas dos spreads internacionais.
O que fez Portugal? O Senhor Teixeira dos Santos baixou as taxas dos certificados de aforro, com retroactivos. Fez um favor à banca e trocou dívida interna por dívida externa, hoje muito mais cara.
Outro erro deste governo socrático: subiu os salários da função pública, em 2,9%, num ano sem inflação, apenas para ganhar as eleições. Agora arrisca-se a ter de retirar os 13º e 14º mês, ou a substituir parte dele por títulos de dívida pública. Este Governo foi infeliz e governou para o marketing, sob uma imagem de modernidade ideal, pacóvia.
Sem poupança não há crescimento da Economia, dizem os economistas. E Portugal gasta mais do que ganha, razão pela qual o Primeiro Ministro resolve citar Keynes a valer.
Keynes foi um economista, que procurou responder a uma crise da procura, enquanto agora se está a falar de uma crise de crédito. Fez carreira a ridicularizar a chamada "lei de Say", que declarava que a oferta cria a sua própria procura, e que por isso a escassez de procura estava resolvida à partida, invertendo a regra: passou a ser a procura que cria a sua oferta, isto é, a expansão da procura arrastaria consigo o rendimento e o produto agregados. Além disso, subverteu a máxima tradicional segundo a qual "não podemos gastar mais que aquilo que ganhamos" para a "não podemos ganhar mais do que gastamos" como novo lema de uma nova era. Keynes defendia as obras públicas, o que serve bem o PM, que constrói auto-estradas paralelas umas às outras e sonha com um país rico cheio de comboios de alta velocidade e aeroportos gigantes.
Pode agora dizer-se que o problema não é só de Sócrates, e soa ao mesmo que culpar as agências de rating. O PM está há tempo suficiente no Governo para criar medidas com efeitos estruturais a longo prazo, mas claro inspira-se num Keynes para quem a longo prazo estamos todos mortos!
"Este Keynes é muito difícil de ler quem o cita nunca o leu" disse Jacinto Nunes. Adorei.
A título exemplo, que medidas tomou Sócrates para travar a decadência da natalidade? Liberalizou o aborto, aprovou o casamento homossexual, e para compensar prometeu 200 euros para cada bebé que nasce, a ficar na CGD até aos
18 anos. Please!O Governo tem de criar medidas para evitar que as mães façam abortos. Paguem tudo da criança até ao fim da escola primária, subsidiem os nascimentos nas mães mais pobres, em alternativa ao aborto. E ajudem as mães todas, com centros de acolhimento das crianças no horário pós escolar, que permitam que estas conciliem o emprego com o ser mãe.
Promovam o casamento, a família e a procriação. Façam campanhas pela tolerância entre marido e mulher, essa é a verdadeira tolerância que é preciso defender para salvar a humanidade e da qual todos se esqueceram. O amor foi substituído pelo paternalismo às minorias. Não se veja aqui uma alguma coisa contra minorias, mas que o amor ao outro não se detém nos chavões da tolerância aos supostos "menores" e à alegada discriminação, isso não se detém.
Sem natalidade, a Europa vai toda ao ar, pois se não nascem contribuintes....
Criem uma escolaridade que promova o nível cultural, e não uma escolaridade sem mérito. Portugal precisa de investir na cultura... na elevação cultural das gerações futuras.