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Publicado no Facebook no Sábado, 7 de Fevereiro de 2009 às 16:58 | Editar nota | Apagar
O artigo do Pedro Mexia sobre o livro "O Segredo". Título: "Nietzsche para estúpidos". Muito bom.
Ninguém melhor do que o Pedro Mexia descreveu tão bem aquilo que eu sinto por estes livros (e por estas ideias que se propagam para aí) que prometem a felicidade através da meditação.
Passo a citar, vale a pena, é brilhante:
"Tudo começa com esta ideia simples: os nossos pensamentos são magnéticos e vogam no universo: «você tem o poder suficiente no seu corpo, o poder potencial, de iluminar a cidade toda durante quase uma semana». Estão a ver o presidente da EDP? É mais poder ainda".
"«À solta no universo, os pensamentos atraem ondas magnéticas que circulam na mesma frequência. O que é preciso é estarmos focados, meditarmos, elevarmos o nosso espírito, usar os interruptores secretos [parece mentira mas é verdade, o Segredo diz que temos uns interruptores secretos, quais máquinas de lavar!]que nos permitem ser um íman que transforma pensamentos em realidade». Ou, como diz a autora do livro, «dar ordens ao universo»".
Segundo o livro, "basta evitarmos os pensamentos negativos e actuarmos como se os nossos desejos já tivessem sido concretizados. O importante é a confiança. «Começe já a gritar para o Universo: A Vida é tão fácil! A vida é Boa! Todas as coisas boas vêm até mim!»", diz o Pedro Mexia: "convém é que gritem antes das dez da noite, ou arranjas chatices com os condóminos"
Segundo O Segredo, absolutamente tudo está ao nosso alcance. Por exemplo a única razão para as pessoas não terem dinheiro suficiente é o facto de estarem a "Bloquear" o dinheiro com o pensamento (Parece incrível mas estamos a falar do livro mais vendido)
"Ninguém engorda por causa da comida ou do metabolismo, mas sim «porque tem pensamentos gordos» E não contente com esta estupidez [sou eu que digo, não o Pedro Mexia] ainda acrescenta o autor do livro «atingir o peso perfeito é o mesmo do que fazer uma encomenda e depois o peso chega até nós»". Diz o PM: "uma espécie de IKEA de nádegas e estômagos".
"O Segredo pretende ser uma espécie de legado de milénios de sabedoria (...) de Buda aos actuais especialistas em motivação, criadores de programa de potencial humano, visionários, especialistas em «metafísica e marketing» [what ever that means, digo eu]".
"«Você é Deus num corpo físico... é um ser cósmico, é todo poderoso, é toda a sabedoria, toda a inteligência, é a perfeição...» parecem extractos da autobiografia do Prof. Carrilho"
"«Comece por ter pensamentos felizes e será feliz. A felicidade é um estado de espírito sentido (?). Ponha o dedo no botão [que supostamente temos em nós] SER FELIZ. Carregue agora nele e mantenha o dedo premido, aconteça o que acontecer à sua volta»". E enquanto apodrecem de dedo no botão, a autora [australiana Rhonda Byrne que escreve sobre o segredo de Bob Proctor] ganha mais uns cobres escrevendo Nietzsche para estúpidos.
Carta de Helena Vieira da Silva a Mário Cesariny
Querido Mário, se uma palavra minha o ajudasse, mandava-lhe mil. Mas lá bem posso lutar com o seu demónio. Saio vencida. Se o Mário me ouvisse... para quê procurar assim o sofrimento? Ele existe por toda a parte, neste nosso pobre corpo doente que vai morrendo dia a dia. Não lhe chega esse? Não lhe chega a sua imaginação, precisa de provas? Ai de nós e da nossa loucura sempre presente, sempre a lutarmos com ela até à morte. Não é fácil viver, mesmo quando parecemos equilibrados.
28 de Janeiro de 1965
Ulrich versus Santos Ferreira e o Prémio de controlo por 10%.... Cimpor à CGD e BPI à Santoro
Sobre a aquisição das acções da Cimpor à Investifino (Manuel Fino) pelo banco do Estado, a um preço que está, hoje, mais de 50% acima do seu valor em bolsa.
Fernando Ulrich arrasou o negócio da venda de dez por cento da Cimpor à CGD, que foi feito com um prémio de 25 por cento. O presidente do BPI disse ter "muita curiosidade" em saber como é que "ao se comprar um activo acima do valor de mercado se consegue "reduzir as imparidades". E que iria mesmo perguntar aos auditores do BPI, que são os mesmos da CGD, como funciona este mecanismo. É pelo menos divertida esta ironia de Ulrich.
Mas a verdade é que "esta" CGD estava entre a espada e a parede, pois herdou um presente envenenado: um empréstimo para comprar acções BCP, e não só, em que apenas as acções eram a garantia: Três euros e meio depois, e a CGD tinha uma imparidade de 80 milhões de euros para abater aos resultados e ao capital. Evidentemente esta administração da Caixa fez o que pode. Mas não podia fazer muito. Mas o que teve mesmo graça foi ver o administrador Bandeira Vieira e Faria de Oliveira (que é uma pessoa tão agradável) a defenderem que é normal prémios de 20% a 35% em aquisições semelhantes. Mas esta comparação está inquinada, pois os prémios pagam-se pelo controlo. Claro que Ulrich não deixou passar em branco e lá lembrou que o controlo aqui resumia-se a menos de 10% do capital. Entretanto outra pessoa sentiu as farpas de Ulrich (e porque será)... e acusou o toque. Na reunião de quadros do BCP, Carlos Santos Ferreira respondeu a Ulrich...ainda que subtilmente quando disse que tinha vendido 10% do BPI aos angolanos da Santoro e, fez questão de reforçar, com um prémio de 35%. Ora prémios por 10% estão quase a ser um hábito.
Vítor Constâncio é uma personagem curiosa. Tem medo de se comprometer com o ridículo e não pára de cair nele.Vejamos: o Banco Portugal publica uma portaria em que passa o capital dos bancos para o mínimo recomendado de 8%. Os bancos, habituados a seguir à risca o regulador, desdobram-se em imaginação para elevar o capital. Mas eis senão quando, Constâncio chama lá alguns jornalistas e deixa cair que já não faz sentido os 8% de tier 1, porque afinal é "pró-cíclico".blá, blá, blá.
O objectivo era que os jornais passassem informalmente o recado do Governador. Mas os jornalistas, embevecidos pelo convite respeitam tanto o off, que nem escrevem sobre o assunto... Então, tudo na mesma.
Entretanto, o BES anuncia um aumento de capital de 1,2 mil milhões. E por causa disso tem até de diminuir previamente o valor nominal das acções (reduzir o capital para depois o aumentar). A seguir BCP anuncia uma emissão "até" 1,2 mil milhões de dívida perpétua. O BPI vende activos.
O BCP começa a olhar para os anéis que vai vender: Banco na Turquia, Estados Unidos.
Eis que chega a vez da CGD, o banco do Estado, que teve e tem tantos compromissos que lhe consomem tanto do capital que lhe vem do Governo. O banco do Estado lá apresenta um tier 1 de 7% e nada de medidas para chegar aos 8%, os tais da portaria do Banco de Portugal.
Porquê? Porque o Ex.mo Senhor Governador telefonou à administração da CGD para dizer: "estão a ver aquela portaria que publicamos em Novembro, olhem não se preocupem. É só uma recomendação... não cumpram!".E a CGD anuncia isto, em resposta numa conferência de imprensa.
Mas afinal, Constâncio emite um comunciado em que diz que tudo se mantém: O que é, é só uma recomendação. Uma recomendação que ele recomenda não cumprir. Mas não a todos. Só aos bancos que ele bem entender, e a esses dá uma telefonadela.
Amanhã há um problema que se cruza com o capital mínimo e lá vai ele dizer que recomendou os 8% de tier 1.... e que não sabia de nada dos bancos com pouco capital.
Ainda me lembro de Constâncio ter apelado ao Governo para ajudar o Banco Privado Português, porque tinha sido vítima da revisão do rating da Moodys. Ora a Moodys limitava-se a dizer que o capital do BPP não reflectia o real risco do banco. Coisa que hoje o Banco de Portugal não só confirmou, como essa conclusão o levou a inibir a velha administração do BPP.
Vítor Constâncio é uma personagem curiosa. Parece dotado de uma tentação diplomática que o arrasta sempre para as meias medidas, as meias supervisões, as meias recomendações."Não me comprometa", é uma ideia que está sempre nas entrelinhas de tudo o que diz, e do que não diz.