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Artigo de Pedro Mexia publicado no Público de sábado, dia 24 de Abril

Sem Imaginação

"Ao menos chamem-me misantropo", pede o dramaturgo Neil LaBute sempre que o acusam de misoginia. Quem conhece as peças de LaBute, sabe que o americano não tem grande apreço pela espécie humana. E a espécie inclui, forçosamente, as mulheres. Como é que se pode ser misantropo sem ser misógino?
A misoginia tornou-se uma conceito abrangente, e por isso é usado de modo terrorista. Há uma longa tradição de misoginia efectiva: medo ou hostilidade às mulheres. De Aristóteles a Nietzsche, muitos filósofos garantiram a menoridade intelectual e moral das mulheres. A tradição judaico-cristã, da Eva do Genésis às precauções de Agostinho, não é branda com elas. O naturalista Lineu disse que os órgãos sexuais femininos são abomináveis. Baudelaire utilizou o mesmo adjectivo para o carácter das senhoras. Strindberg ficava apopléctico quando lhe falavam de direitos das mulheres. Brel comparou-as desfavoravelmente com os cães. Freud inventou a inveja do pénis. Os nazis destinavam às esposas a trilogia "kinder, Küch, Kirche", crianças, cozinha e igreja. Patrícia Highsmith arrasou o mulherio nos ácidos 'Pequenos contos da misoginia'. Que chamem a isso misoginia é factual.
Mas não chamem "misoginia" a qualquer crítica ao comportamento individual ou colectivo das mulheres, a qualquer generalização, a qualquer lamento, a qualquer cliché. Desde que há civilização que se comenta que as mulheres são caprichosas, infiéis, coquetes, cruéis, cúpidas, tagarelas, fúteis, vaidosas. Toda a gente, em todo o lado e em todo o tempo, já disse ou já ouviu isto. Não quer dizer que seja verdade. Não significa que "as mulheres" sejam assim. São apenas características, verdadeiras ou falsas, detectadas pelos homens ao longo dos séculos. É a percepção social das mulheres.
Dito isto, sei bem que os defeitos dos homens nunca mais acabam. Eu não me considero misógino, acho que sou, enfim, e aqui hesito, porque sou uma coisa para a qual não há palavra, sou um andrófobo. Detesto homens. Estou de acordo com Albert Cohen: "Adoro as mulheres, mas nunca lhes perdoarei que gostem de homens."
Claro que há quem deteste mulheres. Há a misoginia da excisão, da burqa, da lapidação, da caça às bruxas, da discriminação, da violência sexual. A misoginia que consiste em negar a igualdade das mulheres, a sua autonomia e dignidade. Lutar contra a igualdade é inaceitável, porque a igualdade é uma evidência.
Uma mulher é uma pessoa, e as pessoas têm direito a tratamento igual, independente das circunstâncias biológicas. Mas a igualdade é um procedimento legal, não uma característica intrínseca. Ninguém me apanha a dizer que os homens e as mulheres são 'iguais' em outro sentido que não o jurídico. Se os homens fossem iguais às mulheres, eu gostava de homens.
A misoginia como facto não se confunde com a misoginia como labéu. As mulheres não estão isentas de crítica ou gozo, nem de acusações e zangas. É pateta dizer, como "tertuliano", que as mulheres são "a porta de entrada do diabo" mas, que diabo, não estamos impedidos de anotar as suas diabruras. Nem estamos inibidos de comentar o puritanismo de algumas facções feministas. Ninguém nos impede de dizer que o mito da doçura feminina em política caiu por terra com Thatcher. Não é pecado fazer um severo balanço e contas da chamada revolução sexual. Não é crime dizer que a Playboy resistiu a Beauvoir. E era só o que faltava que não nos pudéssemos queixar quando elas nos fazem mal.
Mas tenho reparado que aquilo que mais perturba as consciências é a estética. Sempre que faço o elogio público da beleza feminina (e faço sempre que posso) chamam-me misógino. Parece que "misógino", nalgumas cabeças, é quase sinónimo de "heterossexual". Porquê essa má consciência face à beleza? Talvez por causa do receio de que a beleza desconsidere a inteligência ou outras virtudes, essa sim uma suspeita intrinsecamente misógina. Se um homem se torna conhecido por gostar de mulheres bonitas fica logo com o ferrete de misógino. Excepto se for o George Clooney. E, no entanto a apreciação estética é um elogio, um dos grandes elogios, uma fonte de vida e alegria. Proust, é verdade, escreveu: "Deixemos as mulheres bonitas para os homens sem imaginação". Mas Proust gostava de rapazinhos.

---- fim do artigo---

Vivam os homens que gostam de mulheres! O meu Bem Haja para eles, e que continuem por muitos e largos anos. Vivam os homens que ficam vulneráveis à beleza das mulheres e as mulheres que se rendem à sensualidade dos homens, é deles o reino dos céus. Fora Proust e todos os seus seguidores, fora o feminismo, que se disfarça de igualdade para defender a uniformização sexual.

publicado às 10:47

As melhoras da morte

por Maria Teixeira Alves, em 27.04.10
O tempo melhorou em Portugal, depois de um inverno rigoroso. Os portugueses parecem contentes, inebriados numa alegria que antecede a tragédia.
A agência de notação Standard & Poor' s acaba de cortar o "rating" de Portugal em dois níveis, de A+ para A-. A fragilidade das contas públicas e o fraco crescimento económico são os principais argumentos utilizados pela S&P para degradar agora o risco da República, depois de ter alterado o “outlook” em Dezembro.

Os juros da dívida pública portuguesa intensificaram o movimento de subida e aproximam-se agora dos 6%.
No mercado dos “credit default swaps” o nível de risco atribuído ao incumprimento de Portugal também atingiu um recorde. Os mercados estão a antever riscos de contágio da Grécia a Portugal. A bolsa nacional fechou a cair mais de 5% para mínimos de Julho de 2009.
Resultado: os bancos portugueses vão ter mais dificuldade em levantar dinheiro lá fora. Ninguém empresta a Portugal, ou empresta a um preço elevado. Mais uma crise de liquidez que pode arrasar os bancos nacionais. E desta vez o Estado português não tem margem de manobra para se endividar, prestando garantias. Um verdadeiro 'desaire' pode desatar a jorrar. Bancos mais pequenos terão-se de fundir. Bancos grandes terão de reduzir custos a sério. O crédito chegará à economia a um preço alto demais, comprometendo o pouco crescimento previsto no PEC.
Meu Deus, o que fizeram de ti Portugal?

publicado às 09:08

A demagogia

por Maria Teixeira Alves, em 26.04.10
O Presidente da República criticou, pela segunda vez neste seu mandato, os salários dos gestores e alertou para o risco de revoltas que as injustiças criam. Afirmando que  nos "deparamos quase todos os dias com casos de riqueza imerecida que nos chocam."

O que é uma riqueza imerecida? A do político, que não herdou de nenhuma tia velha, e que de repente compra um casarão na zona mais cara de Lisboa? Ou a dos gestores que arriscam todos os dias a sua cabeça em cada decisão estratégica que tomam?
António Mexia, recentemente importunado (pelo Governo) pelos seus 3 milhões de ordenado e bónus, veio dizer, e bem: "em matéria de remunerações dos gestores, estamos a falar de coisas que dizem respeito aos accionistas".

Eu também acho que os salários dos gestores é uma coisa que só dizem respeito aos accionistas. Uma vez que foi aprovado em Assembleia Geral por estes, ninguém pode vir atirar pedras. Mas acho isto tanto para o António Mexia como para o Jardim Gonçalves.
O que se vê por aí, é que quando se fala dos ordenados dos outros é a indignação e a justiça social que impera, quando se está a falar dos próprios salários então é uma coisa que "diz respeito só aos accionistas".

publicado às 10:16

Há músicas que nascemos a ouvir

por Maria Teixeira Alves, em 24.04.10

publicado às 16:41

Só a educação dá liberdade

por Maria Teixeira Alves, em 24.04.10
Sócrates diz verdades que não entende bem: "só a educação dá liberdade"... é verdade. Dá a liberdade, porque dá sentido crítico, que é uma coisa que Sócrates não aprecia. Mas também não é o único....

publicado às 11:19

François Truffaut, para quando este filme na Fnac?

por Maria Teixeira Alves, em 22.04.10

publicado às 18:31

You Are Welcome To Elsinore

por Maria Teixeira Alves, em 22.04.10

 Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny

publicado às 18:24

Anti-clericalismo perigoso

por Maria Teixeira Alves, em 20.04.10
A pensar que há quem se indigne com a tolerância de ponto com a vinda do Papa, mas lhe saiba bem que haja férias de Natal e da Páscoa. A pensar que não há português que não anseie por feriados e pontos e que agora há quem apareça com a falsa moral dos hipócritas a serem uns puritanos defensores da produtividade e da economia do país.

publicado às 14:15

publicado às 11:54

Acabo de ler a reacção do nosso Presidente da República, à noticia do ranking do Fundo Monetário Internacional que revela que Portugal é o segundo país que mais pode contribuir para perturbar a zona euro.
Sua Excelência o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva diz:
"Não acredito que se chegue a uma situação de bancarrota". Portugal não vai entrar em falência, "pois a situação do País é mais favorável do que a de países como Grécia ou a Islândia". Boa Portugal!
Quem tem razão é o Bruno Aleixo, o cão de Coimbra: A Grécia vai fechar. A Islândia já fechou, por isso é que agora há menos bacalhau!

publicado às 11:43

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