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Nunca digas que sou o que fui!

por Maria Teixeira Alves, em 27.03.09

O mais espectacular em Joe Berardo é a capacidade de passar de vilão a polícia num ápice. Depois de anos a especular com títulos cotados - era conhecido como o raider. Comprava 10% das empresas chateava até à exaustão nas AG para valorizar a sua participação juntos dos maioritários. Depois de anos a beneficiar das abébias que a lei permitia. Anos à boleia dos Caldeiras desta vida. Dono de inúmeras offshores e de uma Fundação pessoal que lhe dá benefícios fiscais vem criticar George Soros por "economizar impostos".
Vejam só esta notícia: "Joe Berardo culpa os executivos bancários e os operadores do mercado de derivados pela actual crise financeira dizendo que eles deveriam estar todos presos . O empresário aponta também o dedo ao investidor George Soros pelo falta de controlo no mercado financeiro". É caso para dizer, nunca digas que sou o que fui!
O empresário, cujas principais perdas sofridas foram com as acções do BCP, lamenta também os prejuízos com acções do Citigroup e do Royal Bank of Sctland que tinha comprado “para os netos” e diz que se sentiu enganado ao assistir à sucessão de prejuízos anunciados pelas instituições. “Eles deveriam estar todos presos. Levaram o mundo à bancarrota”, disse citado pela Valor, referindo-se aos executivos de bancos e operadores do mercado de derivados. Outro culpado pela crise apontado por Berardo é o milionário George Soros. O empresário madeirense diz que o investidor húngaro é o “grande culpado” pela falta de controlo no mercado financeiro depois do bem sucedido ataque especulativo à libra esterlina, em 1992, que mudou a estrutura do sistema financeiro.“O Soros dá uma patacas para caridade e ninguém percebe que ele quer economizar impostos”, disse Berardo, qual arauto do altruísmo, e da ética fiscal!
Nunca digas que sou o que fui!

publicado às 08:19

As memórias procriam,

por Maria Teixeira Alves, em 24.03.09
Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar. Hibernam, por assim dizer nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidas. Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar. Porque as memórias procriam como se fosse pessoas vivas.

Agustina Bessa-Luís, Antes do Degelo

publicado às 09:39

Dia Mundial da Poesia

por Maria Teixeira Alves, em 21.03.09

Adeus

de Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! Era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! e eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos, no tempo em que o teu corpo era um aquário, no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor..., já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

publicado às 15:44

Madonna vista pela Agustina

por Maria Teixeira Alves, em 12.03.09

Perdição

Madonna é mais do que um título, é uma expedição às regiões da infecundidade. Longe de estarmos perante um espectáculo sensual e excitante. Há nele um acelerar da perdição, por isso parece tão empolgante, tão desvairado. A atroz fusão num destino geral produz nas multidões um desejo incomensurável: o de não procriar mais, o desencadear um desafio ao género humano - o ódio à espécie.

 

Não vamos equivocar-nos. A tremenda apoteose de Madonna, o seu triunfo no palco, a perigosidade do ruído por ela provocado, não estão na linha da sexualidade primitiva. Pode ela despir-se em público e receber como troféu milhares de calcinhas e outras roupas interiores. Isto não significa declaração dos instintos vitais.
A partir de certo grau de solidão as multidões tornam-se rebeldes ao amor. Esses jovens, aparentemente arrebatados por Madonna e pelas suas liberdades cénicas, estão mais perto de renegar a mulher do que de a desejar. Madonna não é um estímulo sexual, é o seu contrário, uma justificação para o desprezo que os homens preferem ao amor.

 

 

P.S. Isto diz muito sobre o tipo de fãs

publicado às 09:49

Como povo tivemos pouca sorte. A inteligência não faz parte do ADN do nosso povo... Não temos nos antepassados nenhuns um Kant, nem um Kierkgaard, nem um Freud... Somos o país da nostalgia e melancolia, e esses ainda são os sentimentos mais nobres que temos. Mesmo assim cada vez mais escassos nesta cultura do centro comercial... do fascínio do consumo como alternativa ao amor...

Continuamos reféns dos instintos básicos, no caso, em regra espontaneamente maus... porque há a tentação do mal, mas também há a tentação do bem. Há quem tenha o bem por instinto ...

Temos hoje a agravante de ter perdido as benesses do provincianismo sem ganharmos a vantagens do cosmopolitismo.
Perdemos a solidariedade de vizinhança, os sítios familiares, a entreajuda e o sentido de pertença, em troca não ganhámos, nem o profissionalismo, nem o valor do mérito, nem a auto-estima que nos tornaria arrojados.
Importámos as ervas daninhas da moderna Europa, a tolerância hipócrita, a ilusão do individualismo, a soberba do narcisismo. Somos narcisistas em todos os momentos da nossa vida. Os outros passaram de cúmplices a espelhos de nós. Woody Allen, dizia ironicamente "nasci judeu mas já me converti ao narcisismo".

Em Portugal, por exemplo, a vida acaba aos 40 anos. Quem até aí não encontrou o seu lugar, não o encontra mais. Não há em Portugal exemplos de advogados, engenheiros, bancários que decidam aos 40, 50 mudar radicalmente de vida, ser actores de teatro, ser guionistas, ser artistas, escritores ... mesmo que alguém o quisesse, seria provavelmente impossível. Um dia tentei encontrar um curso de guionista, um curso a sério. Mas em Portugal só encontrei workshops caros e desinteressantes. Já em Espanha encontrava-se guionismo por todo o lado, nas universidades espanholas. Cá nada. Eu que queria aprender a escrever guiões para cinema e para o teatro. Não encontrei nada. Mesmos os cursinhos curtos que andam para aí são dados com desânimo porque os professores (guionistas desempregados) sabem que aquilo que estão a dar não serve para nada.

Antes era pelo menos mais fácil cada um encontrar mais cedo seu lugar. As pessoas tinham o sentido do compromisso. Comprometiam-se umas com as outras, com os maridos, com as mulheres, com os amigos, com os filhos, com as tarefas. Hoje ninguém se compromete com nada... qualquer coisa tem a medida do deve e haver de benefícios para cada um. Vivemos num permanente estado de marketing. "O que é que eu ganho com isto" está sempre nas entrelinhas das conversas, mesmo nas mais íntimas, é por isso que os casamentos acabaram. Ninguém se divorcia porque se apaixonou por outra pessoa, as pessoas divorciam-se porque estão a perder na sociedade contratual. Porque estão a ser penalizados nas suas vontades, e nos seus caprichos. Por isso o "Não me comprometa" é a máxima do individualismo.

Depois em Portugal ser bom nalguma coisa é sempre um mau agoiro. Os portugueses desconfiam, pelo que nunca têm a coragem de legitimar o bom, ainda que tenham uma leve suspeita das qualidades do outro. O bom que nunca foi legitimado por instituições credíveis tem um difícil caminho pela frente. Instintivamente tenta-se obstruir o outro, abafá-lo, escondê-lo, aniquilá-lo antes que conquiste um lugar ao sol, que ofenda os que lá não conseguem chegar.
Por isso é que os portugueses mais importantes foram todos laureados fora de Portugal. Então aí, nessa altura, venera-se.

Voltando ao Medina Carreira que em entrevista ao Mário Crespo foi o mais cáustico possível:
O país está ao serviço de partidos políticos, partidos que usam as leis com o único objectivo de ganhar clientela, para perpetuar poderes individuais...
Isto não é um país, é uma brincadeira... não há solução. Não há mesmo, e Medina Carreira tem razão. Cavaco Silva também foi sincero, não tem soluções para esta crise.
Andamos a viver de tretas, de Magalhães, andamos a viver de aparências. Prometer criar 150 mil empregos, não é sério.
Um processo fiscal que demora 12 a 20 anos, não trás ninguém para investir em Portugal.
Não foram feitas verdadeiras reformas, na educação, na justiça... [em Portugal até a cultura é uma coisa de lobbys...]
Cada partido político é mais uma porta para abrir 30 lugares para entrarem pessoas... à espera de tachos.
Não há soluções...
Este Governo vai estar no banco dos réus daqui a umas dezenas de anos.
A nossa economia está ao mesmo nível de há cem anos. [O Gráfico de Medina Carreira prova ainda que o maior crescimento económico deu-se entre 1960 e 1970... no Estado Novo, portanto].
Diz Medina Carreira que esta democracia não cria soluções. Sugere o presidencialismo?!


Em Portugal os profetas da desgraça são sempre melhores videntes...

publicado às 17:59

THE END OF LOVE

por Maria Teixeira Alves, em 09.03.09








The end of love convoca esse indelével rasto que o não vivido deixa... Encontramo-nos com Pessoa, Beckett e Leonard Cohen.... o nome roubado ao acaso de uma música.



Trabalhar sobre as sobras, os restos, o que ficou de fora, estes, quase sempre os materiais do amor.







publicado às 17:28

...

por Maria Teixeira Alves, em 09.03.09


Someone stole my youth.... who did it?

publicado às 17:25

Simone Beauvoir

por Maria Teixeira Alves, em 06.03.09
É horrível assistir à agonia de uma esperança

publicado às 06:30

Woody dixit

por Maria Teixeira Alves, em 06.03.09
Numa entrevista ao Expresso, aqui há um par de anos, Woody Allen disse "cada pessoa é um fenómeno que nunca mais vai existir em lugar algum"

publicado às 06:27

Lá Fora

por Maria Teixeira Alves, em 06.03.09

Uma fotografia de Margarida Correia (que não é esta que está aqui ao lado, esta é minha), exposta no Museu da Electricidade, tem o seguinte texto:

"Acentua o destino histórico da fotografia como guardiã da memória ou guardiã de memórias, afinal como instrumento de uma ficção. A vocação narrativa das fotografias de família, os pequenos momentos que elas perpetuam, até que se percam os sentidos e as identidades dos que nela posam, é uma das suas características de trabalho".

publicado às 06:22

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