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Todos os amores perdidos, todas as emoções passadas nesta música que ecoou por Paris pela voz de Celine Dion. Uma música linda de Edith Piaf. Até arrepia. Isto sim emociona-me.
Ai Weiwei diz que a democracia não existe, que os protestos não servem para nada e Proteger a natureza “é uma ideia falha, e pífia também” (tendo a concordar).
"O ambiente não precisa de ser protegido", disse o artista nos 33 anos do Público.
De facto o ser humano emite dióxido de carbono e precisa de oxigénio. As plantas têm a função contrária. Precisam de dióxido de carbono e libertam oxigénio. Talvez plantar mais resulte mais que requisitos ESG.
Claro que plástico a mais impressiona, quando os povos não são educados a reciclar, mas de resto o ambiente não precisa de ser protegido do Homem porque o Homem faz partida natureza.
“Temos realmente democracia? Penso que não. Não antes, não agora, talvez não no futuro.” Foi esta a frase que Ai Weiwei deixou ao Público.
Ao contrário dos jornalistas do Público concordo com o artista.
Em primeiro lugar quero dizer que estamos perante um livro em que os excertos publicados nos jornais são muito próximos de ler o livro. Salvaguardando isso, o que me apraz dizer é que o livro tem um lado corajoso quer de Luís Rosa (autor) quer de Carlos Costa (protagonista e entrevistado). Mas também tem um lado "de ajuste de contas", se calhar justo, mas não deixa de ser um "ajuste de contas" e não há nobreza nisso.
Carlos Costa, ex-Governador do Banco de Portugal, teve coragem quando afastou Ricardo Salgado numa altura em que era quase um pecado capital e, sabe-se agora, enfrentou Isabel dos Santos quando era a "filha de um presidente de um país amigo de Portugal".
Sim, coragem. Mas também ajuste de contas ao Governo que o tentou destronar e que acabou por o substituir pelo ministro das finanças "inimigo", Mário Centeno, atual Governador.
Há outras considerações a fazer sobre o conteúdo do livro e sobre a audiência do evento de lançamento. A primeira coisa que me chama a atenção é que Luís Marques Mendes, que fez a apresentação do livro, revela que "entidades e pessoas em Bruxelas, em articulação com o Ministério das Finanças de Portugal, antes da decisão da resolução que cabe ao Banco de Portugal, afirmavam abertamente quem devia ser o comprador do Banif, sem concurso, sem consulta ao mercado, mas com nome devidamente explicitado", referindo-se ao Santander Totta. A informação é relevante (mesmo tendo Marques Mendes, enquanto advogado, tido como cliente um concorrente do Santander na corrida ao Banif quando ainda se queria vender o banco sem entrar num processo de resolução).
"Uma coisa é certa os três principais intervenientes na história, devidamente identificados no livro, devem explicações às autoridades e ao País", disse Marques Mendes sem nomear. Referia-se a Vítor Constâncio, a Mário Centeno e a Daniele Nouy que desempenhou o cargo de Presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu de 1 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2018. Nomes citados no livro de Luís Rosa. O desafio de Marques Mendes, comentador, não vai ter continuidade por parte do Ministério Público, mas no entanto colheu algum mediatismo.
Há outra coisa que salta à vista. É que não é uma boa notícia para o atual Governador, o facto de um livro, que põe Mário Centeno no olho do tsunami, ter um prefácio de Christine Lagarde (atual presidente do BCE e como tal "chefe" de Centeno). Lagarde elogia fortemente Carlos Costa. O que por exclusão de partes significa que subscreve as críticas a Centeno. Bizarro no mínimo.
Depois surge a revelação da carta de António Costa, então recém primeiro-ministro, a 14 de dezembro de 2015 ao então presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, e ao presidente do BCE, Mario Draghi, e que, na opinião de Carlos Costa precipitou a decisão do Banco Central Europeu (BCE) que levou à queda do Banif.
Segundo Carlos Costa, esta carta escrita à revelia do ex-governador trouxe preocupações à Europa e terá sido muito prejudicial à banca portuguesa, em especial ao Banif. O livro “O Governador”, diz que na carta António Costa dizia, por exemplo, que o Banif entrara em “processo de pré-resolução”.
A tese do livro diz que a carta motivou um “agravamento muito significativo da desconfiança das autoridades europeias”, e por isso “afetou seguramente o acompanhamento dos bancos portugueses pelo Mecanismo Único de Supervisão, tanto em termos de confiança como de requisitos de capital e requisitos qualitativos de supervisão”. Perfeitamente compreensível.
Ora, na sequência da revelação desta carta, Jorge Tomé, ex- CEO do Banif, diz ao jornalista Luís Rosa no livro que "temos de considerar a hipótese de que a informação privilegiada veiculada pela TVI tenha nascido do Governo que escreveu essa carta. É uma hipótese perfeitamente plausível, há quase uma relação causa-efeito”.
Sobre isto, eu, enquanto experiente jornalista de banca, posso dizer que acho muito estranho que a "fonte" tenha sido o Governo ou "apenas" o Governo. O que um jornalista de banca faria se recebesse uma informação de que um banco vai ser alvo de uma medida de resolução que viesse de um político ou de um Governo, era imediatamente tentar ter respaldo do Banco de Portugal, entidade a quem cabe decidir a Resolução de um banco. Portanto das duas uma, ou o jornalista que escreveu que "o Banif ia fechar na segunda feira seguinte" era mau, ou então a confirmação em off veio do regulador. O que seria altamente perverso em face das revelações.
Não se sabe até hoje quem escreveu a notícia (tenho apenas suspeitas), nem quem foi a fonte dessa notícia que foi apontada como trigger da resolução por causa da corrida aos depósitos.
Eu como jornalista da área lembro-me que corria há vários dias/meses que o Banif não ia escapar a uma resolução, que era um problema do Governo com Bruxelas. Mas daí a ter suporte para avançar com a notícia vai um mundo. Por isso estranhei o rodapé da TVI sobre o tema na altura.
A inteligência está mais perto de ser uma condição de sobrevivência do que uma condição de felicidade.
Toda a vida ouvi falar de Adriano Moreira. Em Cascais, na minha adolescência, era o "filho do polícia" que tinha casado bem e tinha mérito. Na sociedade dominada ainda pelos preconceitos sociais, havia uma tolerância, que raiava a quase admiração pelo político que nos anos 80 tinha sido presidente do CDS.
Mais tarde e já no meio cosmopolita de Lisboa e do jornalismo (que se tornou a minha vida) era um senhor da política. Um homem de direita que atravessou o Estado Novo e soube adaptar-se aos novos tempos e às novas ideologias.
Luís Montenegro, líder do PSD, espelhou bem o que era Adriano Moreira, histórico militante e dirigente do CDS, "para a sociedade portuguesa contemporânea Adriano Moreira foi um ‘grand seigneur’ da academia e da política portuguesa. Deixa-nos um legado riquíssimo de pensamento sobre valores e princípios sociais”.
Dúvida houvesse e bastaria ver a forma tolerante como lidou com o facto de ter uma filha que tem bandeiras políticas diametralmente opostas aos valores sempre preconizou.
Como bem descreve Isabel Patrício no Jornal Económico:
Nascido a 6 de setembro de 1922, em Grijó, Macedo de Cavaleiros, Adriano Moreira teve um percurso dividido entre dois regimes. Nos anos 60 do século passado, foi ministro do Ultramar do Estado Novo. Já em democracia, entre 1986 e 1988, foi presidente do CDS-PP, além de ter sido deputado à Assembleia da República em 1980, vice-presidente da Assembleia da República entre 1991 e 1995, e conselheiro do Estado, eleito pelo Parlamento, entre 2015 e 2019.
Em maior detalhe, Adriano Moreira concluiu o curso de Direito na Faculdade de Direito de Lisboa em 1944, tendo começado a sua carreira como jurista no Arquivo Geral do Registo Criminal e Policial. Mais tarde, juntou-se a Teófilo Carvalho dos Santos, com quem ajudou à defesa da família do general José Marques Godinho. Por causa disso, Adriano Moreira acabaria preso, no Aljube, onde é companheiro de cela de Mário Soares, preso também por motivos políticos.
Com o passar dos anos, aproximar-se-ia, no entanto, do Estado Novo, com o estudo das teses lusotropicalistas, e acabaria por ser, primeiro, subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1959, e, depois, ministro do Ultramar entre 1961 e 1963, período que coincidiu com o início da Guerra Colonial em Angola. Aliás, foi nesse cargo que assinou uma portaria que criaria o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.
Após o 25 de Abril, aderiu ao CDS-PP, que chegou a presidir. Foi deputado, vice-presidente da Assembleia da República e conselheiro do Estado.
A par da vida política, foi professor, mas também ensaísta. Recebeu várias condecorações, como a grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique, cavaleiro grã-cruz da Ordem de África.
No mês passado, completou 100 anos, altura em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou que Adriano Moreira tinha entrado para a História de Portugal “ao unir o nosso passado e ao futuro”.