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Talvez verdade mais esquecida de sempre

por Maria Teixeira Alves, em 28.04.16

Tudo (absolutamente tudo) o que fazemos, tem influência nos outros.

publicado às 00:10

Tarda mas não demora

por António Canavarro, em 25.04.16

 Presidente da República anuncia condecoração póstuma a Salgueiro Maia

Estive lá, e com naturalidade aplaudi. Porém, e conhecendo a personalidade de Fernando Salgueiro Maia - das mais simples que conheci - ser ou não condecorado não era a questão. Ele não foi um herói acidental, o derrube do antigo regime, e a implantação de um modelo verdadeiramente democrático - foi também um dos garantes do 25 de Novembro - era somente uma missão, que cumpriu sem nada pedir em troca!

publicado às 19:13

Purple Rain

por António Canavarro, em 25.04.16

Há formas e formas de se homenagear alguém, e a forma como Adam Levive, dos Maroon 5, canta e toca "Purple Rain", que aqui recordo, é simplesmente divinal.

Como não tive oportunidade de lamentar a morte deste grande senhor da pop, deixo a versão deste fabuloso hit.

publicado às 01:13

A nova lei materializada pelo Decreto-Lei n.º 20/2016 publicado ontem, dia 20 de Abril, sobre as desblindagens de votos, segundo o qual, a partir de 1 de Julho e até ao fim do ano, os bancos que tiverem os votos blindados têm de convocar uma Assembleia Geral (AG) para deliberar a manutenção ou revogação desses limites de voto é uma lei tão condicionada, mas tão condicionada, que o resultado é o seguinte:

1- É só para bancos (e só há dois com votos blindados)

2- Dá um enorme poder aos administradores de bancos, porque tem esta minudência (escandalosa a meu ver): «a deliberação sobre a manutenção ou revogação desses limites [de voto], quando proposta pelo órgão de administração, não está sujeita a quaisquer limites à detenção ou ao exercício de direitos de voto, nem a quaisquer requisitos de quórum ou maioria agravados relativamente aos legais. Logo, quando não é proposta pelo órgão de administração está sujeita a quaisquer limites à detenção e ao exercício de direitos de voto, assim como a quaisquer requisitos de quórum ou maioria agravados relativamente aos legais.

3- Favorece os accionistas que se anteciparem à convocatória, se o objectivo for manter a blindagem.

4- Favorece o BCP porque basta que a proposta seja remetida por um accionista para aumentar as probabilidades de a manutenção dos limites de voto.

5- Pretende favorecer o CaixaBank porque permite que a administração do BPI proponha o fim de blindagem de votos e nesse caso o CaixaBank volta a alteração de estatutos com 44,1% dos votos, e ainda para a aprovação basta que 66% dos votos expressos seja favorável

6- Cria o sério risco de a Santoro de Isabel dos Santos se antecipar à convocatória e nesse caso, reparem nesta pérola, a probablidade de a blindagem cair no BPI é praticamente nula. Pois se for um accionista a propôr a desblindagem o CaixaBank só pode votar com 20% de votos e a maioria necessária para alterar os estatutos é de 75%.

Uma pérola esta lei, uma pérola!

Mas quem é que se lembrou de criar condições que só se aplicam quando a proposta é feita pela administração? Que advogados estes! 

 

publicado às 03:50

O algodão não engana

por António Canavarro, em 21.04.16

 

Não sei se o algodão se pode enganar. Pouco importa. Quem não se engana, e consequentemente não nos engana é o Partido Comunista Português. É trigo limpo. Podemos criticar o estar ideológico dos comunistas, mas também nada poderemos fazer. Eles são assim, e por isso – mesmo que nos pareça ser uma afronta – é com naturalidade que eles tem duvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia, e ao longo da sua vida enquanto organização política tenham feito os mais diversos "autos de fé".

O PCP é um partido em contra ciclo já que são a única organização verdadeiramente comunista existente no velho mundo ocidental, i.e., sobrevivente à queda do Muro de Berlim. E a única coisa que ainda os faz sobreviver é o sindicalismo. A CGTP é a sua bengala!

No actual cenário da esquerda em Portugal, o PCP viu o seu espaço de acção limitado com o sucesso do Bloco de Esquerda. Os resultados das últimas eleições, tanto legislativas, como presidenciais, são esclarecedores. E, portanto, eles vêem-se obrigados a serem o que sempre foram. Um partido conservador.

Neste sentido a notícia que nos informa que eles são contra a mudança de nome do Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania, proposta pelo partido de Catarina Martins, é, por um lado, natural, e, por outro, uma golfada de ar fresco. Até porque um não comunista, como eu, subscreve as palavras de Jorge Machado:"É uma matéria claramente não prioritária", e, principalmente "não é uma questão de género mas de gramática".

 

publicado às 13:08

Fotografia do Público

Não deixo de me indignar com esta notícia:

Marcelo Rebelo de Sousa admite que lei foi retida à espera de acordo entre BPI e Isabel dos Santos. Mas então o Presidente da República tem uma lei para promulgar e não promulga para ajudar a empresária angolana? Adiaram-na por um mês, para que entretanto Isabel dos Santos vendesse uma posição de maior valor (porque assim que a blindagem cair os 20% da Isabel dos Santos valem mesmo 20%, não servem para muito)? Isto é legitimo? 

“Retivemos a lei à espera que houvesse acordo”, disse Marcelo, considerando que a opção encontrada foi a “possível”, não a desejável. 

“É com pena que eu verifico que depois de haver um esforço por parte do Governo e do Presidente da República” de adiar a decisão durante um mês para que ambas as partes pudessem chegar a um acordo “isso não foi possível”, lamentou Marcelo.

E isto tudo com a cumplicidade do Primeiro-Ministro?

Promulga agora? Como quem diz, não te portaste bem Isabelinha, lançamos a bomba atómica.

Mas isto é normal?

Se o Presidente da República tem uma lei para promulgar, promulga-a, ou não. Agora isto de arranjar aqui uma artimanha para forçar a negociações, parece-me surrealista. Espero que a Quadratura do Círculo, não deixe passar em branco.

E para acabar em beleza ainda diz: "esta legislação tem, ainda assim, uma vantagem, que é a de só entrar em vigor no dia 1 de Julho deste ano", salientou o chefe de Estado, acrescentando que "ainda dá um tempo" que pode ser aproveitado para "haver uma solução".

Mas porque carga de água há-de o CaixaBank aceitar um acordo com Isabel dos Santos se tem o caminho livre para dominar o BPI e deixar a empresária angolana agarrada a 20% de um banco que será quase 70% dos espanhóis, com os votos em pleno?

Mas isto é algum jogo de xadrez?

O que vai fazer agora Marcelo promulgar uma lei que revoga a anterior que acaba de promulgar, só para dar uma mãozinha a Isabel dos Santos? Vai pressionar Carlos Costa a dar idoneidade aos administradores angolanos do BIC Portugal para criar condições para um acordo?

E isto tudo em aliança com o primeiro-ministro com quem funciona em perfeita sintonia, ao nível de um Dupond e Dupont, ou de um Senhor Feliz, Senhor Contente (Diga à gente, diga à gente como vai este país!)?

publicado às 23:50

A guerra fria entre Portugal e Angola

por Maria Teixeira Alves, em 18.04.16

Há muito que se sente, mas ninguém se atreve a assumir.

É tão grande a vontade da elite Angolana conquistar a Europa, como parece ser a vontade da Europa de afastar Angola do poder económico europeu.

Isabel dos Santos é a guerreira de Angola. Não aceita de ânimo leve que não reconheçam Angola como equiparada à Europa em supervisão e legislação. 

Mas a Europa é muito forte unida e nessa medida é imbatível.

O que se passa no BPI é só a expressão dessa guerra fria. 

Contemos a história recente: Angola tinha imposto uma regra lá que obrigou o BFA, tradicionalmente 100% do BPI, a entregar uma parte a sócios angolanos. Surge Isabel dos Santos com a Unitel para ficar com 49,9% do BFA.

Uma coisa leva à outra e a Santoro entra como sócia do BPI em Lisboa.

Isabel dos Santos começou por entrar "a bem" no BPI quando, com a crise financeira pós-Lehman Brother, o brasileiro Itaú quis saltar fora e a empresária angolana fica com 18,58%. 

Isabel dos Santos que já dominava outras empresas portuguesas (NOS, por exemplo) entrava com chave de ouro na Europa.

Mas em Angola a parceria de Isabel dos Santos com a Sonae é rompida,  e em vez do lançamento dos hipermercados Continente em Angola, é lançada uma marca sua de hipermercados. Começa aí a mancha no seu estado de graça em Portugal.

A quebra brutal do preço do petróleo numa economia excessivamente dependente dele, deita Angola  a uma crise económica como há muito não se via. 

No inicio do mês de Dezembro de 2014, no rescaldo do caso GES em Portugal, a supervisão única europeia, exercida pelo Banco Central Europeu exclui Angola da lista de territórios com uma regulamentação e supervisão financeiras equivalentes às dos países da União Europeia. Até aí, os investimentos dos bancos nacionais em Angola tinham um risco igual aos da Alemanha, depois disso o risco passou a ponderar a 100% no rácio de capital dos bancos. A exposição dos bancos a Angola é medida tanto pelas participações accionistas em bancos como pela carteira de dívida soberana angolana que o banco detém. Este foi um duro golpe para a actividade do BPI pois tem por imposição do BCE de reduzir a sua exposição aos grandes riscos de Angola, e uma facada para o orgulho magoado angolano.   Esta decisão da Europa foi conhecida quatro meses depois de a exposição a Angola ter sido uma das razões para o Banco Espírito Santo ter sido alvo de uma medida de resolução por parte do Banco de Portugal.

Talvez seja apenas coincidência temporal com o caso BESA, onde sob a liderança do banqueiro da família Madaleno, o banco vê-se a braços com o desaparecimento de dinheiro.

Ontem, depois do turbilhão no BPI, eis que o Expresso anuncia que a Procuradoria Geral da República de Angola reabriu a investigação aos acontecimentos que levaram à queda do Banco Espírito Santo de Angola (BESA). As autoridade judiciais querem saber o que levou à criação de um buraco de quatro mil milhões de dólares na instituição e estão a pedir novas informações, estando a ser “ajudadas” por autoridades judiciais portuguesas.

Desde que Bruxelas excluiu Angola do estatuto que dava aos seus bancos o mesmo risco que a qualquer país europeu, que Isabel dos Santos tem sido especialmente dura e intransigente em tudo o que seja Europa, com quem tem uma relação de amor/ódio.

Quando o CaixaBank lançou a primeira OPA sobre o BPI, na tentativa de  recapitalizar o BPI para ir ao Novo Banco Isabel dos Santos revelou-se: Opôs-se com todas as forças. Primeiro porque a OPA era barata demais, dizia (eu sempre achei que era um falso argumento) e queria antes uma fusão com o BCP em que sem gastar dinheiro ficava a dominar o BCP+BPI através da troca de acções e com a aliança à Sonangol. Essa operação servia-lhe pois retiraria o BPI da esfera CaixaBank e ainda se livraria de um incómodo presidente chamado Fernando Ulrich. O peso subtil de Ulrich é uma coisa com que Isabel dos Santos não contava. As elites portuguesas ainda têm força, mesmo que às vezes essa força não se veja ou seja propositadamente ignorada. Há uma subtil luta de classes que subsiste no nosso país e resiste ao tempo e a que Angola é particularmente sensível, até porque é um modelo que foi sempre reproduzido em Angola. Portugal por onde passa deixa a sua marca, para o bem ou para o mal.

Isabel dos Santos chumba a desblindagem de votos, a OPA do CaixaBank cai e o Novo Banco escapa às mãos do BPI. Mas o problema dos grandes riscos continua lá. 

Num ano não houve progressos negociais. Pelo contrário a tensão entre ambos aumentou. Mas o BCE não dorme e começa a perceber o entrave que pode ser para a gestão de um banco um investidor como Isabel dos Santos. Há que admitir que o BCE está subtilmente a tentar criar bancos grandes europeus e a restringir ao máximo o peso de accionistas de países que não consideram com risco semelhante ao Europeu. Angola não vai ter a vida facilitada no sector bancário europeu. o BCP poderá ser o próximo alvo de atenção do BCE, pois que lá tem um accionista relevante, a Sonangal. Mais um aumento de capital e a Sonangol fica à beira de diluir a sua posição. O dinheiro deixou de abundar em Angola.

O BPI apresenta mais tarde um spin-off dos activos angolanos em que o BFA sai debaixo do BPI (onde este tem 50,1%) e passa para a posse directa dos seus accionistas. Não mudava nada e ajudava ao BPI a cumprir os grandes riscos. Mas Isabel dos Santos volta a arranjar uma alternativa que sabe ser impossível de aceitar e com esse pretexto chumba o spin-off. Parece estar a tourear o BCE como castigo por ter votado os bancos angolanos à categoria de alto risco.

O prazo dado para o BCE para o BPI aproxima-se do fim e as negociações a sério começam, com advogados e um embaixador político do Governo. A primeira tentativa de chegar a acordo falha. Mas ainda há tempo. Tenta-se novo acordo. Paralelamente o Governo, o BCE e a CMVM preparam um plano B. Já todos perceberam que o mood de Isabel dos Santos é instável e que pode mudar de ideias em cima do acontecimento. O plano B é alterar a lei de modo a que as blindagens de votos deixem de ter eficácia, e a blindagem de votos cair na pendência de uma Oferta. Se tudo correr para o torto, acciona-se o plano B e em 24 horas é lançada uma OPA.

No último dia do prazo do BCE, o CaixaBank e a Santoro chegam a acordo. Mas não anunciam qual é. Parece este segredo indicar um mau prenuncio. Faltam autorizações dos reguladores. 

Entretanto Isabel dos Santos ainda tem o BIC Portugal, um banco pequeno, dominado pelo seu amigo Fernando Teles. O mandato da administração de Mira Amaral chega ao fim numa altura crítica das relações com Angola. Os orgãos sociais são aprovados em AG, mas nunca mais são aprovados pelo Banco de Portugal. Estranho.

A uma semana de serem anunciados os detalhes do acordo, zás, Isabel dos Santos altera as condições do acordo. Fica tudo parvo. No fundo já toda a gente temia que isso acontecesse sem o admitir. Ficámos a saber que a meio da semana Isabel dos Santos foi chamada ao Banco de Portugal para lhe dizer que não iria ser dada idoneidade nem a Jaime Pereira, nem a Fernando Teles. Isabel dos Santos faz depender o acordo com o BPI da aprovação dos seus homens de confiança no BIC Portugal. Mas o Banco de Portugal não é em Luanda. O Banco de Portugal de Carlos Costa não cede (nem a Ricardo Salgado cedeu e era bem mais difícil). O capricho cumpriu-se então. Isabel dos Santos desfaz o acordo, mais uma vez com uma exigência que leva ao rompimento do acordo

Isabel dos Santos queria era estar na banca em Portugal, ao ponto de querer cotar o BFA em Lisboa. 

O resultado deste braço de ferro pode bem ser a nacionalização (lá arranjarão um pretexto mais profissional) do BFA. Mas perdido por 100, perdido por mil. No que não podes ser feliz não te demores ó BPI.

O Estado avança com a alternativa, com o plano B. Amanhã há a OPA do CaixaBank. Tudo a postos para o controlo do banco liderado por Fernando Ulrich.

Uma acção um voto e o CaixaBank passa a dominar o BPI. Pode ser que até o spin-off dos activos angolanos passe. Mas a guerra fria, que será perdida para Isabel dos Santos e para Angola, ainda vai continuar. Há um board para escolher no BIC, e os motivos da recusa da idoneidade aos dois gestores angolanos são uma procissão que ainda vai no adro.

Publicado originalmente no Corta-Fitas

publicado às 16:32

E como está a vossa imaginação?

por António Canavarro, em 17.04.16

 

legos.jpgHá uma expressão na nossa língua que retrata bem os tempos que vivemos, e que fruto das circunstância me assusta verdadeiramente: o futuro do nosso mundo, e, na qualidade de pai, o futuro dos nossos filhos: Quem não tem cão, caça com o gato!

 

Nos próximos dias – foi inaugurada ontem – decorre a primeira edição do Santarém Fan Event - for LEGO Lovers e que terminará a 25 de Abril. É um exposição de criações feitas em legos, onde há de tudo, até uma justíssima homenagem ao homem que partindo de Santarém, ajudou à deposição do regime anterior, Salgueiro Maia. Há também monumentos de todos os cantos do mundo, incluindo a fachada do Palácio das Lezírias, actual edifício da Câmara Municipal de Santarém. E, quiçá, ainda veremos um dia por cá, tal como acontecerá brevemente,no Meo Arena, uma réplica do Titanic, o célebre barco que se afundou há 104 anos!

 

Estas construções, na sua maioria são obras de pessoas que, durante horas-a-fio, as construíram, e a quem tiro o chapéu. Porém, não é aqui que reside a questão central da minha preocupação. É a sociedade “ready made” em que vivemos. É a sociedade – recordando um clássico do rock português – do “mastiga e deita fora”!

 

A economia, de há anos a esta parte, está pensada em modos diferentes. Hoje quando compramos um qualquer electrodoméstico ou um lego sabemos, desde logo, que são descartáveis. As máquinas são pensadas com tempos de vida útil bastante curtos, que nem merecem ser reparados. Um arranjo de uma máquina – e sem garantia – é demasiado caro, ou seja, são fabricadas de forma a serem trocadas por outras. Ora esta ideia é, noutros moldes bem diferentes, é levada à letra pela Lego,  ou seja, que inunda o mercado com uma quantidade de criações diversas que impedem os jovens – como no nosso tempo de as repensar, de construírem algo de diferente. De serem imaginativos!

 

Na minha juventude a lego vendia peças, e cabia-nos a tarefa de, com elas, criar alguma coisa. Éramos imaginativos. Também é verdade que não tínhamos outras solicitações. Não haviam Ipads, computadores e a televisão resumia-se a quatro canais. Tal como os jovens africanos e outros – regra geral pobres – que para se divertirem a jogar futebol, tinham que criar, com trapos, as suas bolas, estamos felizes a criar os nossos universos, a sermos imaginativos. Caso quiséssemos divertir éramos obrigados a imaginar, a encontrar soluções.

 

Em suma, caçávamos com gatos.

 

Hoje, e para mal geral, vivemos formatados. Vivemos à mercê do que o mercado nos impinge. O que é grave e não augura nada de bom!

publicado às 23:30

Faço minhas as indignações de António Lobo Xavier

por Maria Teixeira Alves, em 15.04.16

Partilho completamente das indignações de António Lobo Xavier proferidas na Quadratura do Círculo:

"Diogo Lacerda Machado, o grande amigo do primeiro ministro que é mandado a negociações. Não é possível numa democracia ter representantes de um primeiro-ministro que não estejam integrados nalgum modo no aparelho do Estado. É possivel ter advogados. Agora representantes mandatários, através de um mandato não escrito e não formalizado, que vivem de um poder de facto, que vivem de uma influência de facto que é expressamente invocada como tendo por base uma grande amizade, é uma coisa que não se pode passar numa democracia. Só não falo mais alto é porque há aqui uma certa ingenuidade. A explicação de que era melhor como estava porque era mais barato para o Estado, é confrangedora. 

Reparem que Pedro Passos Coelho teve um consultor para as privatizações, que foi António Borges. Mas esse nunca ninguém se lembrou de dizer que foi escolhido com base na amizade e confiança, e nunca ninguém se lembrou de o mandatar sem contrato, e mesmo assim, o uso desses instrumentos pelo Governo que depois saem fora de qualquer controle, são inaceitáveis".

Eu acrescentaria que Diogo Lacerda Machado deve ser o único homem na história que assina contrato quando os trabalhos já acabaram. Agora que a TAP já é 50% do Estado, que os Lesados do BES já assinaram memorandos de entendimento com reguladores, e que a Isabel dos Santos chegou a acordo com o CaixaBank no BPI, é que lhe assinam um contrato? Agora o que vai o senhor fazer? Ir à procura de negócios privados para dar uso ao contrato? Vai disputar terreno na venda do Novo Banco com Sérgio Monteiro?

Esta então é de gritos:

Diz António Lobo Xavier: "O presidente do sindicato dos impostos, pressionado pelos jornalistas para explicar porque que é que tinham sido apanhados uma série de funcionários do fisco em corrupção e fraudes, disse: 'Bom, é preciso ver, a austeridade imposta pelo anterior governo depois tem estas consequências' [adorei o tom]. E ninguém se indigna".

Concordo, claro! Faço minha a indignação do António Lobo Xavier. E eu sou jornalista.

 

 

publicado às 00:04

Remédio santo

por António Canavarro, em 13.04.16

Ando eu ás voltas dos livros, tira pó daqui, tira aranha dali, que veio parar às mãos um pequeno livro de Baudelaire, lido há muito tempo, e, como eu gosto, todo sublinhado. A florescente como mandam as minhas regras.

Em "Da essência do riso" o escritor francês alvitra sobre o riso, e em particular na sua relação com as artes plásticas, i.e., com os caricaturistas de então.

Da obra, e para enquadramento deste post, cito: "O Homem sábio só ri tremendo. (...) Receia o riso, assim como receia os espectáculos mundanos, a concupiscência. Detém-se à beira do riso como à beira da tentação. Existe portanto (...) uma certa contradição secreta entre o seu carácter de homem sábio e o carácter primordial do riso". E acrescenta: "Faço notar (...) que o Homem sábio por excelência, o Verbo incarnado, nunca se riu. Aos olhos Daquele que tudo sabe e tudo pode, o cómico existe. E no entanto o Verbo Incarnado conheceu a cólera, e mesmo as lágrimas"

Não sei se sou sábio, o que tampouco me importa. Sei, todavia, reconhecer a importância higiénica do riso. Até porque, para tremer, conhecer a cólera e chorar basta acordar e "entrar no real". Ora como não quero que isso aconteça, e porque, tal como o José Manuel Fernandes, não gosto que me tomem por parvo, o melhor é mesmo tremer de rir, até que a barriga doa! É um remédio santo!

 

publicado às 16:12

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