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"Quem és tu que queres julgar,
com vista que só alcança um palmo,
coisas que estão a mil milhas ?"
"Paraíso"
Dante Alighieri
Daqui onde estou, i.e., no meu universo confinado às linhas de horizonte, que marcam e acentuam a nossa realidade, sou tão somente o que quero ou (porventura) me deixam ser. Porque, mesmo que não tenha que ter medo das palavras ou até, ser for necessário, de pedir desculpas é importante reconhecer que deste quarto com vista para a rua estou longe de ver o mundo – é certo que ninguém humanamente o está, ou seja, de ver a totalidade! Criticar, apontar o dedo, como se fossemos donos da verdade, é demasiado fácil. De uma (pseudo) verdade que (naturalmente) confinada à área do quarto e aos “curtos horizontes” que a vista possibilita, chega-se facilmente à conclusão que é mais fácil apontar o dedo, pôr a cabeça debaixo da areia, do que enfrentar a realidade de caras. Porque, e mesmo que entenda que o recurso à violência deva ser sempre empregue em última instância, admito que o “real” tem justificações que são incontornáveis. Após ter lido o testemunho destes dois guardas prisionais reconheço, também, que é mais fácil atirar a primeira pedra do que “pegar os touros pelos cornos”. Se não for assim, ou seja, se estivermos exclusivamente confinados aos nossos quartos com vista para a rua, passaremos a vida a assobiar para o lado!
Townscape (1967) - Vista da Cidade
José Paulo Moreira da Fonseca (b 1922)
As vistas, por mais bonitas que sejam, são sempre curtas.