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Saudades

por Maria Teixeira Alves, em 08.04.10
Saudades do não vivido, são as que nos marcam

publicado às 10:16

Bem aventurança

por Maria Teixeira Alves, em 08.04.10
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus

publicado às 10:13

Bom Humor ....

por Maria Teixeira Alves, em 07.04.10

publicado às 18:22

A opinião de um agnóstico inteligente, JMF

por Maria Teixeira Alves, em 05.04.10
Ora aí está um artigo inteligente sobre Bento XVI:

Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados “escândalos de pedofilia” na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal [Público] – no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses -, estamos ou não perante “A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos”.
Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, “a destruição da religião comportou a destruição da razão”, a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso “não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie”. Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.
Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais – um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador – tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.
Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária – a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas – como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado – até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.

Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes “escândalos” é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.
Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto – Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela – de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições, pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de “tolerância zero”.
Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões, há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem “protectores” nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos – um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres haviam atingido maiores proporções – para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.
Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como “um crime” e não apenas como “um pecado”, ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.
De facto – e este aspecto é muito importante – a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma “Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual” que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales “optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados”.

Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos “murmúrios da opinião dominante”, e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bimilenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.
Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, “para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução”.
Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de “eros”, o termo grego para êxtase sexual, e de “ágape”, a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma “relação crispada” entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do “eros”, mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.
Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.

Público, 2 de Abril de 2010

José Manuel Fernandes

publicado às 18:48

Cimpor

por Maria Teixeira Alves, em 02.04.10
Não posso dissertar muito sobre este tema, porque escrevo sobre ele no Diário Económico. Mas quando soube que Armando Vara podia ser escolhido pelo BCP para o representar no 'Board' da Cimpor, apeteceu-me perguntar: «Quantos Kilómetros vai ganhar?»

publicado às 07:44

Pedro Mexia dixit

por Maria Teixeira Alves, em 02.04.10
Noutra sua crónica na revista Ler deste mês (Março) Pedro Mexia, a propósito de uma sátira ao mau livro de um tal de Joaquim Quintino Aires "O Amor não se aprende na escola), diz "Há uma certa sofisticação em enganar pessoas com tautologias. Mas faz parte desta nova psicologia ad hoc e ad lib". Gostei muito desta verdade simples.
Para quem não sabe, o livro de que fala Mexia é uma espécie de manual de instruções do sexo e do amor (ambos separados para análise pelo o psicoterapeuta Quintino), que serve bem a donas de casa que vejam as manhãs da TVI, leiam a Flash e a TV Mais.

publicado às 07:36

Sakharov de Portimão (Pedro Mexia)

por Maria Teixeira Alves, em 02.04.10

Transcrevo aqui as partes essenciais da divertida e sábia crónica de Pedro Mexia na revista Ler de Fevereiro:

"O Sakharov de Portimão"

Faço parte de um pequeno grupo que se reúne às quintas-feiras numa cave em Algés e que não possui qualquer opinião sobre os processos judiciais em curso. Sabemos que se trata de uma actividade socialmente minoritária e condenada, e por isso juntámos-nos em segredo, como os primeiros cristãos.
Cá fora toda a gente opina. Toda a gentes sabe. Não há cafés, quiosque ou autocarro onde subsistam dúvidas sobre a culpabilidade de autarcas, banqueiros, pedófilos. Portugal tornou-se numa república da opinião. Não da opinião publicada , mas da opinião de rua. Não é o comentador televisivo que dita a opinião geral, são o taxista e a porteira.
No caso do desaparecimento de uma menina inglesa no Algarve, a opinião das porteiras dos taxas flutuou. Primeiro, toda a simpatia foi para os pais da criança, que atravessavam o maior sofrimento de que uma pessoa pode experimentar: depois, vieram as dúvidas. Finalmente a onda virou, e os MacCann, tratados com desprezo como os «ingleses», já eram culpados, de desleixo certamente, de ocultação provavelmente e talvez de homicidio da própria filha.
Houve duas pessoas que contribuiram para esta mudança. Dois ex-inspectores, Gonçalo Amaral e Francisco Moita Flores. Estes membros do CSI Portimão e do CSI Santarém desmultiplicaram-se em aparições públicas sugerindo que os culpados eram os ingleses. Não só o casal, mas a imprensa inglesa, os advogados ingleses, os jornais ingleses e os políticos ingleses. Como dizia a versão original do nosso hino: contras os bretões marchar, marchar.
(...)
Segundo Amaral há fortes indícios de que os MaCann eram culpados, e se o juíz arquivou o caso, isso não significa nada. (...) os pais da criança não gostaram e interpuseram uma providência cautelar que impedisse a circulação de ambos os panfletos. É a essa proibição que se refer o opus 2 de Amaral: "a Mordaça Inglesa". O livro é uma espécie de revisitação do 'Ultimatum' . Os bretões são poderosos e asquerosos, nós vergamo-nos à sua influência, e isso é inaceitável. Amaral que foi comunista durante anos até se filiar nos laranjinhas, diz nos que os MacCann pertencem às classes «privilegiadas», donde se conclui que talvez devessem ser julgados por um júri popular composto por porteiras e taxistas.
Depois, Gonçalo Amaral queixa-se da «censura». Conta-nos «onde estava no 25 de Abril», faz uma história abreviada da liberdade de expressão, clama pelo «direito à indignação» e diz que foi «amordaçado». Por momentos parece uma autobiografia de Manuel Alegre. E compara-se a Sakhrov, um homem que diga-se de passagem, se antecipou umas décadas à perspicácia de Amaral acerca da bondade do comunismo.
O terceiro ponto é o mais estapafúrdio. Segundo Amaral não havia razões para que o livro fosse retirado de circulação porque constituía apenas uma «opinião» (além disso, acrescenta, a providência cautelar é um instituto burguês). A tese de que os pais fizeram desaparecer ou ocultaram o cadáver da sua filha é apenas isso, uma opinião: «Uma opinião não é um insulto, uma afronta ultrajante. É, isso sim, um modo de ver as coisas que, para ser livremente julgado não tem que estar correcto. E em regra não está. De outro modo, todos os homens estariam unidos nas suas opiniões.» Tudo, para Amaral, são opiniões: as teses dele, a sentença do juiz, o próprio Código Penal. Mas será que alguém pode fazer acusações tão graves a coberto do direito de opinião? Gonçalo Amaral, o Shakarov de Portimão responde: «e a minha tese pode estar correcta ou incorrecta? Quem sabe?» E se estiver incorrecta? Gonçalo Amaral diz: bem, nesse caso «lamento». Ah, então está bem.


A inteligência é um posto.

publicado às 06:25

Jogar xadrez com a morte

por Maria Teixeira Alves, em 01.04.10

Não sou a melhor pessoa para escrever sobre Ingmar Bergman, porque, por falha minha, não consigo amar os seus filmes. Mas amo os conceitos desses filmes, e a arte neles:
Em sétimo selo, (Det Sjunde Inseglet, 1956), a morte é um inteligente estratega que desafia a vida a evitá-la.
A parábola do cavaleiro medieval que está a jogar xadrez com a morte e está a perder, remete-nos para a vitória da pulsão das forças destruitivas.
Sétimo selo, é uma metáfora à visão profética do Apóstolo João no livro bíblico de Revelação ou Apocalipse (Bíblia, Antigo Testamento, muito importante para os cristãos protestantes). O que representam os 7 selos do Apocalipse? Profetizam as características básicas dos 7 períodos que a igreja viveria desde sua fundação até a segunda vinda de Jesus, descrita na última parte do sexto selo. Os quatro cavaleiros do Apocalipse representam os quatro períodos da igreja cristã e os quatro primeiros eventos do "fim do mundo". O primeiro seria um grande líder que conquistaria grande poder e autoridade (motivo pelo qual muitos o identificam como o AntiCristo ou o próprio Cristo), o segundo significaria uma "guerra mundial" entre o homem representado pelo primeiro cavaleiro e aqueles que não aceitariam a sua dominação, o terceiro seria a "fome" ou racionamento de alimentos, causada por estes se tornarem raros com a guerra, e o quarto seria uma grande crise de mortalidade, como uma consequência dos cavaleiros anteriores. Os quatro cavaleiros representariam os quatro primeiros eventos do "fim do mundo". O ultimo cavaleiro seria a "morte espiritual", causada pela propagação de falsas doutrinas e religiões que substituiriam o verdadeiro cristianismo (muitos considerando que tal período se iniciaria com a Reforma protestante e seguiria até o "fim dos tempos").
No livro do Apocalipse de João, o sétimo selo revela sete anjos que receberão sete trombetas que, quando sopradas, uma por vez, iniciarão cataclismas que prenunciarão a derrocada da humanidade.

publicado às 04:02

Vou aqui publicar um bom artigo de um homem ideológicamente distante de mim, Manuel Maria Carrilho (sobre Freud e Keynes)

A cupidez
por MANUEL MARIA CARRILHO

Os estereótipos são aquelas coisas que, com as intenções mais diversas, toda a gente diz sem saber bem o que está a dizer. São eles que frequentemente reduzem personagens extraordinárias a uma simples fórmula, que se cola a um aspecto, a uma faceta da sua vida.
Com Keynes, a fórmula que ficou foi a da associação do seu nome ao intervencionismo do Estado. Não me surpreendeu por isso o espanto de tantos, quando há semanas aqui falei da fortíssima ligação de Keynes com a cultura, tanto no plano da criação como da sua difusão, e que o levou a fundar e dirigir o Arts Council - em acumulação, note-se, com a direcção do Bank of England!
Hoje vou talvez espantar um pouco mais esses leitores, com um outro aspecto da obra de Keynes: o da sua proximidade com a psicanálise e as ideias do seu criador, Sigmund Freud, sobre as quais ele chegou mesmo a escrever.
Em 1930, um ano depois do colapso bolsista, Freud e Keynes editaram dois textos singulares: Freud publica o Mal-estar na Cultura, e Keynes lança As Perspectivas Económicas para os Nossos Netos. São reflexões sobre a evolução da sociedade, num momento que era então de generalizada perplexidade.
Freud expõe a sua visão sombria sobre a evolução do mundo, alicerçada na ideia de que a civilização contém no seu próprio interior, a par com a força (a pulsão, como ele a designa) de vida que lhe deu forma, uma outra força, de natureza autodestruidora, a pulsão de morte. Para Freud, a luta entre elas é, na história da humanidade, tão constante como inconsciente. A novidade é que o resultado dessa luta se tornou cada vez mais favorável às forças autodestrutivas, obsessivamente orientadas para o domínio da natureza e para a acumulação de bens.
A visão que Keynes expõe então era mais optimista do que a de Freud, sobretudo porque a sua opção foi olhar para o longo prazo (para o tempo dos seus netos), apostando que a humanidade conseguiria resolver, como disse, o "problema económico". A utopia keynesiana antecipava então, no prazo de cer- ca de um século, o fim das lutas de classes e dos conflitos entre nações e esboçava um mundo em que a humanidade se libertaria da escassez e das preocupações materiais des-de que se dotasse da "organização adequada" - os economistas, dizia, poderiam mesmo vir a não ter mais relevância do que os dentistas…
Mas, apesar do contraste que decorre destas visões - e que, no essencial, definem uma polarização que continua a alimentar muitas controvérsias actuais -, Freud e Keynes partilharam várias ideias. Uma dessas convergências encontra-se no modo como pensaram o dinheiro, a moeda, na sua ligação com a psicologia individual e a natureza do mercado.
É que a moeda não é para Keynes, ao contrário do que pensavam e pensam muitos economistas, um instrumento neutro destinado a facilitar a troca. Não, a moeda é uma invenção que remete para a dinâmica das pulsões mais inconscientes da humanidade, que interfere com a ansiedade humana (acalmando-a ou intensificando-a), dá um valor ao tempo, despersonaliza as relações sociais, torna a dívida abstracta e permite - como disse G. Simmel - que os homens possam deixar de se olhar nos olhos uns dos outros.
E é na cupidez, no amor irracional do dinheiro, que Keynes vê o motor do capitalismo. E como Freud tinha recorrido a Thanatos para explicar a pulsão de autodestruição, Keynes recorre a Midas para explicar o modo como o dinheiro se pode tornar, de intermediário da troca, na finalidade última da actividade humana: "Auri sacra fames!…"
Na sua Teoria Geral, Keynes fará referência explícita a Freud (e a outros psicanalistas, como Ferenczi e Jones) para sublinhar a pertinência das suas análises sobre a relação do dinheiro com certos episódios do desenvolvimento infantil, uma das mais controversas teses do criador da psicanálise. E mais claro ainda é o modo como subscreve a hipótese freudiana da ligação da civilização à sublimação das pulsões humanas mais básicas. Quadro em que a cupidez lhe aparece como um catalisador fundamental da libido individual, seja no sentido da abstinência e da poupança, seja no da fruição e do consumo.
Claro que estas opções, mais do que individuais, são eminentemente colectivas - e também aqui Keynes se revela um bom leitor de Freud: se a influência social se faz sobretudo por contágio, a imitação sobrepõe-se à racionalidade e o mercado corre amiúde o risco de se enganar. J. Stiglitz não diz hoje outra coisa, quando fala da finança contemporânea.

publicado às 03:57

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