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Um mundo à parte e o futuro do Projecto Europeu

por António Canavarro, em 29.06.16

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Encontro ao acaso esta capa do Charlie Hebdo, semanário humorístico e satírico francês, que nesta edição parodia o referendo à manutenção dos britânicos na União Europeia, e a sua consequente saída: “Les anglais enfin maîtres chez eux”. O que traduzido literalmente poderá ser lido como “finalmente os ingleses donos de sua casa”. De facto, Sublinhando a piada e a ironia do traço do cartoonista, não há nada de novo nisto. Destaca-se, todavia, o perigo de contágio.

De facto, este desfecho, que só peca por tardio, era demasiado evidente! E a reacção de Junker, em pelo Parlamento Europeu, foi óbvia e corajosa: “É a última vez que aplaudem aqui. Até certo ponto, estou muito surpreendido que aqui estejam. Estão a lutar pela saída da União Europeia. O povo britânico votou a favor da saída. Porque estão aqui?"

Nada disto é uma novidade. Os ingleses, sobretudo os ingleses, sempre formaram um grupo à parte, com um estatuto diferente dos demais estados-membros. Com efeito, e à boleia das sábias de um amigo inglês, por aqui há muito radicado, “a Grã-Bretanha nunca foi um apoiante total do projecto europeu”. Não aderiu à moeda única, não ingressou no espaço schengen, etc. etc.
Portanto, e não obstante a maioria dos votantes anti-europeus terem mais de 65 anos, de serem reformados e membros da “velha guarda”, isto é, de serem conservadores tipo, o resultado é positivo. Inclusive terá o efeito acelerador em algo que de há muito tempo parece preso “por-fios”: a estrutura do Reino Unido. Ontem, numa sessão parlamentar, um deputado escocês “pôs os pontos nos is” ao afirmar que a solução era a independência da Escócia. Processo que, de igual modo, e não tardará muito, irá resultar na unificação das “Irlandas”Há por certo, e volto a este tema, um risco de contágio. O qual a meu ver não tem qualquer sentido. Serve tão somente a que grupos nacionalistas e populistas procurem ganhar terreno... Os riscos da não-Europa são, efectivamente, demasiadamente elevados, que só servem os interesses de russos e chineses. Do outro lado do atlântico, pese embora desconhecer as ideias de Trump a este respeito: os americanos farão tudo para que a Europa se mantenha coesa, já que o principio é o mesmo que os levou a criar o “Plano Marshall”, ou seja, de sermos (continuar a ser) um tampão ás ameaças russas e, fruto dos novos tempos, das chinesas.

Em conclusão, com os avanços e os recuos que a história da construção europeia já nos habituou, não temos outro caminho. Os custos da não-Europa é um regresso ao passado, que não obstante de terem sido estruturantes, de terem sido “a fabrica” que nos moldou, foram dramáticos, e que devem ser irrepetíveis.

O processo da construção histórica é lento. O da construção europeia não é excepção. A chegada a bom-porto deste ideal, que é o meu, não é para amanhã. Passa pela a existência de uma sólida identidade europeia, essencialmente cultural, o que implica, desde logo, a desconfiguração política da Europa como, desde há séculos, a entendemos. Este ideal significa que a Europa só terá uma verdadeira existência quando os actuais estados derem lugar às nações que os constituem, quando os bascos forem bascos, os catalães forem catalães, os sicilianos forem sicilianos, os boémios forem boémios e por ai fora. Os Portugueses e os irlandeses, porque sempre o fomos, serão ancoras e alicerces desta Europa ideal. Este “novo mundo” é claramente federalista. Haveria – como acontece nos Estados Unidos da América – um governo central que gere o essencial da união, e depois com os seus poderes limitados haveria lugar aos governos regionais.

Um pouco antes da sua morte, a Fundação Francisco Manuel dos Santos editou “Identidade Cultural Europeia” um ensaio de Vasco Graça Moura, para quem o ideal deste sonho unificador só seria possível dentro de 200 anos. É um tempo distante, que não será para nós. Bem sei que não, porém estou convencido que, vindo quando vier, será seguramente melhor do que os tempos que as circunstancias nos fazem ou se preferirem, obrigam a viver.

Haja vontade!

 

Nota final: este texto é uma reflexão sobre os resultados do referendo da passada semana, que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia. No entanto, e mesmo não sendo versado em constitucionalismo – e recorde-se os britânicos não se regem por uma, pois dão valor ao costume – sei que o resultado do referendo não tem valor de lei, portanto terão que ser os “comuns” - na  Câmara Baixa ou parlamento – a transforma-lo em lei. Não me parece que estes vão contra a vontade da maioria dos votantes, pelo que o "Brexit" é uma realidade e que terá as consequências supra mencionadas.

Num outro tempo, e porque creio ser matéria com interesse suficiente, irei apresentar o que penso sobre a saída dos britânicos e os efeitos por estas bandas, o que levou inclusive a Coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e em caso de sanções contra o nosso país, a ameaçar Bruxelas de uma consulta popular aos portugueses. É mais uma atitude populista e caricata desta senhora, sem pés nem cabeças, e que, aliás, nem colhe a aceitação dos demais membros da geringonça.

Seja como for o lugar de Portugal neste contexto merece que seja analisado, o que farei logo que me for possível.

publicado às 15:13

O Governo fez o brilharete do costume. Muito consenso, muitas soluções conciliadoras. Muitas fotografias de acordos. Mas espremido o que é o acordo? Até 3 de Agosto vão os lesados desatar a pôr acções em tribunal a torto e a direito, umas absolutamente mais justas e outras mais disparatadas, não importa, desde que haja um papel a dizer que a acção entrou em tribunal,  pois essas acções em tribunal contra o universo GES/BES serve para vender o hipotético crédito ao Fundo de Resolução. O que vai acontecer é que a grande maioria das acções judiciais não vão ser ganhas pelos lesados, logo aquilo que o Fundo de Resolução, leia-se os bancos, vão comprar aos lesados é palha. Os bancos, que António Costa tanto quer proteger vão levar com esta pesada factura quando as acções se desenrolarem nos tribunais. 

De quanto é que estamos a falar?

Esta é a solução para os mais de dois mil clientes lesados do BES que investiram 432 milhões de euros em papel comercial do GES e que passará pela criação de um veículo que adiantará dinheiro aos lesados em troca dos direitos judiciais de quem já avançou para os tribunais. Em causa está uma espécie de “fundo de indemnização” que poderá ascender a valores da ordem dos 250 milhões de euros e que será financiado por duas vias: por empréstimos, nomeadamente do Fundo de Garantia de Depósitos, e por uma compensação através do Fundo de Resolução que será paga ao longo de 5 a 10 anos.

Quanto ao modo como será financiado este fundo de indemnizações, a estratégia passa por o dinheiro vir do Fundo de Resolução bancário, que depois irá receber o empréstimo concedido em função das compensações que venham a ser decididas na Justiça. Em caso limite, poderão não ser suficientes para amortizar o empréstimo ao Fundo de Resolução que, nesse caso, teria de assumir essa perda. No entanto, há outra questão a resolver, uma vez que de momento o Fundo de Resolução não terá dinheiro para financiar o fundo de indemnizações. O cenário em cima da mesa é esse dinheiro vir do Fundo de Garantia de Depósitos. No entanto, segundo a proposta, enquanto o pagamento pelo veículo do empréstimo do Fundo de Resolução é contingente, o empréstimo do Fundo de Garantia de Depósito tem de ser obrigatoriamente reembolsado pelo Fundo de Resolução, receba este o dinheiro do veículo ou não.

O Fundo de Resolução bancário tem como participantes os principais bancos a operar em Portugal, que vão ser no fim quem vai  ficar com as perdas.

 

publicado às 03:19

Brexit

por Maria Teixeira Alves, em 29.06.16

publicado às 03:18

Será só uma coincidência?

por António Canavarro, em 28.06.16

 

Reparem bem na imagem. De um lado, está o resultado do referendo que saldou na saída do Reino Unido da União Europeia, e,  do outro, a disseminação, em 1992, da doença das vacas loucas, nas terras de Sua Majestade. Não sei se é coincidência, mas que explica muita coisa, lá isso explica!

 
 

publicado às 12:36

Anti-Brexit (brilhante), by John Oliver

por Maria Teixeira Alves, em 26.06.16

Não evitou a (lamentável) vitória do Brexit, mas proporciona boa disposição.

Sobre a vitória do Brexit recomendo ler aqui

publicado às 03:07

Prime-Minister: - Os Negócios Estrangeiros não Pró-Europeus?

- Sim e não, se me permite a expressão. São pró-europeus porque na verdade são anti-europeus. O funcionalismo estava unido no desejo de fazer tudo. para que o mercado comum não resultasse. Por isso entrámos. A Inglaterra tem há 500 anos a mesma política externa., a de criar uma Europa desunida. Por isso nos aliámos aos holandeses contra os espanhóis, aos alemães contra os franceses. Aos franceses contra os alemães e italianos. Dividir para reinar. Porquê mudar se resultou tão bem?

PM: - Isso é história antiga!

- É política corrente. Para destruir tudo, tínhamos que entrar para lá.Tentámos destruir de fora mas não resultou. Agora que estamos dentro podemos fazer daquilo uma confusão. Pôr alemães contra franceses. Franceses contra italianos. Italianos contra os holandeses.Os Negócios Estrangeiros estão contentíssimos. É como nos velhos tempos.

PM: - Mas estamos empenhados no ideal europeu. Porque outra razão apoiaríamos um aumento de adesões?

- Pelas mesmas razões. É como na ONU, quantos mais houver, mais zaragatas haverá, mais inútil se torna.

P.M.: - Que cinismo incrível!

- Nós chamamos-lhe diplomacia.

 

publicado às 02:44

Uma questão de sangue e de independência.

por António Canavarro, em 26.06.16

Foto de António Lino Canavarro.

 

No meu sangue corre um pouco de sangue escocês. De facto, uma das minhas antepassadas era escocesa e casou-se, em Chaves, com um militar, um general, Canavarro: Pedro António Machado Pinto de Sousa Canavarro, 1º barão de Arcossó

Ora, com a saída do Reino Unido da União Europeia, e porque a Escócia depende de Bruxelas, o fantasma independentista está ai. O resultado deste referendo, um erro crasso do primeiro-ministro inglês, é uma verdadeira caixa de Pandora. Por um lado, prova que os velhos ingleses - que a maioria votou pela saída da UE - e em nome do seu conservadorismo, estão nas tintas para o futuro (viabilidade) do seu país. E, por outro, é a oportunidade que faltava para que a Escócia se torne num Estado Nação de pleno direito, como se tornou na ponte que faltava para a "reunificação" irlandesa.

O futuro é uma incógnita mas seguramente que vai ser divertido de seguir "os dias seguintes"!

 
 

publicado às 01:44

Há que ver o lado bom da coisa, o Harrods está mais barato

por Maria Teixeira Alves, em 24.06.16

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 Libra cai para o valor mais baixo desde 1985

publicado às 15:05

Bye bye... and now?

por António Canavarro, em 24.06.16

 Como será agora?

publicado às 07:51

Um chá e (sobretudo) o post-Brexit...

por António Canavarro, em 23.06.16

Acabo de conversar com uma amiga galesa que reside na zona das Caldas da Rainha, e que é naturalmente pela permanência dos britânicos na União Europeia. E, o que eles tem nas suas mãos, i.e, o resultado do referendo de hoje, é duplamente importante.

É importante para a União Europeia e é sobretudo importante para eles. Caso a sondagem seja fiável, e tenha lugar a vitória do "Remain" ("Permanecer") com cerca de 52% dos sufrágios, o futuro dos ilhéus é sombrio.

A Sylvia argumenta: “António, com o país dividido ao meio, não será isto o prenuncio de uma guerra civil?” Sim, ela tem razão. O resultado é assustador. Porém, e a meu ver, um ponto de vista com o qual ela concordou absolutamente, este resultado só interessa aos ingleses. Este é um problema de Londres, já que os demais estados que compõe o Reino Unido – e com a Escócia à cabeça – pretendem a manutenção, e num outro patamar a sua própria independência, levando ao fim desta união secular. Seja como for, mesmo não sendo bruxo nem adivinho, não é difícil imaginar como “serão os dias de amanhã” no reino de Sua Majestade. Estes serão seguramente interessantes de serem seguidos. Diria entusiasticamente seguidos. Até porque uma provável secessão é um incentivo a que outros estados europeus sigam as mesma peugadas, ou seja, levando porventura a algo que há muito defendo: uma "Europa de Cidadãos"!

publicado às 16:18

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