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Logo a seguir ao 25 de Abril, uma dessas editoras da moda de então, a Futura, publicou um livro de um universitário norte-americano precisamente intitulado “Democracia”. Recordo a obra de Carl Cohen na medida em que ele, a páginas tantas, faz referência a um conceito particularmente interessante, justo e eficaz: o da “amplitude democrática”.
Ora, sabemos que o conceito puro de democracia é ineficaz, utópico, e até indesejável. Pois em nome desse ideal foram feitas as maiores barbaridades da história. É preciso recordar que foi em nome desse ideal que foi estruturado idealmente o comunismo. Todos sabemos no que isso deu! No entanto, partir do pressuposto “ocidentalizante”, i.e., teoricamente racionalista, de que, à cabeça, a democracia é impossível nos países árabes é frustrante.
A Índia é, para todos os efeitos, a democracia mais populosa do mundo e, no entanto, serão eles, nos nossos padrões, verdadeiramente democráticos? Que raio de democracia é esta em que, não raras vezes, a transição é feita matando-se como aconteceu com Indira Gandhi, em 1984, e, mais tarde, com o seu filho Rajiv Gandhi, em 1991? Será assim verdadeiramente impossível uma democracia “arábica”?
Acontece, todavia, que a questão é diversa. Em bom rigor, de per si, nem é política. Porque, de facto a democracia é uma “questão interior” – “A democracia”, escreve Lacroix, é “uma aventura – a aventura do pensamento no interior da sociedade humana”, pelo que tinha razão Alain quando afirmou que “uma democracia sem espírito não pode durar muito tempo”! E, por outro lado, tal como no cristianismo é fundada no amor: “A democracia é de essência evangélica e tem por motor o amor” [Bergson]. Ou seja, “o democrata reconhece-se no respeito escrupuloso pelo pensamento de outrem. E é precisamente este respeito que o anti-democrata recusa e teme!”